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Foto oficial |
Dilma pega uns e manda recado aos
outros: é, ela é presidente de fato e de direito
"Num estado
democrático existem duas classes de políticos: Os suspeitos de corrupção e os
corruptos".
David Zac, bispo de
Kampala, Uganda.
No episódio do Ministério
dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff parece que vai pular mais uma
fogueira sem chamuscar-se nesse emaranhado torpe que faz do chefe do governo
refém de bandos parlamentares dedicados exclusivamente à causa própria, numa
rapina irrefreável de efeitos catastróficos para as instituições republicanas.
Ela não tem nem 200 dias à
frente do governo e parece querer resgatar os valores morais essenciais da
gestão da coisa pública, pondo em risco o seu próprio pescoço.
Até outro dia, o jogo do poder, em todas as administrações, de todos os partidos, vinha sendo marcado pela absoluta falta de recato, por uma voracidade insaciável e inconsequente.
Até outro dia, o jogo do poder, em todas as administrações, de todos os partidos, vinha sendo marcado pela absoluta falta de recato, por uma voracidade insaciável e inconsequente.
Ressalve-se, por oportuno,
que as práticas detectadas na área dos Transportes não são exclusivas desse
Ministério, entregue de porteira fechada a um partido, em nome da
governabilidade. Difícil será encontrar nesse ambiente degenerado que permeia a
vida pública hoje, em todos os entes, alguma ilha de lisura.
Espelho de uma sociedade
permissiva
O desvio de conduta dos
políticos é, de fato, o espelho de uma sociedade inteira que vem se habituando
perigosamente ao convívio com golpes de toda natureza. Como já escrevi aqui,
nesse carnaval de trambiques, os maus elementos maiores operam nos grandes oligopólios,
à sombra, em tacadas de esperteza, inflando suas fortunas pelo abuso de
fraudes, sonegações e trapaças imperceptíveis
O Estado é mais vulnerável
pela própria transitoriedade do poder. Muitas dessas vestais de araque que se
exibem hoje como zeladoras do nosso dinheiro não passam de farsantes
empavonados, sem a menor autoridade moral para posar de bons moços.
Porque eles próprios,
quando no poder, cometeram crimes de lesa pátria sem qualquer constrangimento,
privatizando nossas empresas estatais a preços de banana, e favorecendo
sempre a empresários amigos.
Mandatos obtidos a peso
de ouro
Todos têm o mesmo
comportamento quando estão no poder porque até as melhores cabeças acreditam
piamente que fora desse jogo não há governo que se sustente. A idéia de
governabilidade numa democracia representativa é eivada de todos os vícios,
começando pelo processo de escolha dos mandatários: estes investem fortunas em
suas campanhas eleitorais e a massa acrítica e acuada acaba votando no que tem
mais dinheiro para se tornar mais visível, fazer favores pessoais ou
esmerando-se no uso abusivo das máquinas oficiais.
Pode-se dizer que os
mandatos parlamentares, em sua maioria, são comprados a peso de ouro, numa
afronta a princípios elementares da representação. E não é só o mercado de
leilões eleitorais que facilita a vitória de candidatos saídos das elites
minoritárias.
O modelo de voto eletrônico no Brasil é aliado preponderante da tramóia que transforma picaretas e testas de ferro dos grupos econômicos em maiorias no Congresso. Até hoje, a Justiça Eleitoral resiste à impressão do voto, tornando sua conferência impossível. Da mesma forma, a implantação do voto biométrico, que impede alguém de votar por outro, vem ocorrendo em doses homeopáticas: em 2012, usarão suas digitais nas urnas apenas 1 milhão de eleitores, de um total de 135 milhões. Nenhum deles é do Estado do Rio (coincidência?).
O modelo de voto eletrônico no Brasil é aliado preponderante da tramóia que transforma picaretas e testas de ferro dos grupos econômicos em maiorias no Congresso. Até hoje, a Justiça Eleitoral resiste à impressão do voto, tornando sua conferência impossível. Da mesma forma, a implantação do voto biométrico, que impede alguém de votar por outro, vem ocorrendo em doses homeopáticas: em 2012, usarão suas digitais nas urnas apenas 1 milhão de eleitores, de um total de 135 milhões. Nenhum deles é do Estado do Rio (coincidência?).
A mudança que não mudou
nada
Esse Congresso que está aí
encurralando o poder executivo, impondo o fatiamento da administração para
servir a seus interesses, não é, pois, legítimo representante da maioria do
nosso povo, embora, ironicamente, possa exibir um turbilhão de votos obtidos
por conhecidos transgressores dos bons costumes.
Era de se esperar que a
vitória de um metalúrgico que havia contado 300 picaretas no Congresso abrisse
caminho para reverter essa relação deletéria que faz da corrupção a base
doutrinária da governabilidade. À primeira vista, ele não tinha o currículo
comprometido de seus antecessores. E esbanjava o talento suficiente para
investir em novos hábitos administrativos.
No entanto, para a
frustração de muitos dos seus seguidores, rendeu-se ao sistema, dando
continuidade à política econômica neoliberal e assimilando os mesmos truques
abomináveis, com a formação de uma base aliada regada a pepitas mensais.
No ambiente das raposas
A indicação de Dilma
Rousseff só foi possível, porém, pela a determinação de Lula de dar uma
demonstração de forças na sucessão, passando por cima do próprio PT. Mulher,
com o passado juvenil envolvido em sonhos que lhe valeram dois anos e meio de
cadeia, ela simbolizava um resgate histórico de alcance profundo, levando as
velhas elites a engoli-la. Mas seria, antes de tudo, a candidata do Lula.
Para consumar essa
novidade, ele trabalhou igualmente na mesma linha viciada de alianças com
qualquer um, absorvendo e até fortalecendo corruptos conhecidos. É de se
admitir que esse foi o preço que pagou para elevar à condição de presidenciável
alguém sem folha corrida eleitoral e até mesmo sem o sacramento partidário.
A composição do governo da
presidente Dilma refletiu esse arco dominado pelas velhas raposas e manteve
referenciais de um longo continuísmo: Sarney permaneceu dando as cartas (o que
faz desde 1964) e a malandragem meteu a mão na massa. O que Dilma poderia
fazer, senão entrar na dança?
Era pegar ou largar
Sua condição de mandatária
sem qualquer prova nas urnas seria mamão com açúcar para o controle total do
poder, pensavam as ratazanas. Os ministérios foram distribuídos a retalho em
que cada grupo levava a peça inteira, induzindo cada um a se achar dono
absoluto do seu pedaço, diante de uma "presidente fraca".
Essas raposas inescrupulosas
não contavam com a astúcia da presidente. Ela sabia que se não assumisse de
fato a chefia do governo ia acabar condenada a endossar as peripécias sinistras
dos donos dos cargos, limitando-se a ser uma figura decorativa.
Sabia também que tudo tem limite.
Pode-se até admitir que a corrupção e o tráfico de influências são inerentes
ao poder. Mas não se pode esconder que o abuso dos corruptos torna
insustentável o próprio regime.
Pagando para ver
Nesse momento, a presidente
paga para ver, livrando-se sumariamente de alguns bolsões de maus elementos. O
desafio que fez a um grupo, nomeando o novo ministro por sem as bençãos dos
seus cardeais, vai alcançar a toda a malha do poder retalhado.
Esse lance do Ministério
dos Transportes não foi o primeiro no tenso tabuleiro de Brasília. Antes mesmo
de tomar posse,ela deu um fora no governador Sérgio Cabral Filho, que anunciou
por conta própria o seu secretário como o novo ministro da Saúde. Nos temporais
da região serrana, passou outro pito nele, por estar sempre fora do país nas
horas difíceis, mostrando que teria um convívio difícil com ele.
Nos primeiros dias de
janeiro, também abortou a compra de caças franceses, que já parecia definida
num acerto envolvendo cachorros grandes.
Depois, afastou o seu
ministro da Casa Civil, influente petista, pondo em seu lugar uma senadora em
seu primeiro mandato político e surpreendendo meio mundo. Além disso, fez as
outras mudanças conforme sua visão de governo, à revelia dos palpiteiros.
Com sua cultura política,
ela sabe que é no começo do governo que tem de demarcar seu espaço e tornar
explícita sua visão do poder. E logo percebeu que os corruptos são audaciosos,
mas não aguentam uma rebordosa. Movem-se com desenvoltura quando não encontram
empecilhos. Ao primeiro tranco, perdem o rebolado e põem o rabo entre as penas.
Só espero que a presidente
não se assuste com os blefes do crime político organizado. Se for para dar um
chega pra lá nessa corja de maus políticos, terá o respaldo do povo e este
acabará por readquirir a confiança nas instituições, policiando-se mais na hora
de dar o seu próximo voto.
Título e Texto: Pedro Porfírio
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