Vitor Cunha
Estava convencido que não iria assistir a mais debates, mas a mórbida tentação demoníaca de ver pessoas estripadas após um acidente ferroviário levou a melhor e assim se tornou irresistível assistir ao debate entre Ana Gomes e André Ventura.
Devo dizer que gostei bem mais
do que esperaria gostar. Por um lado, porque sei que o desempenho de Ventura
irritou muita gente, mais até à velha convenção de direita do que à tradicional
esquerda. Por outro lado, porque já é tempo de alguém escandalizar o que
imagino ser uma horda obesa de autoproclamados senadores detentores da moral e
bons costumes de um regime do qual apenas se limitaram a cheirar a partir da
escadaria o apetecível odor das iguarias oriundas da cozinha.
O respeitinho não entrou aqui,
e ainda bem. Ana Gomes esteve no seu melhor desempenho de sempre, portanto de
cabeça completamente perdida em deambulações nos chavões gastos de uma
burguesia que usa “a esquerda” como um russo usa tatuagens da prisão. Uma
espécie de Manuel Alegre, mas sem o milhão de votos inúteis no bolso e a
ocasional rima. Ventura esteve normal, até parecia um autêntico Mário Soares na
Primavera de 1983 a repetir o papel já típico da direita: o atirar da toalha de
Balsemão nessa altura e o desta, o de deixar Rio sozinho e desgovernado
abdicando da crítica interna e transitando para a liga menor, a do isolamento
em pequenos clubes numa convicção teimosa de grande ética e superioridade moral,
mas que no fim não traz de comer a ninguém (é um hobby).
Ventura tem demonstrado
fragilidades, nomeadamente uma tendência do choque pelo choque sem valor
acrescentado. Contudo, quando surge a oportunidade e lhe metem o alvo à frente,
a seta espeta bem na mosca. A única recomendação que tenho, quer para a
esquerda, quer para a direita, é para que não parem de gritar “fascismo” a cada
oportunidade. Vivemos tempos interessantes. Claro, não vai dar em nada porque o
nosso destino está há muito traçado, mas vai aquecendo os corações neste
Inverno de prepotência que não leva ninguém a gritar “fascismo”.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
8-1-2021
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