O problema não é a presunção, discutível,
de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior risco é o de
produzirem idiotas.
Alberto Gonçalves
Um destes dias, circulou por
aí um questionário que anda a ser feito aos alunos das escolas públicas. As
perguntas incluem: “Quando é que decidiste que eras heterossexual?”. E:
“Se a heterossexualidade é normal porque é que existem tantos doentes
mentais heterossexuais?”. E mais meia dúzia de calibre idêntico. Num
instante, as “redes sociais” indignaram-se. No instante seguinte, alguém
divulgou o verso da página, que continha o “contexto” do inquérito. Afinal, o objetivo
passava por ridicularizar o tipo de perguntas que se fazem “com frequência”
(cito) a homossexuais e a bissexuais. A indignação moderou-se.
Não devia. O problema nem é o
inquérito, apenas tonto e um pouco alucinado: onde é que questões daquelas são
feitas, e “com frequência”, a homossexuais? Decerto na Palestina e no
Irão. O problema é o inquérito ser português, e estar incluído num longo
Caderno de educação sexual produzido pela ARS Norte e adoptado pelo ministério
da Educação para o 7º, o 8º e o 9º anos. O problema é o Caderno, as dezenas de
páginas dele, ser um monumento à indigência mental. O problema é um país em que
a indigência mental merece cargos de decisão e influência. Muitos queixam-se de
que o ensino da sexualidade perverte as criancinhas, mas poucos falam do ensino
da imbecilidade que as retarda. O problema, em suma, não é a presunção –
discutível – de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior
risco é o de produzirem idiotas.
Há aqui graves chatices de princípio, de forma e de conteúdo. Comece-se pelo princípio. Sob que pretexto a escola deve educar sexual ou até socialmente os petizes? Não me ocorre nenhum, exceto a presunção beata de que as salas de aula são espaços de catequismo para os fervores do momento. Durante o Salazarismo, os manuais escolares estavam repletos de exaltações “patrióticas”. Agora é a tralha da “tolerância” e do “género”. Mudou a tralha, não mudou a tendência evangelizadora de uma instituição em teoria destinada a habilitar fedelhos no português e na matemática. Na prática, habilitam-se os pais, os que têm menos meios de corrigir o desastre, a levar com os filhos em situação de analfabetismo radical e permanente.
Em abono da democratização do
ensino, analfabetismo também não falta aos autores do Caderno da ARS Norte.
Aquilo é dirigido a alunos de 12, 13, 14, 15 anos. Parece pensado para
“utentes” do infantário. E parece produzido por “utentes” do infantário, com a
agravante de a linguagem utilizada descer aos abismos de um “eduquês” temperado
por adaptações livres do léxico e da gramática.
O Caderno tem três temas (eles
dizem “áreas temáticas”): O conhecimento e valorização do corpo; Saúde
sexual e reprodutiva; Expressões de sexualidade e diversidade. Pelo meio, há
desenhos infantis, textos infantis, “atividades” infantis (jogos
promissores, como o “Corta e cola na minha autoestima” e o “E mais???
Outras coisas que tais...”) e toda a sorte de expedientes capazes de
dispensar a rapaziada de aprender equações de 2º grau, mas ficar esclarecida
acerca de anéis vaginais e gonorreia.
A título de exemplo, uma das “atividades”
intitula-se “As mulheres percebem de futebol??” (e logo demonstra que os
autores do Caderno não percebem de pontuação). Consiste em dividir a turma em
grupos de rapazes e raparigas e pô-los a discutir um texto sobre dois comentadores
da Sky Sports demitidos por afirmarem, em “off”, que as
mulheres não entendem o fora-de-jogo. O objetivo da “atividade” é “promover
a diminuição de estereótipos de género”, leia-se aplaudir a demissão dos
comentadores. Não admira que inúmeros alunos cheguem ao secundário unicamente
especializados em fazer caretas no Tik Tok. E aposto que no fim da rábula as
raparigas continuaram sem entender o fora-de-jogo!!!
Às vezes, o Caderno tem graça.
Ri-me com a referência repetida a “Eva e Adão”, uma inversão da
convenção que, em cabeças cheias de vento, passa por espetacular afirmação de
feminismo. A maioria das vezes, porém, o Caderno deprime. Nele, o sexo é só uma
via para falar obsessivamente de dois assuntos: o corpo e a “autoestima”
(amor-próprio, em língua de gente).
Ou seja, o Caderno derrama nas
crianças o tipo de patetices abundantes no Disney Channel e no Instagram de
pategos: a ilusão de que todos somos especiais e dignos de intensa admiração.
Somos lindos mesmo que pesemos 10 arrobas. Somos esclarecidos mesmo que nos
apeteça trocar de sexo dez minutos após entrar na puberdade. Somos
espertíssimos mesmo que o nosso QI se aproxime do QI dos criadores de material
educativo para a ARS Norte. Somos princesas e príncipes, guerreiras e
guerreiros, campeãs e campeões. E ai do mundo que não reconheça semelhantes
atributos em criaturas reduzidas à superfície, e convencidas a “identificar-se”
e “afirmar-se” em cima de nada. O grande objetivo do Caderno, e de boa parte da
contemporaneidade, é formar choninhas amadores e vítimas profissionais.
Embora falar de sexo com
professores seja de um bom gosto equivalente a debater uma gastroenterite com a
porteira dos multiusos, e embora a educação sexual precise tanto do ministério
quanto um idoso de uma anca deslocada, tenciono provar a minha abertura nesses
domínios. Ainda que já tenha concluído o ensino básico há um par de anitos,
passo a responder ao questionário referido no início da crónica:
1) O que é que achas que
causou a tua heterossexualidade?
A Agnetha dos Abba, por alturas do álbum Voulez-Vous.
2) Quando é que decidiste
que eras heterossexual?
Quando, para aí com 9 anos, os meus pais me deram dinheiro para comprar
o Voulez-Vous. E ainda dizem que os Abba são música efeminada!
3) É possível que a
heterossexualidade seja apenas uma fase que passe quando cresceres mais um
pouco?
É possível, sim (mal atinja 1,88m pensarei nisso). Em miúdo também pensava
que ia ser benfiquista e depois viu-se.
4) É possível que sejas
heterossexual por sentires medo de pessoas do mesmo sexo que o teu?
Claro que é. Na infância, joguei à bola contra um vizinho que tinha o dobro
do meu tamanho e a misteriosa alcunha de “Grua”. Sentia pavor dele, a ponto de
nunca me passar pela cabeça pedi-lo em namoro.
5) Se a heterossexualidade
é normal porque é que existem tantos doentes mentais heterossexuais?
Não sei se a heterossexualidade é normal. Anormal seria existirem poucos
doentes mentais nos “workshops” de economia do dr. Louçã e de uma das
Mortáguas.
6) Porque é que tens de
“anunciar a todos” a tua heterossexualidade? Não podes apenas ser quem és sem
falares muito sobre isso?
Nunca “anunciei” a minha heterossexualidade a ninguém. Até hoje, aliás,
acho que nunca falara em público a respeito. Ao contrário da crendice
estabelecida, é ridículo desabafar.
7) A maioria dos abusadores
de menores é heterossexual. Achas que é seguro expor as crianças a educadores
heterossexuais?
Acho altamente inseguro é expor educadores, heterossexuais ou não, a
crianças.
8) O número de divórcios
entre pessoas heterossexuais é muito elevado. Porque é que as relações
amorosas entre pessoas heterossexuais são tão instáveis?
Porque há muitas Agnethas na Terra. E muitos Gruas, suponho.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
9-4-2022
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