Dédalo, como cita a mitologia
grega, estava preso com seu filho Ícaro e tentava de todas as formas encontrar
uma saída para escapar dos grilhões de uma prisão qualquer. Naquele antro,
entre o silêncio sepulcral de quatro rústicas paredes, apenas o pensamento se
tornava a chave enigmática para equacionar as suas idéias e poder dar asas a
sua imaginação privilegiada. Da minúscula janela da prisão, o céu em azul se
estampava forte diante dos seus olhos miúdos. Era ali, daquela distância, que
ele voava alto em pensamentos de liberdade. Mas qual a liberdade que o faria de
prisioneiro junto ao filho, o desbravador de nuvens? E foi exatamente nas
nuvens que ele vislumbrou gaivotas em bando, de asas soltas e as atraiu ao
parapeito da prisão, rente à janela, para alimentá-las.
Ao tocar suas asas, acendeu-se
uma ideia brilhante: precisamos aprender a voar. Meses inteiros e longos foram
de um trabalho duro e cansativo até que sua ideia inicial tornou-se realidade.
Aproveitando as penas juntadas uma a uma, construiu com a ajuda do filho Ícaro,
dois pares de asas grandes. Adaptou-as aos seus corpos com a ajuda de muita
cera de abelha e o plano de voar estava pronto com um senão. Disse ao filho que
evitasse voar muito alto, pois o calor do sol poderia comprometer o voo devidamente
projetado e pronto. E partiram rumo aos ventos.
No Rio Grande do Sul, Dédalo
era Ruben Berta e Ícaro, a família VARIG pelo mundo afora, cortando os céus e
criando espaços em azul para a brilhante jornada de cruzar oceanos, mundos novos
e conceitos de tecnologia avançada. Mas um dia, o sol de Brasília, em rotas
diferentes, deu sinal de pane em altas temperaturas. Dédalo já havia alcançado
com sucesso outras aerovias, e Ícaro sentiu suas asas arrefecerem e foi caindo,
caindo, perdendo altura, até seu pouso forçado sobre o chão batido das
inconformidades. Hoje, os Ícaros de ontem, caminham tapetes verdes de ácaros,
ouvem das tribunas discursos inflamados, se digladiam entre si em face das
mentiras do Planalto e resvalam na inconsistência macabra de uma justiça
injusta e fria que determina aos seus aposentados e pensionistas a sisudez
mórbida e silenciosa daquelas quatro paredes da prisão de Dédalo.
É chegada a hora de
construirmos asas com envergadura simétrica sobre o Brasil. Pousar nossas
mazelas em todos os aeroportos. Fechar pousos e decolagens como o Ícaro, antes
que todos os ácaros políticos de Brasília se deitem sobre o solo sagrado das
arenas recém- construídas e chutem para o último gol da Copa, as nossas
esperanças de sobrevivência neste solo pátrio.
Título e Texto: João Sobreira Rocha, aposentado VARIG/Aerus,
Goiânia, 04-05-2014
PQP sensacional!!!
ResponderExcluirDesculpe o PQP, é uma corruptela de maravilhoso como um recém nascido.
Gostei muito, e simplesmente pra contribuir leia a história de vida de Robert Owen e sua New Harmony, Ruben berta é um desses socialistas utópicos.
Amei a metáfora por você estabelecida. Lindo texto.
ResponderExcluirE para adicionar mais poesia ao texto, menciono música de Caetano Veloso. Infelizmente, amigo, estamos sob os Podres Poderes.
Silvana Alaggio
Prezada Silvana Alaggio, fiquei deveras emocionado ( do alto dos meus 67 anos ) com o seu comentário. Muito obrigado mesmo. Procurei trazer a baila o nosso assunto VARIG-aerus de uma forma lúdica, mas enfocando abertamente a nossa dor. Que Deus nos proteja desses anjos negros que nos sufocam. Ass. João Sobreira Rocha, de Goiânia-Go.
ResponderExcluirCaro VSROCCHA - obrigado amigo pelo comentário a respeito do meu texto. Ví, lí e relí sua entrevista no nosso "CÃO" - admiro suas posições. Nossa luta não será em vão.
ResponderExcluirJoão SOBREIRA Rocha - de Goiânia.