segunda-feira, 4 de abril de 2022

O voto obrigatório é uma deformidade

Se o voto obrigatório não existe em nenhuma democracia séria do mundo, por que teria de existir aqui?

J. R. Guzzo

De todas as deformidades impostas ao Brasil pela Constituição de 1988, poucas são tão estúpidas quanto o voto obrigatório. O que se entende por “democracia brasileira”, como nos provam todos os dias o ministro Alexandre de Moraes e seus colegas do Supremo Tribunal Federal, é apenas uma contrafação — basicamente, uma salada de regras que dá poderes de ditador (e nenhuma responsabilidade) a gente como eles e outros ocupantes dos galhos mais altos da máquina do Estado. É inevitável, assim, que se multipliquem como ratos os assaltos do aparelho estatal às liberdades individuais dos cidadãos. Um deles, o voto obrigatório, tornou-se especialmente absurdo neste momento, em que o naufrágio da “Terceira Via” entre Bolsonaro e Lula está deixando muita gente sem candidato para as eleições presidenciais de 2022. As pessoas não querem votar em ninguém. Mas são obrigadas a ir até à seção eleitoral para apertar o botão de uma máquina que mostrará, se tudo correr bem, que elas não querem votar em ninguém.

Por que raios o cidadão tem de votar se ele não quer votar em nenhum dos candidatos disponíveis? Já é um delírio, do ponto de vista puramente mental, que alguém seja obrigado a exercer um direito — é mais ou menos como obrigar o sujeito a se casar, ou a ir à missa, ou a guiar um carro. Direito é uma coisa, obrigação é outra: direito é sair de casa quando você quiser, obrigação é pagar imposto. Mas os pais da pátria que empurraram essa Constituição para cima do Brasil misturaram de propósito as duas coisas. De um lado, queriam obrigar as pessoas a votar para explorarem, em seu favor, a ignorância maciça da maior parte dos eleitores. De outro, quiseram criar mais um mandamento para reforçar a situação de vassalo que o cidadão brasileiro tem em relação ao Estado.

Não há nada mais hipócrita do que ouvir um magnata que anda por aí dando entrevista, ou um “cientista político”, ou um desses editoriais edificantes que a imprensa publica sobre o voto obrigatório. Todos dizem que a obrigação de votar “protege” e “melhora” a democracia. Mentira. Ele apenas protege e melhora a vida dos que, de um jeito ou de outro, mandam na máquina pública — ao impedir que abstenções extremas deixem claro o desprezo fundamental da população brasileira por seus políticos e suas instituições. Não existe voto obrigatório em nenhuma democracia séria do mundo. Por que teria de existir no Brasil?

Neste momento, o que a Constituição e as elites que mandam na vida pública estão impondo é um disparate. “Você, que não quer votar em nenhum dos candidatos, tem o direito de votar em branco ou anular o seu voto”, dizem. “Não perca a oportunidade de exercê-lo no dia da eleição, sob pena de multa e de outras perseguições mesquinhas por parte dos agentes do Estado.” Mas não seria muito mais simples, nesse caso, o sujeito ficar em casa, ou fazer o que lhe der na telha, como ocorre em todos os países realmente democratas? É óbvio que sim. Só que aqui não pode ser assim, porque nós temos uma “Constituição Cidadã”. Nosso direito é obedecer. Vivemos sob o comando de ditadorzinhos. Este é o Brasil 2022.

Título e Texto: J. R. Guzzo, Gazeta do Povo, via revista Oeste, 4-4-2022

3 comentários:

  1. O texto acima, impecável, em resumo, deixa claro o seguinte: somos um povo que não conhece as suas próprias leis. A maioria nem sabe dizer o que é lei. Antes ainda existia uma merda conhecida como "Constituição Federal". Mas a justiça, uma vagabunda cegueta de todos os olhos existentes (em nosso corpo são três), fez a gentileza de usa-la nos banheiros da Corte Suprema. Acabou Constituição "Fedemal". Ora, se a Corte Suprema (kikikikikikikiki) que deveria ser a maior guardiã desse calhamaço de bosta... agiu dessa forma literalmente espúria, o povinho (com antolhos e cabrestos nos olhos) ficou ainda mais perdido que cego em tiroteio. Ser obrigatório o ir às urnas, grosso modo votar, prova que não sabemos onde temos a porra do nariz. Nem o nariz e nem os demais órgãos do corpo humano que respiram. Não querendo falar (mas já o fazendo) em nossos futuros candidatos. Todos uns figurões formados em "putologia cênica" para os filhos da Mãe Bandida nenhum botarem defeitos. Exemplos? Lula, do PT (Partido dos Trambiqueiros) João Dória, do PSDB (Partido dos Salafrários do Brasil), Ciro Gomes, do PDT ( Partido dos Trapaceiros) etc., etc. Todas essas "excelências fichas limpas, sem processos ou máculas que venham ou que possam envergonhá-los. O Brazzzil, cansei de dizer reiteradas vezes, está ferrado, massacrado, enrolado, acabado, na lama, depauperado e sem saída. Promessas de melhoras é o que não faltam nos cardápios dos "presidenciáveis". No final das contas, quem se ferra somos nós, os descabeçados e imbecis partícipes da famosa (porém falida) raia miúda. Se você que está lendo meu comentário não votar, você está morto. Não come, não viaja, não tira passaporte, não fode, e não fodendo não faz filho, não engrandece a nação com a sua porra. Melhor votar. Vote. Nossos candidatos são jóias. Se alguém gritar "pega ladrão"... só fica o dezenove dedos. Esse nunca roubou nada. Nunca foi processado. Sergio Moro, o perseguiu enquanto juiz. Aliás, perseguiu tanto, que descobriu que ser juiz nessa terrinha de medíocres é como dar pérolas aos porcos: melhor é sentar o rabinho na cadeira de PRESIDENTE. Ser presidente, não é para qualquer um. O único que disse à que veio, está sendo perseguido. Voltamos aos velhos tempos de Pilatos. Lembram dele? Pilatos foi aquele que lavou as mãos na hora de decidir entre Cristo e o Ladrão. Pilates, mais espero que ele, mandou Barrabás lamber sabão, Cristo para o Gólgota e, por fim, cansado de ser "viadinho" de seu irmão Pilatos, foi mais longe na hora da lavagem: mandou água com abundância no olho do cu.
    Aparecido Raimundo de Souza
    de Sertãozinho, interior de São Paulo

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  2. O VOTO OBRIGATÓRIO EVITA QUE OS VOTANTES DA CATERVA SE ELEJAM.
    SEM O VOTO OBRIGATÓRIO MUITO PARTIDÁRIOS DO SOCIALISMO SE ELEGERIAM POR UM PÃO COM MORTADELA. PRINCIPALMENTE O MOLUSCO ALEIJADO.

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    Respostas
    1. Cara, estou pensando nisso, e vou abrir uma pesquisa aqui na barra lateral.

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