Ofertada pelos sieurs JF e
JFF, tive a belíssima oportunidade de saborear um branco Pêra-Manca, colheita
2016.
Em princípio, sou arredio ao
vinho branco, preferindo o tinto. Mas tem uma explicação: normal e
lamentavelmente quando você pede um vinho branco num restaurante, a garrafa,
não tão fresquinha assim, é colocada em cima da mesa, sem mais. Ora, um minuto
depois ela começa a esquentar. E vinho branco à temperatura ambiente, que mesmo
em local climatizado não estará abaixo dos 20°, está muito acima da temperatura
de consumo recomendada.
Aliás, não é à toa que os
produtores, querendo, e muito bem, preservar e divulgar a qualidade dos seus
vinhos, informam no rótulo a temperatura ideal de consumo.
Portanto, evitando assassinato de
reputação, meus 32 anos de Varig fizeram com que eu colocasse o Pêra num frappé.
Gente querida, o vinho é bom pra
cacete! Ele preenche, sim!
⭐⭐⭐⭐⭐⭐
Muito obrigado, JF e JFF!
Confira abaixo a matéria assinada
por Pedro Garcias no jornal “Público”, do dia 30 de novembro de 2017:
O fenômeno Pêra-Manca
Pedro Garcias
Por que razão os brasileiros
gostam tanto de Pêra-Manca, o icónico vinho alentejano da Fundação Eugénio de
Almeida? Em Portugal e em Angola, o vinho também tem muitos apreciadores, mas a
devoção que lhe dedicam no Brasil não tem paralelo.
A fama do Pêra-Manca no Brasil,
só comparável à do Barca Velha e do Periquita, é um caso de estudo. Desde logo
que porque se trata de um vinho com uma história muito curta. Nem pensamos
nisso quando ouvimos o nome Pêra-Manca, mas a primeira colheita deste vinho
(falamos do tinto, que é o mais cobiçado) é apenas de 1990. Leu bem: 1990.
Nem sequer é um clássico, como o
Mouchão, por exemplo. Mas até por isso é ainda mais extraordinário o estatuto
que o Pêra-Manca alcançou em tão pouco tempo. O vinho tem só 27 anos e apenas
14 colheitas no seu historial (1990, 1991, 1994, 1995, 1997, 1998, 2001, 2003,
2005, 2007, 2008, 2010, 2011 e 2013).
A qualidade do vinho não explica
tudo. Em provas cegas, poderia ganhar e perder no confronto com outros vinhos
do Alentejo. Mas é inegável que o Pêra-Manca é hoje visto como o Barca Velha do
Alentejo. Em condições normais, esse estatuto seria do Mouchão, mas os
responsáveis da Fundação Eugénio de Almeida trabalharam melhor e foram mais
ambiciosos e ousados no posicionamento da marca, situando-a num patamar de
preço mais elevado.
Em vinhos tranquilos, só o Barca
Velha é mais caro. Em Portugal, uma garrafa de Pêra-Manca custa 200 euros (é
esse o preço recomendado para a colheita que acaba de sair, de 2013). No
Brasil, chega a custar mais de mil euros.
A produção normal de Pêra-Manca
não ultrapassa as 30 mil garrafas. A colheita de 2013 foi a mais exígua de
todas: apenas 19 mil garrafas. Cerca de um terço vai diretamente para o Brasil.
O grosso é comercializado em Portugal, mas uma boa parte do vinho alocado ao
mercado interno é comprado por angolanos e brasileiros. Sobretudo, por estes.
Há brasileiros que pagam viagens a Portugal só com a revenda no Brasil de
algumas garrafas de Pêra-Manca e Barca Velha.
(...)
O vinho da descoberta do Brasil
Uma história bem contada é meio caminho
andado para vender um vinho e o Pêra-Manca tem uma boa história por trás. Os
grandes vinhos do mundo estão quase todos ligados a monges. No caso do
Pêra-Manca, a lenda associa este nome aos frades do Convento de Espinheiro, em
Évora (hoje convertido em hotel), os quais foram donos, nos séculos XV e XVI,
de vinhedos situados num lugar com muitas pedras de granito soltas que
“mancavam” (oscilavam). E das “pedras mancas” surgiu o nome Pêra-Manca.
Os seus vinhos seriam muito
famosos na época, ao ponto de Pedro Álvares Cabral ter levado algumas pipas (a
lenda fala em tonéis!) na expedição do descobrimento do Brasil. Seria esse o
vinho, partilhado com os índios, de que fala Pero Vaz de Caminha numa das suas
cartas: “Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças
e por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos, e
alguns deles bebiam vinho".
Mais tarde, no século XIX – e
aqui não estamos no domínio das possibilidades históricas, é factual-, a Casa
Agrícola José Soares produziu durante muitos anos um vinho com o nome
Pêra-Manca. Em 1920, com a morte do proprietário e após as devastações causadas
pela filoxera, a casa fechou e o vinho não voltou a ser produzido. Em 1987, o
herdeiro da Casa Soares, José António de Oliveira Soares, ofereceu
gratuitamente a marca “Pêra-Manca” à Fundação Eugénio de Almeida, impondo
apenas uma condição: o Pêra-Manca teria que ser engarrafado com o melhor vinho
da fundação. E a promessa foi (e tem sido) cumprida.
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