Olavo de Carvalho
Todo mundo sabe que os dias
que antecedem o Natal são os mais angustiantes do ano. Todas as cobiças, todas
as frustrações, todas as neuroses familiares, todos os rancores que o ritual do
trabalho diário encobria, vêm à tona nessa ocasião, excitados pela corrida às
compras, pelo saldo em vermelho, pela disputa de prioridade nas visitas dadas e
recebidas, por mil e uma solicitações inatendíveis que nos mostram, mais que
qualquer dificuldade rotineira, o que há de intrinsecamente constrangedor e
decepcionante na vida humana.
Movidos pelo automatismo dos
lugares-comuns, muitos são os que, nesses dias, enfatizam o contraste entre a
agitação mundana e um idealizado “espírito de Natal” que, imaginam, deve ter
prevalecido em épocas mais doces ou há de prevalecer na sociedade perfeita que
sonham criar à sua própria imagem e semelhança.
No entanto, nada expressa
melhor o sentido do Natal do que essa angústia, essa inquietação, esse
pressentimento sombrio que antecedem o nascimento de Cristo.
É um simbolismo eterno que se
repete nos fatos materiais da vida.
Os dias que precedem o Natal
são os da matança dos inocentes, da fuga para o deserto, da Sagrada Família a
bater em vão de porta em porta, em demanda de um abrigo inexistente.
Um Deus vai nascer. O mundo
treme e se apressa, como Herodes, para tentar matá-Lo.
Não poderiam ser dias felizes.
São os mais inquietantes do ano. Nem mesmo a Sexta-Feira Santa é tão triste,
porque o fato da morte vem com a certeza da Ressurreição. Mas, quando um Deus
vai nascer, tudo é incerto. O nascimento de um Deus é a morte de um mundo – de
um mundo que não voltará à existência depois de haver-se dissipado no nada. E
ainda não se sabe o que virá depois. Tudo aí é possível: as esperanças mais
insensatas acotovelam-se aos temores mais alarmantes, na expectativa de algo
que não se sabe o que é, mas que será decisivo. É a hora antes da aurora, a
hora do lobo: o predador, no lusco-fusco, ainda não sabe se vai caçar ou ser
caçado.
O nascimento de um Deus é um
anúncio do Juízo Final. Antecipadamente, há choro e ranger de dentes. A
humanidade agita-se, tentando em vão fugir do peso de seus pecados. Cada um
quer fingir para si mesmo que está bem, que nada teme, que sua conta bancária,
sua mesa farta, sua família feliz são um atestado de garantia contra a danação
eterna.
Parecendo negar a profecia, a
agitação moderna não faz senão obedecê-la e confirmá-la.
Mas eu seria o último a ver na
corrida aos presentes apenas um divertissement no sentido pascaliano, uma fuga
ao sentido da vida. Ela é também, nessa hora incerta, a afirmação de uma
esperança. O Deus que vai nascer pode não ser um juiz, mas um salvador. Não um
castigo, mas um dom. Ninguém o pode garantir antecipadamente. Comprar
presentes, no meio da angústia e da correria do mundo, é um ato de confiança na
promessa das Escrituras. Sem saber ainda o que vai acontecer, dispomo-nos a
celebrá-lo como um dom. Provemo-nos também dos dons que pretendemos ofertar,
símbolos miúdos do grande dom divino que esperamos.
Mas a incerteza nem por isso
se dissipa.
Mesmo quando surge a estrela,
anunciando o nascimento do Salvador, nem todos atinam com o que está se
passando. De início, só os sábios e os pastores o compreendem. É na esperança
de ser um deles que acorremos às lojas, comprando o ouro, o incenso e a mirra
com que mostraremos reconhecer, nos entes queridos a quem presenteamos, a
imagem do Menino Deus recém-nascido.
Quer o saibamos ou não, o
símbolo primordial molda nossas vidas, reproduzindo-se e multiplicando-se em
milhões de lares, por baixo de toda agitação mundana que, parecendo negá-lo, o
reafirma soberanamente.
A deusa história, a
modernidade, nada pode contra isso. Ela não é senão imagem e semelhança daquilo
que nega. Afinal, quê poderia confirmar mais plenamente o nascer do Sol do que
o movimento das sombras que deslizam pelo chão?
Qualquer que seja o rumo da
História, a Palavra que a moldou antecipadamente não passará.
Título e Texto: Olavo de
Carvalho
Claro, Olavinho. Um rei judeu mandou matar o seu próprio deus dos judeus.
ResponderExcluirEssa lenda cristã faz muuuuuuuito sentido.
A Maior Farsa e Mentira Mais Mal-contada de Todos os Tempos.
PQP.
Esse cara queima toda a credibilidade dele quando começa a delirar sobre religião. Nessa horas, Olavo só fala merda.
Um rei matar alguém que vai substitui-lo, hmmm nunca ouvi fala disso... claro que tem sentido, seu idiota. Estuda história.
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