Um professor não pode usar seus títulos
acadêmicos para monopolizar a fala em nome da ciência e desqualificar o outro
Rodrigo Constantino
O “argumento de autoridade”
normalmente costuma ser uma confissão de impotência intelectual. É quando os
argumentos não se sustentam por conta própria que alguém precisa puxar da
cartola seus títulos acadêmicos, dar a “carteirada” do diploma. Quando isso
ocorre num debate entre adultos, demonstra sinal de fraqueza de quem banca o
especialista acima de todos. Mas quando acontece numa escola, entre um
professor e um aluno, aí é simplesmente algo inaceitável e execrável.
Foi o que vimos nesta semana
na Escola Avenues, em São Paulo, que custa aos pais quase R$ 200 mil por
ano. Tenho um grande amigo com filhos lá, que gosta muito da escola, que via de
regra tem bons professores, que respeitam a diversidade. Mas o professor
Messias Basques humilhou um aluno que apresentava contrapontos ao discurso
radical da convidada indígena contra o agronegócio. A título de curiosidade, o
rapaz está certo no mérito da questão, e o professor, assim como os extremistas
do MST, totalmente equivocado. Mas esse nem é o cerne da questão!
Um professor não pode tentar diminuir o aluno dessa forma perante os demais, usar seus títulos acadêmicos para monopolizar a fala em nome da ciência e desqualificar o outro. O que esse professor fez é patético, inadmissível, e não por acaso a reação nas redes sociais foi enorme. O povo se solidarizou com o aluno que contestou as narrativas dogmáticas da palestrante, endossadas pelo professor. Ele jamais poderia ser tratado dessa forma, muito menos por quem é pago para transmitir conhecimento objetivo e, acima de tudo, o desejo de aprender e buscar a verdade.
Esse lamentável episódio expõe
duas grandes mazelas em nosso país:
1. o esquerdismo arrogante e
militante quase hegemônico nas salas de aula, mesmo nas melhores escolas
privadas;
2. essa nefasta cultura do
diploma, que cega para o conteúdo, para a meritocracia, para a capacidade de
argumentação lógica. Sobre o primeiro ponto, ao menos é alvissareiro que cada
vez mais gente tenha reagido, lutado pelo espaço ao contraditório, pelo direito
de se opor a essas “verdades” enfiadas cachola adentro pelos doutrinadores
disfarçados de professores. Vou me ater aqui mais ao segundo ponto.
O diploma universitário, no
Brasil, possui um status desmedido. A ideia, bastante
alimentada pelo romantismo de esquerda, é que todos deveriam concluir uma
faculdade. Mas nem todos nasceram para isso. Nem todos aproveitam da mesma
forma esse instrumento. Pode ser perfeitamente possível que os recursos
investidos em cursos técnicos entreguem um retorno bem maior a determinadas
pessoas. Assim como pode acontecer de alguém com mestrado ou mesmo doutorado
não passar de um papagaio de clichês ultrapassados.
A
obrigatoriedade de diplomas não passa de uma reserva de mercado, típica de
países corporativistas
No Brasil, acredita-se que
formar milhares de sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, psicólogos
ou mesmo economistas, todos bastante imbuídos das crenças marxistas, representa
um passo mais importante rumo ao progresso da nação do que investir em cursos
técnicos de caráter mais prático, alinhados às demandas do mercado de trabalho,
ou então investir mais na área de exatas, sem “lacração” ideológica.
Essa é uma visão romântica,
desconectada da realidade. Para vários jovens, os anos na universidade
estudando sobre Marx ou Foucault representam pura perda de tempo (e normalmente
são mesmo!). O que eles precisam é de cursos que tornem sua empregabilidade e
sua produtividade maiores, para terem melhores oportunidades no mercado de
trabalho, produzindo riqueza no sistema capitalista. Infelizmente, a área de
humanas costuma focar na distribuição de riqueza apenas. Gente que nunca soube
como criar riqueza quer controlar o mundo e avançar sobre a riqueza produzida
pelos outros.
Quando o STF decidiu que não
seria obrigatório o diploma de jornalismo, por exemplo, a reação foi imediata.
Muitos jornalistas questionaram por que cursaram seus anos de faculdade se
agora qualquer um poderia ser um jornalista, com ou sem diploma. O simples
questionamento demonstra como vivemos na “cultura do diploma”, contrária à
cultura da meritocracia. Quer dizer então que aqueles anos na faculdade tinham
como meta somente o diploma, e não um aprendizado efetivo e útil?
A obrigatoriedade de diplomas
não passa de uma reserva de mercado, típica de países corporativistas. O que
importa é a qualidade do serviço prestado, a capacidade do profissional, e não
o fato de ele ter ou não algum diploma. Ele poderia ser um brilhante
autodidata, como era o filósofo Olavo de Carvalho perto de qualquer doutor
arrogante em nossa decadente academia. Ele poderia ser um “drop out” de
uma faculdade, como tantos empreendedores norte-americanos hoje bilionários.
Se o investimento de tempo na
universidade for rentável, ou seja, se o diploma realmente agregar valor, então
ele continuará sendo demandado e respeitado, sem a necessidade de reserva de
mercado. Mas não há motivo algum para que o governo torne obrigatória a
existência de um diploma. Isso apenas reduz a competição no setor, afastando
possíveis profissionais competentes. A prática pode ser uma escola mais
eficiente que a universidade. Vamos deixar os consumidores decidirem. Quem teme
a competição?
Alguém se segurar nesse
título medíocre contra um adolescente é mesmo prova de incrível fragilidade
intelectual
Além disso, resta perguntar:
se, para ser um poderoso presidente da República, não é exigido diploma algum
no Brasil, e até alguém como Lula pode chegar lá, então por que deveríamos
valorizar tanto esse título em outras áreas? Não é irônico que justamente os
doutores arrogantes sejam os primeiros a declarar voto no petista
semianalfabeto e com preguiça de ler? Lula, vale notar, não deve ser atacado
por não ter concluído um curso universitário, mas, sim, por ser corrupto, socialista
e ter praticamente destruído nossa economia. Dilma, seu “poste”, tinha diploma,
era arrogante e achava que entendia de economia, e conseguiu causar estrago
ainda maior que o antecessor.
PS: além da arrogância de
cuspir títulos, há o caso de falsos títulos. Parece ser o caso desse professor
autoritário. Um curso em Harvard não é necessariamente algo impressionante. Dá
para obter um “certificado em estudos afro-latino-americanos” por apenas US$
250 on-line, e pelo visto foi exatamente isso que o tal professor fez durante a pandemia. Alguém se segurar nesse título medíocre contra um
adolescente é mesmo prova de incrível fragilidade intelectual, não?
PS2: a escola soltou uma nota
acovardada, afirmando que o aluno discordou da palestrante de forma
desrespeitosa, e que depois foi “corrigido” pelo professor, ainda que de forma
“inapropriada”. Não há meio-termo possível aqui. O aluno tem todo o direito de
contestar, e está lá para isso mesmo. O professor jamais poderia ter feito o
que fez, que não se tratou de correção alguma, mas de uma tentativa de
humilhação baseada em seus títulos inexpressivos. Apelo à autoridade não é algo
aceitável numa sala de aula!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, revista Oeste, nº 107, 8-4-2022
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