Aparecido Raimundo de Souza
FUI BUSCAR MEUS AVÓS na rodoviária e, quando chegamos na portaria do prédio onde eu morava com minha família, ao procurar pelas chaves (havia esquecido principalmente a da entrada do edifício), toquei o interfone. Na primeira e segunda vez, ninguém deu sinal de vida. Insisti e, finalmente, na sexta buzinada, a Francisca, nossa empregada, atendeu, afobada:
— Quem é?
— Abre, Francisca.
— Quem é?
— Eu...
— Eu quem?
— Troncoso
— Ok, meu filho. Abriu?
— Não...
— Abriu?
— Não...
— E agora?
— Continua travada.
— Raios! Abriu?
— Não.
— Diabo, sô. E agora?
— Não, simpática. Melhor você descer com a chave.
— Abriu?
—Agora sim, deu certo. Obrigado.
No interregno intermediado entre o chato indigesto e causticante do “abre e o não abre” do mecanismo ao ser acionado, meu avô Serafim (lá do “interiorzão” de Andirá, no Paraná), exumou da sua cabeça branca um velho ensebado e surrado chapéu de palha. Em seguida, se virando para minha avó Lucinda observou, muito sério e visivelmente enfezado:
— Ta vendo, amor? Vê se pode!
— O que está acontecendo? Não é aqui que a “Tiana” mora?
— Não, querida. O problema é o nosso neto...
— O que tem ele, amor?
— Espia a cara do engraçadinho! O tonto pensa que “somos besta”. Depois que cresceu deu pra falar com a parede.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, São Paulo. 5-8-2022
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