Porque é que a Associação
República e Laicidade não exige a separação entre o Estado e Januário Torgal
Ferreira, de preferência mediante a oferta de um retiro vitalício na Bolívia?
Após o elogio do primeiro-ministro à "paciência" dos portugueses, no
máximo uma redundância infantil, D. Januário apareceu logo a comparar o dr.
Passos Coelho a Salazar (um clássico) e a sugerir (ou, no seu estilo quase
frontal, a quase sugerir) que o povo saísse à rua em alvoroço.
D. Januário é assim: passa os
dias à espera de um pretexto para apelar a gestos dramáticos das massas. E se é
verdade que as massas não lhe ligam nenhuma, também é verdade que D. Januário
nem precisa de pretexto: qualquer coisa - uma frase infeliz, uma frase neutra,
um espirro - fomenta a alegada revolta da criatura.
Escusado acrescentar, a
criatura está no seu direito. Só não percebo como é que tamanha irreverência
mantém D. Januário confinado a dois estabelecimentos tão institucionais e em
geral circunspectos quanto a Igreja e a tropa. Por outro lado, não percebo
porque é que a Igreja e a tropa mantêm D. Januário: suponho que tentar promover
agitações colectivas não seja uma das funções do bispo das Forças Armadas. Só
não me perguntem que funções são essas: não sou crente nem militar. Mesmo que
fosse, suspeito que não saberia a resposta.
Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 10-06-2012
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