Mário Florentino
Há duas formas de fazer
política. Com ética ou sem ética. Há os políticos que colocam os seus próprios
interesses à frente do interesse público. Que agem sem ética nem moral. Que
mentem descaradamente para atingir os seus fins. Que manipulam, enganam os
eleitores, que se servem da política. Dizem uma coisa hoje e outra amanhã,
consoante o seu objetivo em cada momento. Usam esquemas de “baixa política”
para derrotar os seus adversários e para se manter no poder.
A outra forma de fazer
política é a oposta. Com ética, colocando o interesse público acima dos
interesses pessoais e dizendo a verdade aos eleitores. Sem corrupção nem
esquemas duvidosos. Sem abusos do poder. Com seriedade e transparência. É a
política como atividade nobre, de serviço público, de rigor e competência. São
as políticas públicas focadas no desenvolvimento do país e no médio e longo
prazo. No bem da geração seguinte e não no resultado das próximas eleições.
Muitos comentadores consideram
que a primeira forma de fazer política é a certa e a que compensa. Acham que é
com ela que se ganham eleições. Elogiam os políticos que a seguem. Por exemplo,
consideram o atual primeiro-ministro um “político genial” ou “o melhor da atual
geração”, e admiram a forma como afasta todos os potenciais adversários do seu
caminho (quem não se recorda da forma como substituiu Tó Zé Seguro da liderança
do seu partido?). E pensam, esses comentadores, que um político com essas
características é imbatível. Porque, consideram, quanto mais falso e
manipulador, maior será o seu sucesso eleitoral. A política é assim, e nada há
a fazer. Quem não for mentiroso e aldrabão, nunca terá sucesso, dizem.
E muitos eleitores também
pensam o mesmo. Talvez isso seja uma das explicações para as abstenções
elevadas. Dizem “os políticos são todos iguais”, ou “os portugueses têm os
políticos que merecem, porque também são corruptos como eles”.
Ora, as recentes eleições
autárquicas em Lisboa, mostram precisamente o contrário. Mostram que a primeira
forma de fazer política nem sempre é a vencedora.
Já nas eleições legislativas,
em 2011, e em 2015 (neste caso também contra todas as sondagens), o mesmo tinha
acontecido. A segunda forma de fazer política foi, nesses dois casos, premiada
pelos eleitores (não esquecer que o PS perdeu as eleições em 2015). Votaram na
verdade contra a mentira, na ética contra a falta dela.
O mesmo aconteceu em Lisboa, com a vitória da coligação “Novos Tempos” contra o Presidente da Câmara dos últimos seis anos. Não é necessário ser falso para ganhar eleições. Muitos lisboetas, na hora de colocar a cruzinha, terão avaliado e comparado os dois candidatos ao lugar. De um lado, estava Carlos Moedas, o “ministro da Troika”, dum governo que, enfrentando dificuldades, colocou sempre a verdade e o interesse nacional acima dos interesses partidários. Estava uma pessoa com carreira de prestígio, um gestor competente, um comissário europeu que foi elogiado por todos (incluindo pela esquerda e por Costa). E estava alguém que deixou um cargo profissional de luxo para se dedicar à causa pública, arriscando perder tudo.
Do outro lado, estava Fernando
Medina, com a sua arrogância. Envolvido em várias polémicas que não soube
justificar, desde o caso dos dados pessoais russos até ao mais recente caso da
presidente da Freguesia de Arroios, em que, confrontado com a pergunta sobre se
mantinha a confiança nela responde apenas: “sim” (quem sabe se com um simples
“não” tivesse conseguido os 2300 votos que lhe faltaram para ganhar?).
É, pois, a terceira vez, que a
seriedade e a ética compensam. Os eleitores premiaram quem se apresentou com
honestidade, competência e vontade de servir. E castigou quem lhe pareceu pouco
transparente, quem prometeu mundos e fundos que não pode cumprir, quem disse
hoje o contrário do que tinha dito ontem, quem lhe pareceu colocar sempre os
interesses pessoais à frente do interesse comum.
E ganhou Lisboa. Novos
tempos.
Fica BEM 👍
A “libertação”. Oitenta e uma
semanas depois de nos termos fechado em casa, tivemos finalmente a última fase
do chamado desconfinamento. Nos cafés, restaurantes, lojas, vive-se finalmente
um novo ambiente. De alegria. Nos dois restaurantes que ficam aqui mesmo em
frente à minha casa, dá gosto ver as pessoas felizes, os amigos a rirem, as
famílias a festejar o reencontro. Juntam-se as mesas e partilham-se histórias
por contar. Até nos empregados se sente o sorriso, ainda que escondido atrás
das máscaras. E a Baixa lisboeta voltou a encher-se de turistas. Há esperança de
que um dia tudo volte a ser como era em 2019.
Fica MAL 👎
A Justiça. João Rendeiro foi
condenado a mais de 16 anos de prisão, por vários crimes: burla qualificada,
fraude fiscal, abuso de confiança, branqueamento de capitais, falsidade
informática e falsificação de documentos. Num qualquer outro país da União
Europeia estaria preso. Mas teve a sorte de ter praticado este rol de crimes em
Portugal. Neste momento está em parte incerta (provavelmente numa ilha
paradisíaca que não tenha acordos de extradição com o nosso país), e é
procurado pela Europol e pela Interpol. Ri-se de nós e da nossa Justiça,
enquanto goza os milhões que "roubou". Parece que tinha dado vários
sinais de que estaria a preparar a fuga, mas todos perceberam isso menos o
Tribunal. E a ministra da Justiça, candidamente, veio admitir que tudo isto
causa algum desconforto social, mas que não se justifica mudar a Lei. É o
Portugal que temos e a Justiça a que temos direito.
Título e Texto: Mário
Florentino, Benfica, 4 de outubro de 2021
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Há muito tempo que eu venho dizendo: um dos nossos males é os "comentadores" avaliarem os políticos pela eficácia do seu jogo político e não pela eficácia das suas políticas.
ResponderExcluirBem dito!
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