Valdemar Habitzreuter
É instigante como o Brasil se
deixa guiar por impulsos incontroláveis de megalomania para realizar projetos
que só países desenvolvidos estariam aptos a realizar; e nem estes se lançam
incondicionalmente a projetos que atestariam ou implicariam algum dano à sua
população. Refiro-me aos projetos para construções e reformas de inúmeros
estádios de futebol para a copa do mundo em 2014 e a construção da Vila
Olímpica no Rio para os jogos olímpicos de 2016, a custos bilionários. Talvez,
os opositores contestariam e diriam que o dinheiro vem da iniciativa privada.
Pura falácia. O BNDES é o esteio de todos estes projetos, liberando dinheiro
público, sim. O retorno desse dinheiro é uma incógnita. Pode ser vantajoso para
alguns espertalhões, mas não para a parcela pobre da sociedade.
Não haveria celeuma alguma se
o Brasil já tivesse conquistado o status de nação desenvolvida, sem as injustiças
nuas e cruas que vilipendiam nossa sociedade. Há um desnível social gritante e
desafiador a ser superado. Vemos funestos bolsões de pobreza espalhados nesta
extensão continental que é o Brasil, e o governo, com artimanhas e discurso
vazio, promete o fim da pobreza extrema. Mas, o que observamos não é bem isso.
Os bilhões de reais de impostos arrecadados anualmente não são aplicados como
deveriam ser. São malversados, sem planejamento sério e sem estabelecer
prioridades.
Temos alguns projetos bem-intencionados
que atualmente estão sendo executados como o PAC e “Minha casa, Minha vida” das
quais o governo se ufana e que favorecem uma ínfima parcela da população, mas
são ainda metas pífias em comparação ao destino que se dá ao grosso do dinheiro
para outras finalidades que não a de dirimir a realidade dura de outros tantos
milhões de brasileiros. A demagogia, infelizmente, é ainda a força motriz que
orienta a consciência de nossos políticos, não têm consciência do dever a que
foram chamados pela voz do povo. O que priorizam é o poder pelo poder e não o bem-estar
da população como um todo.
Estamos assistindo, no
presente, a euforia que está dominando os brasileiros pelos próximos eventos
programados em nosso país. Teremos a copa das confederações, a copa do mundo e
as olimpíadas. Eventos aos quais está voltada toda atenção nacional e
internacional. Todos os olhos se voltam para o Brasil para assistir a grandeza
desses espetáculos. E o governo esforça-se para fazer bonito. São megaeventos
que exigiram projetos mirabolantes cuja previsão orçamentária inicial foi
desprezada para agregar novos valores, elevando o custo das obras. Tem-se a
sensação de que a prioridade do governo é dar pão e circo ao povo para aliviar
os sofrimentos sem conta aos quais está submetido no dia a dia. Serão
espetáculos fantásticos que induzem o povo a um verdadeiro delírio e, assim,
fazer desaparecer as agruras da vida. O governo ciente dessa consciência
coletiva investe pesado para que o povo se deleite com tudo isso, fazendo-o
esquecer de sua real situação de penúria, que ainda atinge a maior parcela da
população brasileira.
Estes eventos não são outra
coisa que migalhas que soam espetaculares, mas, no fundo, representam apenas a
ilusão de que ainda se vive. E o mais grave é ver que o governo, na figura de
seus políticos, é ainda por cima idolatrado, aplaudido e reconduzido ao poder
pela gratidão das migalhas. A massa deixa-se ainda hipnotizar pelo engodo do
pão e circo.
Já paramos para pensar no
custo que acarreta a construção e reforma dos doze estádios de futebol para a
copa de 2014? É simplesmente estonteante os bilhões de reais que estão sendo
enterrados nestas arenas para proporcionar panem et ciercences ao povo,
querendo passar uma imagem de pujança e progresso. No entanto, estamos vivendo
uma realidade de grandes desníveis sociais, com grandes desafios a enfrentar,
tais como investir concretamente em saneamento básico, saúde, educação, acabar
com a violência nas grandes cidades, etc, etc, etc. Mas, tudo isso parece ficar
em segundo plano. O que se evidencia é uma mania de grandeza de querer deixar
transparecer ao mundo que somos uma potência mundial, e disfarçar as
disparidades no seio da nossa sociedade. Passa-se uma imagem distorcida da real
situação brasileira, como se o gigante adormecido rugisse agora plenipotente e
como se tudo transcorresse às mil maravilhas para o povo brasileiro.
Pergunto: a quem se destina a
construção destes estádios gigantescos e vistosos? Aos pobres? Que benefícios,
por exemplo, a arena de Manaus, orçada em mais de meio bilhão de reais, vai
trazer às famílias ribeirinhas de Manaus que vivem numa miséria intolerante?
Que benefícios os outros estádios trarão aos necessitados dos respectivos
Estados? Que fazer deles depois da copa? Dos doze estádios, alguns, com
certeza, terão um destino de abandono após a copa do mundo, e não se lamentará
a montanha de dinheiro aí investido. Mas, a fome e a desgraça dos
marginalizados continuará.
Antes de o Brasil se
candidatar a sediar a copa do mundo e as olimpíadas tinha de ter feito sua
lição de casa que é o bem-estar social da sofrida população brasileira, para
depois, sim, mostrar ao mundo que o Brasil é um gigante que acordou e construiu
uma sociedade justa. Mas, quantos brasileiros ainda sentem-se apátridas, pois
são marginalizados e excluídos do processo desenvolvimentista! Nega-se a eles o
essencial: educação, saúde e emprego. Ao invés de investir em espetáculos
lúdicos desproporcionais ao perfil de nossa situação social e econômica, com
frontal ultraje aos necessitados, muito mais razoável seria que implantássemos
projetos para sanar de vez o infortúnio de tantos brasileiros. Por isso, a
pergunta que não quer calar: nossos bilhões de reais de impostos, para onde
vão?
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Estádio de Manaus |
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 19-05-2013
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