Toda a verdade passa por três
fases: primeiro é ridicularizada; segundo, é violentamente atacada; terceiro, é
aceita como evidente.
Arthur Schopenhauer
Waldo Luís Viana
Solipsismo é a concepção
filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. Devido a
isso, a única certeza de existência é o pensamento, instância que controla a
vontade. O mundo ao redor é apenas um esboço virtual do que o Ser imagina. Se o
mundo ao redor é apenas um esboço virtual, as pessoas e o mundo objetivo só
podem ser uma experiência mental e distorcida...
Essa corrente filosófica,
neo-escolástica e disseminada no século XVII, volta com toda força em nossa
época de informática, fractais, matrix e na argumentação falaciosa dos governos
do PT.
O partido que antes de fincar
os pés no poder era a oposição mais renhida contra a corrupção, hoje é o
partido do “chame os ladrões!” E o pior é que eles comparecem, batendo
continência para ONGS fajutas, superfaturamentos de obras e consultorias
milionárias. A corrupção ganhou até um eufemismo: “mal-feito”, como se fossem
seus autores crianças apanhadas em alguma peraltice, bastando saírem de cena
para acabar o castigo.
Nem vale a pena falar no
primeiro ano do atual governo, com recorde mundial de seis ministros demitidos
por “mal-feitos”, porque a tendência é a lista se alargar, em virtude de que
quanto mais se mexe no que não presta à montante, mais se suja o rio à jusante.
O ponto fulcral, no entanto,
da esquerda arquitetura é provar em breve que o mensalão do PT – os tais
quarenta ladrões, sem Ali Babá, lembram-se! – jamais existiu! Foi apenas uma
invenção da imprensa golpista que detesta o ex-presidente, hoje careca, e seus
(bem) feitos...
Invoca-se a instalação de uma
realidade distorcida, diante dos imperativos interesses do poder instalado.
Tendo como aliados a natural lentidão da Justiça e o tamanho do processo,
sabe-se que a chicana dos advogados ricos e seus múltiplos recursos cairão em
campo para toldar qualquer julgamento sério. Existe, inclusive, o perigo de o
processo ser desdobrado, voltando parte dele à primeira instância, o que
equivaleria à sua virtual extinção. Mero solipsismo!
Quanto mais o tempo passar,
mais os filósofos petistas, do tipo acadêmico-paulistas, continuarão dizendo
que não houve “mensalão”, apenas financiamento de caixa dois de campanha,
dinheiro inocente e não contabilizado para satisfazer os partidos aliados que
não puderam pagar dívidas pós-eleitorais. Enfim, mera piada de salão de quem
não tem mais o que fazer...
A realidade distorcida ficou
evidente com a tentativa de recuperação moral e eleitoral dos personagens
incriminados, que vêm voltando gradativamente ao poder, como se nada houvesse
acontecido.
Afinal, não houve dinheiro na
cueca e nenhum publicitário careca gerindo as “unhas encravadas” selecionadas
por um ex-tesoureiro. Não houve mesada a parlamentares para assegurar maioria
no Congresso, em 2005, assim como o olho ferido do então denunciante foi apenas
decorrente da funesta queda de uma estante em sua casa.
O interessante é que a
oposição, que à época ingenuamente desejava ver o mandatário sangrar, não
percebeu que o presidente era apoiado por rentistas externos (160 bilhões por
ano de juros) e pelos internos, porque os lucros dos bancos brasileiros jamais exorbitaram
tanto na história da República. Nesse contexto, foi a nossa burguesia de
esquerda, somada à direita oligárquica mais hipócrita, que conseguiu superar a
crise e garantir a reeleição do ex-metalúrgico. Aí então o povo foi ao paraíso
e, narcotizado, esqueceu-se de vez do mensalão...
Como a mesma operação se deu
em Minas e em Brasília, provando que era sistêmico o processo, afetando também
próceres da oposição, ficou o dito pelo não dito – todos preocupados em
esconder a realidade podre que é melhor mesmo que não exista...
Estamos em pleno mar de corrupção,
revolto, e nós, os brasileiros somos os escravos de um fantasmagórico navio
negreiro, vergastados pela chibata dos impostos, das carências de
infraestrutura e dos monumentais eventos esportivos vindouros, que custarão os
olhos e as vísceras da Nação.
Nosso governo é solipsista,
isto é, não pode ser conhecido em si mesmo e nem ao menos criticado, porque
seus pecados não existem, são mera projeção de nossos mórbidos pensamentos,
porque muitos de nós, teimosos e arredios, ainda não nos acostumamos de verdade
a amar o Grande Irmão!
E como seremos felizes quando
soubermos que aquilo que nos incomoda – e às vezes até aparece de vez em quando
em nossa memória – jamais existiu?
Título e Texto: Waldo Luís
Viana, escritor, economista, poeta e já está quase acreditando que o mensalão
do PT jamais existiu...
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