Luciano Ayan
O debate dos presidenciáveis
na TV Record foi muito melhor do que o vergonhoso debate na CNBB. A grande
vantagem do evento ocorrido ontem, 28/09, é que ele foi quase todo baseado em
confrontos entre candidatos. A exceção foi uma rodada de perguntas de
jornalistas aos candidatos. No restante, o couro comeu.
Em uma avaliação geral, Aécio
foi o vitorioso, enquanto Dilma e Marina praticamente empataram. Mas vamos a
mais detalhes.
Logo no começo, Dilma
questionou Marina sobre suas “mudanças de posição”, e cravou na testa
desta última o rótulo de mentirosa, pelo fato de ter votado contra a CPMF mas
ter afirmado em campanha que votou a favor. Ponto para Dilma neste momento. Foi
um dos raros instantes onde a candidata se deu bem.
Em seguida, o revide de Marina
veio quando ela falou do fracasso da política do governo para o etanol,
mencionando a perda de 60.000 empregos. Dilma saiu-se com respostas vagas, que
não neutralizaram o ataque.
De resto, Dilma acabou
sofrendo ataques de todos os lados. O que não foi bom para a imagem do governo.
Alias, ela pediu quatro direitos de resposta e só conseguiu um.
Já Aécio Neves simplesmente
esmagou Dilma Rousseff em dois momentos: ao citar a corrupção na Petrobrás (em
dobradinha com o Pastor Everaldo) e, especialmente, quando citou a aberração da
semana passada, a proposta feita por Dilma na ONU por negociação com
terroristas que decepam cabeças (termo utilizado por Aécio). Chego a dizer que
esta foi a melhor atuação de Aécio nos debates para presidente.
Mas existem pontos a serem
corrigidos, como uma mania horrível que ele precisa perder, que é a de deixar
acusações sem contra-ataques a todos os pontos. Veja o que Dilma afirmou:
Tem gente que combate para
usar as denúncias de corrupção para enfraquecer a Petrobras. Eu registro que os
senhores foram sempre favoráveis a uma relação com a Petrobras de privatização.
É eleitoreiro falar o que senhor vai reestatizar. Aliás, o senhor vendeu uma
parte das ações a preço de banana e tentaram tirar o “bras” do nome Petrobras,
de Brasil, por quê? Para vender mais fácil no exterior.
Nesses momentos, ele
geralmente se esquece das acusações e foca apenas no tema principal em
discussão. Mas veja como ele poderia responder: “Dilma não sabe do que fala.
Estudos sobre Petrobrax nunca tiveram nada a ver com privatização. Isso é uma
mentira calhorda. Sempre que ela acusar a gente dizendo que nós queríamos privatizar
a Petrobrás, podemos dizer na cara dela, de cabeça erguida, que ela mente de
forma cretina. Quem mente desse jeito não é confiável. Quem denuncia a
corrupção, como nós, só pode fortalecer a Petrobrás, que tem sido danificada
pelo PT”.
Note que uma resposta assim
tem aproximadamente o mesmo tamanho e neutralizaria todo o ataque petista,
rebatendo todas acusações. Em suma, Aécio precisa, como já disse, perder a
mania de deixar ataques sem resposta…
Um outro exemplo onde as
respostas de Aécio foram incompletas é o momento no qual Dilma afirmou:
Na verdade uma coisa tem que
ficar clara, quem demitiu o Paulo Roberto fui eu. A Polícia Federal, no meu
governo, foi quem investigou todos esses ilícitos. Eu fui a única candidata que
apresentou propostas para o combate da corrupção.
Ao responder, Aécio acertou
acertou ao dizer que a responsabilidade da investigação é da PF, não do
governo. Mas ele poderia ter acrescentado o seguinte: “Uma prova de que o
governo não tem poder de investigação é que quando tentou obter as delações,
não conseguiu. O governo é investigado. É o oposto do que ela diz.”
Novamente, neste caso temos
que pressionar Aécio para que ele perca a mania de deixar ataques sem resposta.
Outra dica para
Aécio: nunca falar “eu não vou acabar com Bolsa Família”, mas dizer coisas
como “é mentira do PT dizer que eu acabaria com o Bolsa Família, pois esse
programa foi criado pelo FHC, enquanto o PT ficou contra”. Lembremos sempre que
na guerra política quem está se defendendo, está perdendo, mas quem está
atacando (e somente aí embute sua defesa junto) pontua.
Essas dicas de evitar as
defesas (sem anexá-las a ataques) e contra-atacar todos os mísseis políticos
vindos do outro lado são pontos que se fossem assimilados por Aécio teriam
feito com que ele reinasse absoluto no debate de hoje. E que fique bem claro: quem
precisa correr atrás (como ele) tem que obter largas vantagens no debate. Mesmo
assim, como já disse, ele venceu a contenda. Mas poderia ter sido ainda melhor.
Outro ponto para ser
aproveitado daqui para frente é a questão da maioridade penal. Aécio se
posicionou a favor da redução e Dilma contra. Isso pode ser explorado na
campanha a partir de agora. Lembre-se: 87% da população é a favor da redução da
maioridade penal.
Mas e o Pastor Everaldo? Em um
momento onde Levy Fidelix o questionou sobre a relação do Brasil com os
demais países bolivarianos, ele simplesmente “travou”, proferindo
pusilanimidades como “acho que seria melhor não pensar tanto no Mercosul, e
pensar em outras alianças” (ou algo mais ou menos nessa linha), um discurso
totalmente aguado. Ele deveria ter tratado o bolivarianismo como “projeto
de poder baseado em saqueamento de estados e ditadura, como já ocorre na
Venezuela, Argentina, etc.”. A postura do Pastor Everaldo nessa
questão foi uma afronta a quem confiou nele.
Um item de checklist poderia
ser este: sempre que um candidato “de direita” ouvir temas como “decreto
8243″,”censura de mídia” e “países bolivarianos” qualquer afirmação que não
faça Dilma tremer nas bases significa serviço porco.
Lá no final Levy Fidelix
ainda usou expressões que se não eram homofóbicas, pegaram muito mal,
especialmente ao falar de um “enfrentamento” da maioria contra a minoria. Já
passou da hora dos conservadores adotarem uma plataforma mais inclusiva, onde
se respeita o direito da minoria, pedindo que ela não oprima a maioria. Mas daí
a falar em enfrentamento da maioria heterossexual contra a minoria homossexual
já é demais. Com certeza isso vai dar o que falar.
Tirando esse detalhe bizarro,
uma coisa deve ser lembrada: Levy Fidelix e Pastor Everaldo, dentre os
“pequenos”, precisam comer muito feijão com arroz antes de demonstrarem a mesma
assertividade de Luciana Genro. É claro que as ideias desta última são bizarras,
mas estou falando de assertividade. Ela sabe atacar, usar a técnica da
metralhadora e lançar shaming, dentre outros recursos. Ei! Levi e
Everaldo, prestem atenção na postura dela e aprendam um pouco. Já que pensar em
aprender guerra política agora é tarde demais para estas eleições, ao menos
aprendam com Luciana para irem quebrando o galho.
Aguardemos o debate da Globo.
Enquanto isso, devemos pressionar Aécio para que ele foque nos pontos de
melhoria e mantenha os seus acertos. Já Marina Silva aparenta estar desanimada
com a desconstrução feita do PT para cima dela. A continuar por esse ritmo, os
debates de hoje e o da Globo podem ser suficiente para Aécio diminuir a
diferença de vez e chegar no segundo turno.
Título e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 29-9-2014
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De 516 votos,
ResponderExcluirAécio Neves: 327
Marina Silva: 98
Dilma Rousseff: 43
Luciana Genro: 13
Eduardo Jorge: 9
Pastor Everaldo: 9
Zé Maria: 6
Eymael: 4
Levy Fidelix: 3
Mauro Iasi: 3
Rui Pimenta: 1
Eleições 2014: em quem você votará para Presidente?
Perfeita a análise do senhor Luciano Ayan. Entre os candidatos com menores chances de vitória, gostei da inteligência da candidata Luciana Genro. Excetuando-se alguns temas tocados por ele e que não gosto nem de comentar, a candidata foi espertíssima deixando a candidata Dilma de saias curtas, ao tocar no problema dos aposentados, criticando-a pela maldade feita a um terço dos segurados do RGPS. Só faltou ela dizer em alto e bom som que se eleita iria colocar os três projetos dos aposentados que estão criando mofo na Câmara dos Deputados, em votação. Seria um tiro perfeito que elevaria muito a sua posição na preferência dos eleitores, já garantindo mais de 09 milhões de votos. Minha cara Luciana Genro, por que você não priorizou em sua campanha desde o início a alforria dos aposentados?
ResponderExcluirAlmir Papalardo.