domingo, 14 de setembro de 2014

Nem oito, nem oitenta

Luís Marques Mendes
O anterior governo usava e abusava do marketing para promover a sua atuação.
À míngua de resultados, tudo subordinava aos ditames da publicidade e da propaganda. Qualquer questão, por mais insignificante que fosse, logo justificava uma festa, enxameada por um corrupio de autoelogios e abrilhantada por vastas proclamações dos tradicionais próceres do regime. Tudo servia para sustentar um Governo que vivia em permanente campanha eleitoral. Nos antípodas está o Governo de Passos Coelho.

Portugal subiu 15 posições no ranking da competitividade.
Melhorámos no plano empresarial, das universidades, das escolas de Gestão, no plano das políticas públicas.
Mas passámos por este relatório como “cão por vinha vindimada”.
 
O amadorismo e o desconcerto são de tal monta que a governação atual parece ter receio de justificar os seus êxitos e vergonha de publicitar os seus sucessos. Tudo é contido e feito a medo. Às vezes até parece que têm de pedir desculpa por estarem a colocar o País dentro dos carris e a lograrem obter resultados que são do interesse nacional. Um exagero deu lugar a outro exagero.

Tudo isto vem a propósito do recente relatório do Fórum Económico Mundial sobre a competitividade à escala global.

Desde 2005, com uma episódica exceção em 2011, Portugal tem vindo a baixar de divisão em termos de competitividade. Aos olhos dos investidores éramos um caso perdido. Sempre a perder terreno. Até que este ano o País inverteu o plano inclinado em que se movia. Segundo o relatório, Portugal subiu 15 posições no ranking da competitividade que avalia 144 países. Melhorámos no plano empresarial, evoluímos no quadro das universidades, estamos em posição excelente ao nível das escolas de Gestão. O mais relevante, porém, é que no plano das políticas públicas subimos 30 lugares. Ou seja, a ação governativa contribuiu decisivamente para o sucesso que o relatório evidencia.

Não estamos a falar de um estudo cozinhado numa sede partidária ou de u m relatório fabricado num departamento ministerial. Estamos a falar de um documento insuspeito produzido por uma organização internacional de referência. Um relatório que é importante cá dentro e lá fora. Cá dentro mostra que há um retorno estratégico dos esforços que os portugueses fazem. Lá fora funciona de bússola para os investidores, sinalizando que o País volta a ser atrativo para investir.

Apesar disto, passámos por este relatório como “cão por vinha vindimada”. Lá houve uma ou outra notícia, uma ou outra declaração. Mas tudo não passou de um epifenómeno.

Tenho dúvidas que a opinião pública tenha registado o essencial do relatório, para não dizer que tenho a certeza de que não lhe atribui a importância de que ele claramente se reveste.

O Governo, esse, reagiu com satisfação mas com contenção. Como se mais de uma notícia se tratasse. Só que esta não era mais uma notícia. Era a notícia. Que merecia ser potenciada. Sem o superavit propagandístico do passado e sem o défice comunicativo do presente. Afinal, nem oito, nem oitenta.
Título e Texto: Luís Marques Mendes, VISÃO, nº 1123, de 11 a 17 de setembro de 2014
Digitação: JP

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