Montagem Revista Oeste/Ricardo Stuckert/PR/Shutterstock
O governo insiste em “aumentar o consumo”
dando reduções artificiais de preço, quando a única maneira eficaz de levar um
cidadão a comprar mais é aumentar a sua renda — algo que só é possível com
crescimento econômico
J. R. Guzzo
O “carro popular” que anda em
discussão por aí é o retrato mais nítido do que é realmente o governo Lula na
vida real da economia brasileira — uma trapaça permanente, mal-arrumada e sem
benefício nenhum para o interesse público, que só é levada adiante, o tempo
inteiro, pela propaganda oficial. É sempre a mesma tapeação: uma medida que
“enfim” se propõe a ajudar os “pobres deste país” com a doação de algum
benefício material. É sempre o mesmo resultado: o Tesouro Nacional transfere
dinheiro público para uma facção qualquer da confederação de parasitas que
manda no Brasil, e o pobre de verdade não ganha coisa nenhuma.
O “carrinho” do pobre, como diz Lula e a mídia repete no piloto automático, é como o voo de avião com passagem “baratinha”, o apartamento popular com “terracinho” e outros prêmios de programa de auditório que ele passa a vida prometendo ao “povo”. Na prática não acontece nada, a não ser a entrega de impostos a um punhado de amigos capazes de falar mais alto que os outros dentro do palácio presidencial. “Carro popular” é como a “picanha”: não existe, a não ser no churrasco para os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, ou em outros folguedos dessa corte de Luís XV subdesenvolvida, brega e gulosa que continua a engordar em Brasília com o trabalho do povo brasileiro.
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“Carro popular” é como a “picanha”: não existe, a não ser no churrasco para os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Foto: Shuterstock |
O “carro popular” do governo Lula é tudo o que pode existir de mais atrasado em qualquer proposta de “política industrial”, como eles gostam de dizer: entrega dinheiro de todos os brasileiros para a produção de um bem de qualidade ruim, que não serve para nada a não ser ajudar as montadoras a continuarem operando com métodos industriais da idade da pedra — e, quem sabe, permitir que a classe média economize uns trocados para ter um segundo carro na garagem. A proposta, pelo que deu para entender até agora, reduz impostos federais e quer oferecer ao público uma carroça por R$ 60 mil em vez de R$ 70 mil, digamos — como se algum pobre brasileiro, no mundo das realidades, tivesse dinheiro para pagar um carro de R$ 60 mil ou qualquer preço parecido.
No caso, o único efeito
prático será aumentar duas coisas: a frota que está batendo lata na rua com
carros de terceira categoria e o estoque nacional de ferro-velho. É isso, na
prática, que produz a “política econômica com preocupação social” do governo
Lula — atraso direto na veia, com os “pobres” servindo de biombo para a
promoção de interesses privados dos amigos, e dos amigos dos amigos.
Eis aí, exposto à luz do sol,
mais um exemplo do que talvez seja um dos piores traços do caráter de Lula como
homem público — a ignorância mal-intencionada. Ele não tem, comprovadamente,
capacidade para tomar nenhuma decisão que seja de fato competente — e, ao mesmo
tempo, tem sempre um propósito viciado nas decisões que toma. Ou seja: decide
errado, e pelo motivo errado. Acaba contaminando todo o seu governo, pois o
presidente vive num bioma povoado unicamente de puxa-sacos sem nenhum vestígio
de espinha dorsal, incapazes de lhe dar uma única opinião honesta — seja qual
for a estupidez que ele quer impor ao país, todos concordam.
No caso do carro “para o
pobre” a estupidez é múltipla. O governo insiste, aí, na miragem de “aumentar o
consumo” popular dando reduções artificiais de preço nisso ou naquilo, quando a
única maneira eficaz de levar um cidadão a comprar mais é aumentar a sua renda
— algo que só é possível com crescimento econômico, o que, por sua vez, só é
possível com a combinação de investimento privado em massa e plena liberdade
para os sistemas de produção.
O governo Lula, na sua ação
concreta, é francamente hostil a isso tudo. Acha que a única maneira de
investir é aumentar o “gasto público” — algo que no Brasil só serve para
transferir o resultado do trabalho de todos para o bolso das mesmas minorias
que formam essa elite inepta, preguiçosa e dependente do Erário que manda no
país desde Pedro Álvares Cabral. Fizeram isso durante quase 14 anos seguidos,
quando tiveram a chance de aplicar o seu “modelo” no governo. Produziram a
maior recessão da história econômica do Brasil. Estão fazendo exatamente a
mesma coisa de novo.
O carro “baratinho” é uma
idiotice, também, porque se coloca diretamente contra toda a lógica que existe
hoje na indústria mundial. Um produto só vale alguma coisa, de verdade, se
puder ser vendido no exterior; se não serve para ser exportado, não serve para
nada que faça sentido efetivo do ponto de vista econômico. Para isso, qualidade
e tecnologia de ponta são essenciais — e o governo Lula está propondo utilizar
dinheiro público para fabricar produtos de baixa qualidade e com tecnologia em
estado de coma.
Pense um pouco. Passa pela
cabeça de algum sujeito normal, na Alemanha, na Inglaterra ou nos Estados
Unidos, comprar um carro produzido no Brasil? Por que raios faria isso, se o
automóvel brasileiro é pior e mais caro? Já é assim, hoje, com qualquer modelo.
Imagine-se, então, com o “carrinho” que Lula quer fazer no seu programa
“social”. É uma negação de tudo o que está valendo no mundo como ele é hoje.
Para completar o desastre, o governo quer incentivar o uso do “componente
nacional” na fabricação desse seu novo portento. É o oposto, exatamente, do que
a realidade atual exige — cadeias produtivas capazes de importar pelo menor
preço possível, de qualquer lugar do mundo, componentes de qualidade máxima
para montar o melhor produto final e colocar esse produto com chances reais de
venda no mercado internacional. Se não tem acesso ao mercado externo, é produto
ruim; se é produto ruim, o governo não pode ajudar com subsídio.
Numa
época em que a indústria mundial fala em nanociência, robôs e inteligência
artificial, Lula fala, acredite se quiser, em “trocar tecnologia” com a Venezuela
Vale para qualquer coisa — a
chave de tudo é a capacidade de competir. É por isso, e por nenhuma outra
razão, que o Brasil não exporta equipamentos de tomografia, máquinas de
precisão e reatores atômicos. Quem iria comprar? Em compensação, faz sucesso
vendendo no exterior aviões a jato da Embraer — que importa tudo o que encontra
de melhor no mundo para montar os seus produtos aqui no Brasil. O economista
Samuel Pessôa deu há pouco, no jornal O Estado de S. Paulo, uma
entrevista que resume com notável clareza toda essa situação.
“O governo petista, na sua
outra fase no Planalto, colocou R$ 400 bilhões no BNDES para gerar fundos de
crédito subsidiado”, diz Pessôa. “Os estudos que conheço mostram que isso não
gerou muitos resultados.” Só vale a pena investir dinheiro público em
subsídios, afirma ele, se for para a produção de coisas que possam ser
exportadas. “Muitos falam dos subsídios agrícolas, mas a agricultura exporta, e
muito”, diz o economista — mais exatamente, exportou US$ 160 bilhões em 2022,
ou cerca de metade de todas as exportações do país. E a indústria
automobilística? Exportou quanto no ano passado? Mal passou dos US$ 10 bilhões,
e tudo vendido na periferia do mercado. “No dia em que a nossa indústria
conseguir fazer um carro que compita no mercado internacional, aí eu vou achar
que algum tipo de subsídio vai fazer sentido. Mas essa é uma indústria que está
conosco há 60 anos e, tirando um ou outro período relativamente curto, nunca
gerou capacidade exportadora.”
É simples. Uma fábrica de
carros só faz nexo como negócio, hoje em dia, se for capaz de produzir 300 mil
unidades do mesmo modelo por ano. Para isso, precisa exportar, porque só as
vendas internas não produzem escala suficiente — e para exportar precisa da
qualidade, que é o exato contrário da proposta do “carrinho barato”.
Truques como o “carro barato”
não levam nada de útil para a sociedade, pois os problemas do desenvolvimento
brasileiro vão muito além disso. Pessôa lembra os exemplos da Coreia, Taiwan,
Japão e China. “Olhem a qualidade educacional desses países”, diz ele. “Eles
não têm indústria porque dão subsídio, mas porque trabalham muito, estudam
muito, poupam muito.” Não tem nada a ver com o que faz o governo Lula; querem
aqui, justamente, sabotar o trabalho, o estudo e a poupança pública. Ainda há
pouco, Lula e o vice, Geraldo Alckmin, falavam de uma “política de
neo-industrialização” para o Brasil. Poderiam ser duas múmias discutindo o seu
programa de construção de pirâmides no Egito dos faraós. Numa época em que a
indústria mundial fala em nanociência, robôs e inteligência artificial, Lula
fala, acredite se quiser, em “trocar tecnologia” com a Venezuela — isso mesmo,
a Venezuela, que não consegue produzir um parafuso de rosca.
Pior: não passa pela cabeça de
nenhum dos dois, e de ninguém no governo, que simplesmente não existe sociedade
desenvolvida, com maior igualdade e mais justiça, sem níveis de educação
muitíssimo superiores aos do Brasil — que ocupa os piores lugares do mundo no
conhecimento da matemática, das ciências e da simples capacidade de leitura,
por culpa exclusiva e direta da qualidade desastrosa do ensino público. Como
lembrou a economista Cláudia Costin no mesmo O Estado de S. Paulo,
nenhum país conseguiu se industrializar dando apenas quatro horas de aula por
dia, como o Brasil. E aí — o que Lula e Alckmin vão fazer com o seu programa de
neo-industrialização? Se o governo pudesse, haveria só três horas, pois o
Sistema Lula-PT vai estar sempre do lado dos interesses da sua clientela, e não
da maioria. Seu projeto educacional é o projeto do sindicato dos professores, e
o sindicato dos professores tem interesses opostos aos interesses dos alunos;
na epidemia de covid, para ficar só no último exemplo, foram esses sindicatos
que impediram por mais tempo a reabertura das escolas. É a frente unida pela
preservação da ignorância, que torna impossível o avanço social do Brasil. É o
triunfo do eterno conto do vigário do governo Lula.
Título e Texto: J. R. Guzzo, Revista Oeste, nº 167, 2-6-2023
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