Detalhes sobre caso envolvendo a Bayer só vieram à tona quase duas décadas depois
Paula Schmitt
No começo dos
anos 80 o mundo estava com medo da aids. A nova doença causava terror em muita
gente, principalmente na comunidade gay e entre usuários de drogas injetáveis,
dois dos grupos mais suscetíveis à contaminação. Mas em 1982 a doença também
começou a matar hemofílicos – pessoas cujo sangue tem dificuldade em coagular,
e que, portanto, têm maior risco de morrer de hemorragia interna.
Até então ninguém suspeitava,
mas o que estava matando esses hemofílicos não era seus hábitos sexuais nem o compartilhamento
de seringas. De fato, a culpa não era nem da própria hemofilia, a doença que
eles herdaram geneticamente.
O que começou a matar essas pessoas foi exatamente o remédio que lhes prometia salvar a vida, o Factor VIII, um concentrado de plasma sanguíneo exportado dos Estados Unidos com o vírus HIV.
Essa história – pouco
conhecida e bem pouco divulgada pela mídia, principalmente a brasileira – tem
detalhes que desafiam a credulidade. Um deles é o seguinte: a Bayer (dona do
laboratório Cutter, fabricante do Factor VIII) continuou vendendo o produto fora
dos Estados Unidos mesmo sabendo que ele estava contaminado com o vírus da
aids, e mesmo tendo uma versão do produto que já não corria o risco de estar
contaminada.
Outro fato consegue ser ainda
mais sórdido: funcionários do próprio governo norte-americano sabiam dessa
atrocidade, e optaram por encobrir o crime e escondê-lo não só dos cidadãos que
pagavam seus salários, mas também de deputados e senadores. Mas essa história
contém uma lição talvez ainda mais relevante, e que precisa ser sempre
lembrada: a de que a verdade às vezes leva muito tempo para ser revelada.
(...)
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