Jonah Goldberg
(…)
Em 22 de novembro de 1963, John F. Kennedy foi assassinado em Dallas, Texas. Imediatamente, Dallas foi batizada de “a cidade do ódio”. Um jovem repórter de TV chamado Dan Rather ouviu um comentário de que alguns escolares em Dallas haviam batido palmas quando souberam da morte de Kennedy. O rumor não era verdadeiro, e a associada local da rede CBS recusou-se a contar a história. Então Rather driblou a rede e noticiou o caso assim mesmo.
Ele não era o único ansioso
para apontar dedos acusatórios na direção da direita. Dentro de minutos, os
assistentes de Kennedy culparam direitistas loucos e anônimos. Uma manchete
declarou que o assassinato havia ocorrido “no fundo do coração odiento do
Texas”. Mas quando se tornou claro que um marxista louco havia inventado tudo,
os defensores de Kennedy ficaram deprimidos. “Ele nem mesmo teve a satisfação
de ser morto por causa dos direitos civis”, lamentou Jackie com Bobby Kennedy
quando recebeu dele a notícia. “É – tinha de ser algum estúpido
comunistazinho.”
Ou talvez não, calcularam os
fabricantes de mito dos Kennedy. Eles começaram a criar a fábula de que Kennedy
havia morrido combatendo o “ódio” – um código convencionado, então e agora,
para designar a direita política. A história transformou-se em lenda porque os
liberais estavam desesperados para dar ao assassinato de Kennedy um significado
mais exaltado e politicamente útil.
Repetidamente, toda a elite
liberal, liderada pelo New York Times – e até pelo papa! –, denunciou o “ódio”
que havia tirado a vida de Kennedy. O juiz Earl Warren, da Suprema Corte,
resumiu a sabedoria convencional – algo que ele estava sempre disposto a fazer
– quando teorizou que o “clima de ódio” em Dallas – código para designar pesada
atividade direitista e republicana – havia impelido Lee Harvey Oswald a matar o
presidente.
O fato de que Oswald fosse um
comunista rapidamente deixou de ser uma inconveniência e virou prova de algo
ainda mais sinistro. Como poderia, perguntaram os liberais, um marxista genuíno
assassinar um titã liberal que defendia o progresso social? O fato de que
Kennedy fosse um intenso anticomunista parecia não ser registrado, talvez
porque os liberais tivessem se convencido, como consequência da era de
McCarthy, de que a verdadeira ameaça à liberdade sempre tem de vir da direita.
O marxismo de Oswald fez com que os liberais entrassem numa negação ainda mais profunda, única escolha de que dispunham – ou teriam que abandonar o anticomunismo. E assim, ao longo da década de 1960, as teorias conspiratórias sofreram uma metástase, e o atirador marxista tornou-se um bode expiatório. “Cui bono?”, perguntaram-se os Oliver Stone desde então até hoje. Resposta: o complexo militar-industrial, aliado às forças escuras da reação e da intolerância, é claro.
Pouco importa que Oswald já
tivesse tentado assassinar o ex-major-general e proeminente porta-voz
direitista Edwin Walker ou que, como mais tarde relataria a Comissão Warren,
“tivesse uma extrema aversão à direita”.
Em meio à névoa de negação,
remorso e confusão que se formou em torno do assassinato de Kennedy,
desenvolveu-se uma resposta estratégica informal que serviria ao propósito de
uma florescente Nova Esquerda, bem como para aplacar a consciência dos liberais
em geral: transforme Kennedy num mártir polivalente de causas que ele nunca
assumiu e de políticas que ele nunca subscreveu.
De fato, ao longo dos anos
1960 e depois, cultivou-se a lenda de que, se pelo menos Kennedy tivesse
vivido, nunca teríamos nos atolado no Vietnã. Essa é a presunção central do
livro de Arthur Schlesinger, Robert Kennedy and his times (Robert
Kennedy e sua época). Theodore Sorensen, Tip O’Neil e inúmeros outros
liberais subscreveram essa visão.
Uma peça popular na Broadway, MacBird,
sugeria que Johnson havia assassinado JFK a fim de assumir o poder. Mas o
próprio Robert F. Kennedy reconheceu, numa entrevista de história oral, que seu
irmão nunca considerou seriamente a retirada do Vietnã e que estava comprometido
com a vitória total.
Kennedy era um anticomunista
agressivo e um falcão da guerra fria. Fez campanha falando de um fictício “hiato
de mísseis”, ou seja, de uma suposta inferioridade americana com relação ao
número de mísseis soviéticos, num esforço bastante bem-sucedido de passar para
a direita de Richard Nixon no que se referia à política externa, tentou
derrubar Castro na Baía dos Porcos, levou o mundo à beira de uma guerra nuclear
durante a crise dos mísseis cubanos e nos envolveu profundamente no Vietnã.
Meras três horas e meia
antes de morrer, Kennedy estava se ufanando perante a Câmara de Comércio de
Fort Worth de haver aumentado os gastos de defesa numa escala maciça, inclusive
elevando em 600% os gastos com forças especiais de contrainsurgência no Vietnã
do Sul.
No mês de março daquele ano, Kennedy
havia pedido ao Congresso que utilizasse cinquenta centavos de cada dólar
federal para gastos com defesa.
(…)
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