domingo, 14 de setembro de 2014

Portugal existe

José Manuel

I am sorryLucy Pepper , mas lendo o seu texto, Portugal não existe na revista virtual Cão que fuma, tenho que lhe dizer que discordo de alguns dos seus pontos de vista.
Não morei em Portugal como você por exemplo, por vinte anos.
Eu moro no Brasil, mas hoje em dia adoraria estar lá, por diversos motivos, que aqui não cabem.
Porém, o fato de eu não ter morado, não invalida os trinta e dois anos em que viajei pelo mundo quase todo, inclusive Portugal.

Não conheço North Devon, sua terra natal, mas tenho a certeza de que você deveria se orgulhar dela, pois as fantásticas praias e enseadas escondidas pela costa espetacular e as terras altas acidentadas, são de tirar o fôlego a qualquer um.
A culinária premiada e a bebida local são mais um motivo de orgulho de seus habitantes.
Enfim nada tão execrável e interiorano como você escreveu sobre o lugar, ou muito menos uma caricatura de algum agricultor burro. Desculpe, mas lugares como o seu, tem peculiaridades maravilhosas a serem exploradas, como a gastronomia peculiar, frutos do mar em abundância, cervejarias e vinhas conhecidas.
Tudo isto é um macrocosmo de cultura que não deve ser menosprezado.

ButLucy Pepper, nós não estamos aqui falando da Inglaterra ou de North Devon, não é?
O seu foco foi Portugal e ainda e felizmente mas de leve, você se referiu ao grande país descobridor que torna Portugal o país mais importante da era moderna ao colocar as suas naves nos mares para cartografar o mundo como o hoje conhecemos.

Feito de semelhante grandeza, só a chegada à lua pelos americanos no século passado, e a continuação histórica dos fatos por espanhóis, holandeses e ingleses, são apenas  peças coadjuvantes no cenário mundial. O que realmente importa foi quem fez, quem tudo começou.

Talvez você ainda não tenha se dado conta, mas o que seria de você hoje em dia sem o Windows, se não fosse o Bill Gates , não é?

Pois é, assim é Portugal, um macrocosmo de cultura que você talvez não tenha aproveitado, "curtido", como se diz hoje, durante os anos que lá viveu.

Você diz que nunca se fala sobre Portugal na Inglaterra. Discordo, pois o que mais o Inglês gosta e acima de tudo nunca deixa de bebê-lo após o jantar, é nada mais, nada menos, do que um excelente " Port ", from Portugal. E olhe que só lá pelas terras do  rio Douro é que existem essas vinhas, aliás as mais antigas demarcadas do mundo.


Os micros conceitos, caricaturas ou esteriótipos, a que você se refere como bigodes, fado etc, o seu país está tão cheio disso, como qualquer sociedade no mundo e, portanto não são parâmetros convincentes, pois isso é  apenas e meramente "folk",  you know?

O que  sempre me interessou nos países nos quais andei por décadas, era exatamente esses macrocosmos de cada sociedade, essa cultura que jamais deixa de existir, seja em literatura, seja em gastronomia.

Por falar em literatura, você foi pobre ao citar apenas Saramago e Pessoa e nota-se aqui o seu parco conhecimento pelo país em que viveu.
Talvez você tenha um deslumbre pela "Toscana" sobre a  "Provence", mas daí a dizer que o turista não sabe que está em Portugal quando visita o Algarve foi longe demais, além é claro de dizer que Portugal não existe.
Eu sei perfeitamente a mensagem que você quer passar, mas foi bastante infeliz em alguns aspectos.

Por exemplo a culinária, a queijaria, os vinhos, a doçaria portuguesa estão anos-luz à frente do que o seu país é capaz de oferecer.


Os têxteis portugueses são de excelente qualidade, bem como a indústria calçadista é um das melhores do mundo. Eu mesmo aqui no Brasil só uso os "college" fabricados pela Yucca portuguesa.


By the way, se você quer se referir e com outras palavras mais delicadas,  ao baixíssimo enfoque dado ao marketing publicitário português aos seus produtos e ao próprio país que é belíssimo, aí eu concordo plenamente.

Por exemplo, os italianos têm um fortíssimo marketing mundial em relação ao seu azeite, sempre com a conotação de que é o melhor do mundo. Não é!
Em aroma, sabor e textura não existe nada igual ao português, e pode esquecer espanhol, grego ou italiano mas isso não é sabido pelo mundo afora, exatamente pela falta de um marketing publicitário adequado e moderno.

Esse problema aqui discutido, eu já conheço há muitos anos e já até teci inclusive comentários escritos sobre o assunto.

Realmente é uma pena que isso continue a acontecer, pois o momento econômico tem tudo para que aflore uma nova mentalidade no empresariado português, principalmente por ser uma grande fonte de divisas que ajudem o país a se desenvolver como merece. A não ser que os portugueses não queiram, é claro.

Aí, é um outro assunto, mas Portugal existe e vai muito bem  obrigado, como um grande pólo gerador de cultura, nos quatro cantos do mundo, onde a sua língua é continuamente falada e a sua bandeira já esteve fincada, como posse e descoberta.
Título e Texto: José Manuel, ex-crew member Varig, born in Portugal, Brazilian citizen, 13-09-2014

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Um comentário:

  1. Parabéns, meu caro José Manuel! Belo texto. Seus conhecimentos da terrinha d'além mar são ilustrativos...
    Valdemar

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