segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Por que Aécio Neves se deu bem somente após parar de “bater nas duas” e centrar seus esforços no real adversário?

Luciano Ayan

O discurso “tem que bater nas duas” por sorte não foi seguido por Aécio Neves nos últimos 10 dias, onde o vimos centrar os ataques em Dilma, e só bater em Marina de forma transversal. Por isso ele está no segundo turno, com ótimas chances de vitória.

Foi só a partir dos ataques contundentes (e focados, o que é mais importante) de Aécio que o PT começou a perder capacidade e tempo tendo que se defender, ao mesmo tempo em que gastava esforços para desconstruir Marina. Caso Aécio tivesse escolhido a opção de “bater nas duas” (alegada por pessoas que diziam que o mesmo nível de munição deveria ser lançado contra ambas) até o fim, o resultado seria bem pior para o tucano.

Alias, nem mesmo o PT, o melhor partido em termos de guerra política, usou a opção de “bater nos dois”, pois focou a maior parte dos ataques em seu inimigo mais perigoso, ou seja, Marina. Se o PT é o melhor partido em termos de guerra política (e um dos piores em termos de propostas políticas), isso já nos deveria sugerir a existência de um motivo para que eles focassem principalmente em Marina, certo?

A verdade é que o esforço de desconstrução de um adversário não é algo que se faça assim como decidir passar em quatro lojas do shopping ao invés de três. Quer dizer, não é algo que se faça sem que exista um trade-off.

Esse termo é usado principalmente no ambiente corporativo, por que quando dizemos que de um time de 20 pessoas, elas estarão divididas igualmente em 2 projetos temos uma linha de base para avaliar o estado atual de nossas escolhas. Mas se escolhemos atender a um terceiro projeto com a mesma quantidade de pessoas, então teremos que fazer um trade-off. Talvez um projeto tenha que receber menor prioridade. Ou ao menos um não será entregue na data.

Tanto na guerra formal como na guerra política, sabemos que o esforço humano, assim como o tempo disponível para se fazer algo, é um fator limitado. A partir do momento em que alguém reparte seu tempo entre duas ações, existe um trade-off, com consequências. Essa é mais uma das realidades da guerra política da qual não podemos fugir.

Se sairmos do raciocínio mais descompromissado (que costuma ignorar fatores como capacidade disponível, esforço gasto e tempo utilizado) e partirmos para o raciocínio organizacional, que é o mesmo utilizado para qualquer esforço de guerra (e assim deveria ser a guerra política), fica mais fácil entender que “bater nas duas igualmente” significou o seguinte, durante boa parte do mês de setembro: “não bater em Dilma tanto quanto seria possível”.

É só estudarmos o histórico das pesquisas para observar que durante um bom período de tempo, Marina Silva caia, enquanto Dilma apenas aumentou, com Aécio permanecendo praticamente estagnado. Foi esse o período onde ele “bateu nas duas”. (Aliás, em 24/9 havia um levantamento mostrando que Aécio estava batendo mais em Marina do que Dilma)

Ultimamente, talvez inspirado pelas ideias lúcidas de FHC (que sempre sugeriu centralização de fogo em Dilma), Aécio deve ter pensado: “É preciso mudar algo”. A mudança ocorreu a partir da última semana de setembro, o que se refletiu em sua vitória do debate da Record em 28/09, e uma vitória por goleada no debate da Globo em 02/10.

Inclusive neste último, Aécio chegou a ser sutil em seus ataques à Marina (já tendo abandonado a malfadada estratégia de “bater nas duas”), e ainda tomou algumas patadas. Marina provavelmente estava traumatizada com a desconstrução que o PT fazia contra ela e pela mania de Aécio se unir às críticas do partido (em um momento bizarro da fase focada em “bater nas duas”, o PT chegou a usar uma ideia do mineiro em sua campanha).

A partir daí, o eleitor passou a compreender Aécio finalmente como a alternativa para derrotar o PT. Melhor ainda, o tucano deixou de irritar os eleitores de Marina (e esse sentimento o prejudicou durante algum tempo), focando naquilo que o grande eleitorado anti-petista quer: tirar Dilma e seus saqueadores do estado de lá.

Como diria o antigo ditado: antes tarde do que nunca. A partir de agora, só vai “bater nas duas” quem estiver fora de seu juízo perfeito.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 6-10-2014

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