J.R. Guzzo
A esquerda brasileira em
geral, e o PT em particular, têm uma dificuldade congênita para aprender com a
realidade, mesmo a realidade recente. Em sua própria visão, eles estão sempre
certos; nunca cometem um erro, de nenhum tipo ou tamanho, e tudo o que fazem é
um sucesso. Olham e leem a mídia, e acreditam em tudo o que está dito lá — o
que sai impresso, ou vai ao ar, é sempre a favor deles e da sua lista de
desejos. Têm certeza, então, de que a vida é linda.
Até hoje continuam achando que Lula fez muito bem em inventar Dilma como presidente, e que ela fez um grande governo; só caiu porque era tão boa, e tão genial, que “a direita” teve de dar “um golpe” para enxotá-la do Palácio do Planalto. Foi, ao exato contrário, um processo legalíssimo de impeachment, causado do começo ao fim por um governo monstruosamente ruim. Mas o PT nunca permite que os fatos interfiram com as suas doutrinas, e até hoje estão convencidos de que nunca houve nada de errado com Dilma. Aí fica difícil.
Foto: Ricardo Stuckert |
O miserável fracasso das
últimas manifestações de rua do partido e dos seus servidores da esquerda é
mais uma prova de quanto, exatamente, é difícil. Em vez de anotarem que a
manifestação deu errado, tentarem saber por que, e trabalharem para melhorar o
desempenho na próxima, ficam dizendo a si mesmos, junto com os
jornalistas-amigos, que tudo deu muito certo. Deu errado, pela simples
observação física das ruas e pela aritmética, mas e daí? Os donos do PT e os
seus militantes querem ver outra coisa. E é essa coisa que fica valendo, no seu
mundo mental e nos relatos feitos para o público.
A manifestação na Avenida
Paulista, que funciona hoje como o termômetro para medir sucesso e fracasso em
matéria de povo na rua no Brasil, reuniu, segundo os cálculos da PM do
governador João Doria, 8 mil pessoas — uma calamidade terminal, quando se
compara com as mais de 200 mil que, no mesmo lugar, foram manifestar seu apoio
ao presidente Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro.
Os militantes se concentraram na frente do carro de som de luxo, alugado por mais de R$ 100 mil para servir de palanque e pousada para as celebridades — e foi isso. Nos quarteirões vizinhos, apenas algumas ilhas isoladas de gente; nas ruas paralelas, não foi preciso nem fechar o trânsito.
É óbvio que a maioria da
população não está ouvindo o chamado do PT para ir às ruas; quem consegue fazer
isso, hoje, é Bolsonaro. Chato, não é? Não só chato, porque nega todas as
grandes teorias hoje à venda sobre “popularidade política” no Brasil. Além
disso, é uma demonstração concreta de que o discurso usado pela esquerda para o
público está errado.
Talvez nada tenha comprovado essa realidade de maneira tão clara quanto o cartaz vermelho exibido por um grupo de manifestantes; dizia-se ali que o sindicato dos professores de São Paulo apoiava Lula, etc, etc. É duro acreditar, mas o fato é que o PT e a esquerda estão achando que manter as escolas públicas fechadas por mais de um ano é uma causa popular, digna de ser louvada entre as grandes “pautas” da manifestação; acham que isso rende voto e deixa o povo encantado.
A esquerda brasileira está se
mostrando incapaz de entender que as suas grandes causas “populares” não são
populares, não junto à realidade atual da população brasileira; estão falando
em latim para ela, com a ajuda do “centro liberal–limpinho–equilibrado” — e
colhendo nas ruas, diretamente, o resultado dos seus erros.
O primeiro a perceber isso parece ter sido o próprio Lula — ele não foi, simplesmente não foi, à manifestação da Paulista. Deveria ser o personagem principal, o ídolo a ser adorado pela multidão: nem se deu ao trabalho de aparecer. Se isso não é uma prova objetiva do fracasso dessa manifestação — que deveria lotar a praça e competir pau a pau com o ato pró-Bolsonaro — o que, então, poderia ser?
É verdade que Lula não tem
coragem de botar o pé na rua há anos; sabe muito bem (ou desconfia) que é
odiado por milhões de brasileiros. Se não fosse assim, por que se esconderia
desse jeito? Não consegue ir a um jogo de futebol do Corinthians, e não quer se
arriscar a nada; obviamente, dá sinais de que não acredita numa única sílaba
das pesquisas do Ibope e do Datafolha onde se garante que sua popularidade
nunca foi mais alta.
Mas com toda a repugnância que
tem para se misturar ao povo, Lula poderia, sem nenhum risco para sua saúde, ir
à manifestação; chegaria de helicóptero e ficaria o tempo todo protegido por um
exército de seguranças, tudo pago pelos milhões de reais que o PT coloca à sua
disposição. Não quis ir nem assim. É o melhor atestado de óbito para a
“estratégia de massas populares” do PT. Se nem Lula aparece, imagine-se as
massas.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 4-10-2021, 16h31
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