A ordem pública vem sendo ignorada pela atual administração, que tem bilhões em caixa. Subestimar esta pauta pode ser um tiro no pé para o atual prefeito, na hora de uma reeleição
Quintino Gomes Freire
Tanto já falamos aqui sobre o caos que anda a cidade do Rio. Será que colocar exclamação na manchete adianta? Resolvi testar. O prefeito Eduardo Paes não pegou um bom negócio quando assumiu a Prefeitura do Rio em 2021, conseguiu resolver vários pepinos no orçamento municipal, e vem dando sinais de recuperação na conservação e até nos transportes, apesar de que o resultado vai demorar a ser sentido. Na conservação o dilema é: dá para consertar mais rápido do que os vândalos destroem?
Foto: Rafa Pereira/Diário do Rio |
Verdade que esta administração
tem várias conquistas e é inegável, Paes ama o Rio. Mas isso não vem bastando e
ele precisa passar a agir mais forte para devolver as ruas e o sossego ao
carioca. Agir com a mesma animação, alegria e envolvimento com que colabora com
a campanha presidencial de seu candidato ajudaria bastante.
A Prefeitura do Rio tem um bom secretário de Ordem Pública, Breno Carnevalle, que tem lutado contra os ferros velhos ilegais, construções ilegais das milícias e tantas outras frentes, mas principalmente na Zona Oeste. São lutas árduas e longas, mas parece que vem esquecendo o arroz com feijão de uma cidade, a camelotagem ilegal que emporcalha a cidade e destrói o comércio formal, a imundície causada pela mendicância que flerta com o crime, o cuidado com o patrimônio público que a Conservação gasta milhões de reais por mês para manter e o sossego do cidadão.
Eu e outros colunistas
do DIÁRIO DO RIO já denunciamos aqui como a cidade está
invadida de camelôs, como a Uruguaiana virou um verdadeiro mercado andino, como bancas de jornal vendem
de tudo menos jornal, ou não vendem nada e se tornaram ruínas a céu aberto com
fedor de urina. Andar por alguns pontos da cidade se tornou impossível, e não
dá mais para culpar Marcelo Crivella; neste momento é
exclusivamente culpa da gestão Paes e de seus subprefeitos. Crivella
abriu a porteira para a desordem, mas é Paes que não quer fechá-la. Talvez
a vontade de serem candidatos em 2024 faz com que não queiram uma ação mais
forte contra a desordem, sabe como é, pode tirar votos; ainda mais quando o
eleitorado que Paes resolveu abraçar neste momento é o que menos se incomoda
com a desordem. Ao menos aquela que fica longe da casa deles.
Outro problema que só faz
aumentar são os bares que insistem em música ao vivo, ou mesmo mecânica, para
atrair clientes, sem qualquer infraestrutura para isso. Se tiver acústica, ou
em locais exclusivamente comerciais, perfeito, o Rio de Janeiro é uma cidade
turística e todos gostam de uma boa música, que atraia turistas. Mas locais
abertos, sem um mínimo tratamento de som, com música às alturas? E a Prefeitura
não fazer nada em áreas residenciais?
Esse problema está na Orla, em
Jacarepaguá, na Zona Norte, Oeste, qualquer região do Rio da mais pobre a mais
rica sofre com quiosque, bares, restaurantes, botequins, que insistem em som
para aumentar seus lucros, nem que seja varando a madrugada. Quem paga? O
sossego do carioca, afinal, isso acontece à noite e no fim de semana. E coitado
de quem quer descansar, é obrigado a colocar janelas antirruído ou comprar
protetores auriculares. A solução para uma cidade que dá cada vez menos atenção
aos seus cidadãos. O caso do ’Bar Vizinhando’ e do ‘Bossa’ na Domingos Ferreira
em Copacabana é emblemático. Leva tanta gente à loucura que outro dia um maluco
celerado atirou azulejos cortantes em cima dos frequentadores do bar. Tanto a
Domingos Ferreira como a Aires Saldanha, em Copacabana, vão acabar assistindo
uma tragédia se o Município continuar deixando correr solto. E estamos falando
de um Município com bilhões em caixa: o que não faz…não faz
porque não quer.
Que Paes não se engane; se
nada for feito, o eleitor vai procurar em 2024 quem prometa combater estes
excessos, e já está procurando outro candidato. Não se assuste nosso ‘ex-ex’ se
o senador Carlos Portinho (PL), pré-candidato a prefeito pela
direita, começar com um discurso de Ordem Urbana que o leve a
crescer nas pesquisas e ameaçar o que poderia ser uma reeleição muito
fácil do atual alcaide. É fato notório o crescimento dos setores mais
conservadores em todo o país, e quem subestimar isso e continuar acreditando em
ipecismos e datafolhismos pode estar dando um tiro no próprio pé. A pauta da
ordem pública, dentro daquela história que ’prefeito é síndico’, é a maior
manifestação possível do conservadorismo e da “direita” na política local. Na
cidade, do jeito que está, observa-se esta pauta em claro crescimento, até
porque nem o ’esquerdista’ gosta de um quiosque aos berros, sem acústica, na
porta de sua casa.
É melhor e é salutar ver Paes
acordar para os cariocas, antes que nós, como povo, cansemos dele. Afinal, ele
pode até amar o Rio, mas nós também queremos continuar amando. Um amigo e
eleitor poderia dizer: Dudu, ponha suas barbas de molho.
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário do Rio, 17-10-2022
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