O bilionário parece ter a resposta para a pergunta da sua afilhada no Congresso. Como fazer para tirar o presidente do palácio?
Guilherme Fiuza
Imagine esta situação surrealista, impossível de se cogitar no mundo real: uma deputada federal pergunta a um ministro da suprema corte o que eles devem fazer para evitar a reeleição do presidente da República, na votação prevista para o mesmo ano. Aí esse ministro responde que “nós” somos mais fortes do que o “inimigo”.
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Montagem: Revista Oeste |
Nós, quem? Nós, as pessoas “do
bem”, diz o ministro — universo onde estão incluídos a deputada, o próprio
ministro e todos os que se colocam contra o “inimigo”. Quem é o inimigo? É o
presidente da República, assim classificado pelo representante da máxima corte
judiciária do país.
Está achando absurdo demais?
Então vamos colocar um pouco mais de absurdo aí, porque a realidade está muito
monótona e ninguém aguenta mais tanta estabilidade democrática.
Acrescentemos ao enredo
inverossímil o seguinte contexto: a deputada e o ministro da suprema corte não
estão no Brasil. Estão num evento nos Estados Unidos da América. Esse evento é
bancado pelo mesmo bilionário que banca a carreira política da jovem deputada
em questão. E nesse mesmo evento, o próprio bilionário declara que no ano seguinte
o Brasil terá um novo presidente — ou seja, afirma categoricamente que o
“inimigo”, conforme classificado pelo ministro da suprema corte, perderá a
eleição.
Interessante. O bilionário
aparentemente tem a resposta para a pergunta da sua afilhada no Congresso. Como
fazer para tirar o presidente do palácio? O padrinho sabe — como mostra a
assertividade da sua “previsão”: no ano seguinte o presidente não estará mais
lá. Será outro.
Se você teve a sensação de que
a democracia brasileira estava sendo operada nos EUA, você é um paranoico
E o ministro? O ministro tinha acabado de deixar a presidência do tribunal eleitoral, que é dirigido por integrantes da corte suprema, da qual o ministro é membro. Ou seja: um dos árbitros da eleição brasileira afirma num evento nos EUA que um dos principais candidatos na referida eleição é “o inimigo”. E o bilionário que é o seu anfitrião no evento nos EUA diz que o “inimigo” ficará pelo caminho.
Se você teve a sensação, lendo
esse enredo absurdo, de que a democracia brasileira estava sendo operada nos
EUA, você é um paranoico. Está tudo bem com a democracia brasileira. A suprema
corte nacional só tem ministros sóbrios que jamais pronunciariam uma vírgula —
mesmo que vírgula fosse pronunciável — com teor de interferência política. Os
supremos togados sabem que a vontade popular é a base da democracia — e que
qualquer conduta capaz de trazer dúvidas sobre o respeito absoluto a essa
vontade poderia jogar tudo pelos ares. Inclusive as togas.
Sobre bilionários com
assanhamento suficiente para tentar tomar o papel dos governos e mandar em todo
mundo, isso não passa de ficção científica. Um bilionário já tem tudo que quer
para si e para seus tataranetos. Por que tentaria tomar para si o poder
público? Por que tentaria usar seu mar de dinheiro e seu oceano de influência
para encantar almas legislativas e judiciárias em favor dos seus interesses
particulares?
Isso não existe. Ninguém é tão
guloso assim. Ninguém é tão megalômano assim. Ninguém é tão cínico assim.
Ninguém arriscaria tanto o seu penteado se metendo numa enrascada desse
tamanho.
Por que enrascada? Porque do
lado de fora dos auditórios de Boston e dos gabinetes de Brasília tem uma
quantidade grande, muito grande mesmo de pessoas que ficariam bastante
aborrecidas se soubessem que meia dúzia de malandros perfumados está tramando
para tirar-lhes o que é seu.
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, Revista Oeste, nº 108, 15-4-2022
Eu teria um caminho mais prático e rápido para tirar o presidente do palácio. E nem precisaria ser 'deputa fedemal', como imbuído de muita propriedade e carinho, assim o rotulou o jornalista Aparecido R. de Souza. Eu contrataria o mágico e ilusionista Davi, da novela 'Além da ilusão' e pediria à ele que fizesse o truque do sumiço do palácio, claro, com o presidente dentro. Sem o presidente dentro, não teria graça. Alto lá: qual palácio? Que pergunta mais cretina! O do STF, conhecido como a 'Çuprema Courte'. O outro Palácio, ficaria INTOCÁVEL.
ResponderExcluirCarina Bratt
Ca
de Sertãozinho, interior de São Paulo.
Fantástico.
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