Nuno Rogeiro
Falar da esmagada Primavera de Praga, há
50 anos, é também recordar os comunistas portugueses dissidentes e resistentes,
expulsos do partido, relembrar os que lutaram nas ruas contra os tanques, e nas
empresas e escolas contra os comissários, e comemorar os que se sacrificaram
por fidelidade à sua consciência. Como Jan Palach
Foi exatamente há 50 anos que
o “comunismo” soviético esmagou a Primavera de Praga, através da Operação
Danúbio. Meio milhão de homens, 6 mil carros de combate e 800 aviões da URSS,
Bulgária, Polónia, Hungria e, reticentemente, da RDA invadiram a República
Checa para impor a paz dos cemitérios, cortesia do Pacto de Varsóvia.
Praça de Wenceslao, Praga, 21
de agosto de 1968, 8h, foto: Vladimír Lammer
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Claro que esta era também a
versão do Kremlin, apesar de nenhuma cabeça coroada da burguesia ocidental ter
levantado um dedo pelos resistentes de Praga. E não nos esqueçamos de que houve
cerca de 700 mortos e feridos civis.
A coragem dos comunistas que
se opuseram a Cunhal tem de ser lembrada. Era bom que o PCP de hoje
reconhecesse o delito de 1968, e reabilitasse os seus militantes. Em janeiro de
1969, o estudante de História e Economia Política, Jan Palach [foto], de 21 anos,
decide imolar-se pelo fogo, na Praça Venceslau, na mesma cidade ocupada de
Praga. Tinha seguido os protestos dos monges budistas contra a guerra do
Vietname. Conhecia bem toda a literatura eslava sobre o sacrifício. Correu-lhe
uma lágrima, que todos viram, quando comungou pela última vez antes do ato: no
fundo, iria cometer um suicídio.
Deixou uma carta, e, durante
três dias de sobrevivência depois das queimaduras em 100% do corpo, explicou-se
à interrogadora dos serviços de segurança.
“Porque fizeste isto?”,
perguntou a polícia, com voz embargada. “Quis exprimir o meu protesto contra
este estado de coisas, e despertar as pessoas”, responde Palach, enegrecido e
agonizante, mas com voz serena. “Portanto, querias revoltar a opinião pública?”
“Sim.” A voz torna-se mais
lenta. “E como, concretamente?” “Ateando-me fogo.” “Ateando-te fogo... Mas que
é que esperavas mesmo alcançar?”, continua a funcionária, quase maternal. “A
abolição da censura e o bloqueio do noticiário Zpráv (boletim oficial da ‘nova
verdade’ soviética)”, responde Palach, com voz subitamente mais forte.
“Todos vimos o que fizeste.
Mas o que é que isto significa?”, continua a funcionária.
“Não queremos ser presunçosos”
(tosse e murmura), “mas simplesmente temos de deixar de pensar em demasia em
nós mesmos. O Homem deve lutar contra o mal com que pode lidar”. A voz
extingue-se. José Valle de Figueiredo e Manuel Rebanda compuseram o seu Réquiem
por Jan Palach, canção que
caiu mal na outra Primavera Marcelista, como um hino em que se sintetiza tudo
isto. O homem em chamas, como outrora o reformador João Huss, como os
operários, estudantes, agricultores, artesãos e poetas da Moldávia, de Pilsen,
da Eslováquia e da Boémia, sacrificava-se ali por uma questão de consciência.
Esta semana, em Vilnius,
ministros dos ex-estados invasores e invadido, e da Roménia, da Croácia e dos
Bálticos, decidiram “uma cooperação reforçada na investigação e denúncia dos
crimes dos regimes comunistas”. Começa a fazer-se justiça a Jan Palach e aos
dissidentes portugueses.
Título e Texto: Nuno
Rogeiro, SÁBADO, nº 748, de 30 de
agosto a 5 de setembro de 2018
Os comunistas caviar portugueses são uns Bundas Moles em fraldas vermelhas cagadas!
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