É assustador ler a distopia de George Orwell,
como se ela profetizasse os tempos atuais: “Quem controla o passado, controla o
futuro; quem controla o presente, controla o passado”
Ana Paula Henkel
A pandemia jogou as máscaras dos tiranos no chão e expôs as guilhotinas dos jacobinos, afiadas como poucas vezes na história, sempre prontas para degolar todos aqueles que ousaram e ousam questionar a cartilha do “beautiful people”. Médicos, jornalistas, pais, professores, atletas profissionais, cidadãos comuns. Basta uma pergunta fora do roteiro aprovado pelas big pharmas e big techs e é ouvido o tilintar da navalha virtual. Mas não foi apenas o vírus chinês que uniu tiranos e jacobinos numa mesma página bizarra da história, a censura também esteve em nosso cotidiano nos últimos dois anos e no centro da última eleição presidencial norte-americana, talvez uma das eleições mais controversas da história do país. Além das muitas denúncias de fraude que sacudiram a eleição de 2020, a afiada navalha dos censores na liberdade de expressão, pilar sagrado na nação mais livre do planeta, golpeou sem piedade palavras, atos, ações e até pensamentos.
Talvez muitos brasileiros,
assim como milhões de norte-americanos, não souberam do famigerado e
escandaloso computador do filho de Joe Biden, Hunter Biden. Você faz parte
desse grupo? Não se sinta culpado, você não estava desatento. A velha imprensa
não apenas escondeu o caso, como, em conluio com um dos atuais fabricantes de
guilhotinas, as big techs, derrubou tuítes, links a matérias que te
levariam a entender as razões pelas quais Hunter Biden fazia parte de conselhos
do ramo energético em países como a Ucrânia, sem nenhuma credencial técnica ou
aptidão profissional na área, faturando milhões e milhões de dólares que eram
pagos para que ele fosse a conexão até seu pai, na época vice de Barack Obama.
O furo original da descoberta do laptop de Hunter, que contém centenas de conversas, e-mails, mensagens de texto, fotos e vídeos pra lá de comprometedores e nada republicanos, pertence ao New York Post, que divulgou a história sobre o laptop em outubro de 2020, poucas semanas antes das acirradas eleições de novembro daquele ano. O que seria uma faísca em qualquer era de grandes publicações encontrou apenas uma parede de negação ou distorção da mídia. Em vez de tentar confirmar os e-mails, quase toda a imprensa norte-americana ignorou a história ou colocou o selo de “verificada” como falsa. Essa preciosa contribuição das redações para o candidato Joe Biden foi ainda mais notória devido a outras evidências que apoiam o furo do New York Post. Nem Hunter Biden, nem a campanha de Biden negaram que o laptop fosse do filho do democrata. Além disso, o ex-parceiro de negócios de Hunter, Tony Bobulinski, veio a público com documentos de backup de alguns dos conteúdos do laptop confirmando a veracidade do material. O silêncio da imprensa foi sepulcral. Talvez pela sua terrível morte.
O rebanho de militantes e
ativistas da mídia divulgou incansavelmente a especulação de “oficiais de
Inteligência”, obviamente partidários, vendendo a linha de “desinformação russa”
(bocejos…) mesmo admitindo que não tinham provas sobre a declaração. As
“agências de checagem” correram para fazer o que fazem: soltar a sua “verdade”
e, sem contraponto e sem investigação alguma, checar absolutamente nada. O
resultado foi um apagão geral das notícias escandalosas de Hunter Biden. O
Twitter bloqueou a conta do New York Post, veículo criado por um
dos Pais Fundadores dos EUA, Alexander Hamilton, por quase duas semanas e o
Facebook usou algoritmos para esconder por completo a história. Isso privou os
eleitores de informações que eles poderiam querer saber antes do dia da
eleição. Os checadores da mídia nem sequer checaram que Bobulinski forneceu
cópias de documentos mostrando que Hunter estava, de fato, tentando usar o nome
Biden para lucrar com uma empresa sediada em Xangai com vínculos com o governo
chinês. Um e-mail de “expectativas” de maio de 2017 do associado de Hunter
Biden, James Gilliar, mostra Hunter recebendo 20% do capital do empreendimento,
com outros “10% detidos por H para o big guy”. O ex-sócio de Hunter
afirma que o “big guy” é Joe Biden. Até hoje, os Bidens não tiveram
sequer de explicar seu acordo comercial nem com as autoridades, nem com a
imprensa. Os e-mails deixam claro que Hunter estava lucrando com o nome Biden,
inclusive como membro do conselho da Burisma, uma empresa de gás ucraniana.
É claro que esse tráfico de
influência poderia ter trazido graves consequências para Joe Biden, mas as
alegações na reportagem — de que o filho do homem favorito para se tornar o
próximo presidente, de acordo com as pesquisas, estava vendendo suas conexões
políticas familiares de alto nível para estrangeiros, incluindo sugestões de
uma possível comissão para seu pai — mereciam ter sido divulgadas antes da
eleição. E que o eleitor decidisse o que fazer com essas informações.
Depois de 17 meses, o New
York Times finalmente reconheceu que as notícias dos negócios de
Hunter Biden e o tal laptop — que não passava de
“desinformação russa” — são, na verdade, notícias legítimas. O outrora grande
jornal norte-americano, hoje apenas um braço militante do Partido Democrata,
vem publicando reportagens com os “assuntos fiscais” do filho do presidente,
incluindo manchetes como esta joia que não despertará nenhum desejo de um
pedido de desculpas pelas “agências checadoras”: “Esses e-mails foram obtidos
pelo The New York Times de um cache de
arquivos que parece ter vindo de um laptop abandonado por
Biden em uma oficina em Delaware. O e-mail e outros arquivos no cache foram
autenticados por pessoas familiarizadas com eles e com a investigação”. Não há
dúvida de que o fracasso em buscar as divulgações no laptop de
Hunter Biden foi o exemplo mais flagrante do viés político e da veia
inescrupulosa da mídia em nossa recente história.
1984
Distorções, mentiras,
acusações falsas. Os últimos dois anos parecem ter saído do famoso 1984,
romance de George Orwell. As palavras de Orwell, publicadas em 1949, aumentaram
em popularidade nos últimos anos não apenas porque as sociedades modernas estão
se tornando cada vez mais parecidas com o que foi descrito na obra fictícia do
autor, seja na vigilância em massa, seja na guerra cultural perpétua. O romance
de Orwell é presciente de várias maneiras e o livro costura os sintomas da
atual sociedade com um tipo de totalitarismo que ele satirizou em sua obra.
Chega a ser assustador ler sobre o Ministério da Verdade da distopia de Orwell,
escrita há mais de 70 anos, como se ela profetizasse os atuais tempos: “Quem
controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o
passado”.
Nesta semana, nossa
revista Oeste venceu mais uma batalha judicial contra a
prepotência e o ativismo das tais “agências de checagem”. Em 2020, a agência
Aos Fatos qualificou de “fake news” uma reportagem de Oeste que
informava, diferentemente do que retratava a imprensa tradicional e
internacional, que a Floresta Amazônica não estava em chamas.
Como todo bom e prestativo Ministério da Verdade orwelliano, em março de 2021,
a agência mirou uma reportagem sobre a pandemia do vírus chinês na cidade de
São Lourenço. Nossa revista verificou que, enquanto o restante do país era
castigado pelo agravamento da tragédia, o município de 46 mil habitantes em
Minas Gerais completava a terceira semana sem registrar mortes.
Sem checar, de fato, Aos Fatos tirou a carta favorita dos novos fascistas de
plantão e gritou “fake news” à matilha raivosa.
Proibir
a liberdade de expressão nunca é apresentado como provocativo, mas sempre como
o ato final de uma sociedade ofendida
Assim como a reportagem do
computador de Hunter Biden que foi tachada de falsa, a “agência checadora” —
sempre com aspas! — deu de ombros às provas da veracidade do que Oeste publicara
e continuou carimbando os textos como “fake news”. No Facebook, uma
tarja sobre a foto que ilustra os posts de todos aqueles que compartilham os
textos vinha acompanhada de um alerta: “Informação falsa — Checada por
verificadores de fatos independentes”.
Na decisão que condenou a
agência Aos Fatos de pagar uma multa no valor de R$ 50 mil e ter de excluir
qualquer insinuação de que os textos publicados pela revista não expressam a
verdade, o juiz Marcelo Augusto Oliveira, da 41ª Vara Cível do Tribunal de Justiça
de São Paulo, não demonstrou apenas ser um magistrado com capacidade técnica
para aplicar as leis de nossa Constituição, mas estar acima dos ativistas de um
Judiciário cada dia mais militante — e proferiu de maneira primorosa a razão de
as leis no Ocidente serem como são.
Em sua sentença, escreveu: “A
ideia de que a sociedade precisa ser protegida, muitas vezes de si mesma, por
uma autoridade isenta superior pressupõe a concentração do poder. (…) Portanto,
a prática da empresa requerida de categorizar as outras empresas jornalísticas
como propagadoras de ‘fake news’ é materialmente inconstitucional. (…) A
censura pelos indivíduos — incluídas as pessoas jurídicas — à liberdade de
expressão, de manifestação ou de opinião, sob qualquer aspecto ou pretexto, não
é condizente nem compatível com qualquer dos princípios norteadores da
sociedade democrática vislumbrada pelo constituinte de 1988”. O magistrado
ainda ressaltou que as duas interferências de Aos Fatos afrontaram a liberdade
de imprensa, “pois tiveram a finalidade explícita de impingir a pecha de
falsidade às notícias divulgadas pela autora”. Segundo o juiz, “agrava a
conduta praticada o fato de a requerida não ter possibilitado à autora qualquer
chance de defesa ou colhido sua versão, simplesmente propagando as acusações na
internet”. E encerra dizendo que “aspirações de proteger a sociedade, não só
contra notícias falsas, mas contra qualquer potencial ameaça, desde um ponto de
vista supostamente isento e superior, flertam perigosamente com o totalitarismo”.
Tradições ocidentais
A liberdade de expressão e a
expressão artística e intelectual têm sido tradições ocidentais controversas
desde que o mundo é mundo. Quando os Pais Fundadores da América introduziram
garantias de tais liberdades para a nova nação, e com um eco para todas as
novas nações livres, eles nunca tiveram a intenção de proteger aqueles
pensadores que todos admiravam. A Primeira Emenda da Constituição
Norte-Americana, em vez disso, foi projetada para proteger os provocativos e os
grosseiros; e com o princípio de que, se os desbocados podem dizer ou expressar
o que desejam e o público pode aturar isso, a todos os outros é assegurada a
liberdade de expressão.
Toda vez que o Ocidente se
esqueceu desse fato — desde o julgamento do excêntrico Sócrates até a queima de
livros no Terceiro Reich —, nos arrependemos do que se seguiu. A censura, é
claro, nunca é rotulada como extrema e perigosa, mas, sim, como um meio
moderado e útil para conter o “discurso de ódio de um filósofo maluco que polui
mentes jovens”, médicos que investigam além do permitido pela nova seita
científica que acende velas para as big pharmas, ou simples
cidadãos que questionam demais sobre vírus, vacinas, urnas e eleições. Proibir
a liberdade de expressão nunca é apresentado como provocativo, mas sempre como
o ato final de uma sociedade ofendida e compreensivelmente provocada.
O desprezo pelo progresso
E entre aqueles que mais
atacam a liberdade de expressão estão os chamados progressistas, que, na
verdade, desprezam o progresso, já que permanecem em algum canto da sangrenta
Revolução Francesa aguardando a próxima cabeça. Os tais progressistas e falsos
transgressores não gostam de discursos politicamente incorretos, porque eles
não promovem suas próprias agendas. Sem liberdade de expressão, o Ocidente
torna-se apenas um punhado de oportunistas e bajuladores que distorce a
expressão para suas próprias programações carreiristas e políticas. Que
estranho que nós, em pleno século 21, não temos a visão nem a coragem de
brilhantes homens do século 18 que escreveram a Constituição da nação mais
próspera do mundo — mais próspera porque é a mais livre — e que nos alertaram
exatamente sobre o que estamos nos tornando agora.
Apenas a verdade, e não um
ministério de verdade, nos protegerá de tempos sombrios. Marcelo Augusto
Oliveira, da 41ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paul, o bravo juiz
que proferiu a correta sentença contra a agência checadora de 1984 em
2022, mostra com honradez o que o próprio George Orwell resumiu em definitivo:
“Se liberdade significa alguma coisa, ela significa o direito de dizer às
pessoas aquilo que elas não querem escutar”.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, revista Oeste, nº 108, 15-4-2022
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