sexta-feira, 5 de agosto de 2022

[Aparecido rasga o verbo] Se eu contar, será que alguém acredita?

Aparecido Raimundo de Souza

FUI BUSCAR MEUS AVÓS na rodoviária e, quando chegamos na portaria do prédio onde eu morava com minha família, ao procurar pelas chaves (havia esquecido principalmente a da entrada do edifício), toquei o interfone. Na primeira e segunda vez, ninguém deu sinal de vida. Insisti e, finalmente, na sexta buzinada, a Francisca, nossa empregada, atendeu, afobada:
— Quem é?
— Abre, Francisca.
— Quem é?
— Eu...
— Eu quem?
— Troncoso

— Ok, meu filho. Abriu?
— Não...
— Abriu?
— Não...
— E agora?
— Continua travada.
— Raios! Abriu?
— Não.
— Diabo, sô. E agora?
— Não, simpática. Melhor você descer com a chave.
— Abriu?
—Agora sim, deu certo. Obrigado.

No interregno intermediado entre o chato indigesto e causticante do “abre e o não abre” do mecanismo ao ser acionado, meu avô Serafim (lá do “interiorzão” de Andirá, no Paraná), exumou da sua cabeça branca um velho ensebado e surrado chapéu de palha. Em seguida, se virando para minha avó Lucinda observou, muito sério e visivelmente enfezado:
— Ta vendo, amor? Vê se pode!
— O que está acontecendo? Não é aqui que a “Tiana” mora?
— Não, querida. O problema é o nosso neto...
— O que tem ele, amor?
— Espia a cara do engraçadinho! O tonto pensa que “somos besta”. Depois que cresceu deu pra falar com a parede.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, São Paulo. 5-8-2022

Anteriores: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-