O Estado de S.Paulo
Com um potencial explosivo
muito maior que o peso de sua pequena e frágil economia, a Grécia mantém o
mundo em suspense às vésperas da eleição legislativa marcada para amanhã. (Hoje,
domingo, 17). Uma vitória da esquerda radical aumentará drasticamente o risco
de abandono da zona do euro, de calote da dívida pública e de mergulho numa
crise muito mais profunda que a atual, com uma combinação devastadora de
recessão e inflação. O impacto atingirá o sistema financeiro muito além das
fronteiras nacionais. Países já sujeitos à forte pressão especulativa, como
Espanha e Itália, poderão sofrer danos consideráveis. O efeito do nervosismo já
é sensível na terceira maior economia da zona do euro, a italiana. No leilão de
4,5 bilhões de bônus realizado na quinta-feira, o Tesouro teve de oferecer uma
remuneração de 5,3% para papéis com prazo de três anos. No mês passado, a taxa
havia sido de 3,9%.
A onda de insegurança atinge
tanto as famílias gregas, preocupadas com o risco de uma explosão
inflacionária, quanto os executivos dos maiores grupos financeiros
internacionais. Na Grécia, os cidadãos comuns têm corrido aos bancos para sacar
dinheiro, numa tentativa de criar um colchão de segurança para o caso de um
desastre. Saques diários de até 800 milhões foram registrados durante a semana.
Parte desse dinheiro tem sido usada para a formação de estoques domésticos de
alimentos de longa duração, como enlatados e massas. Um retorno à velha moeda
nacional, a dracma, poderá resultar num violento surto inflacionário, mesmo num
país com cerca de 22% de desempregados.
No extremo oposto da escala,
os dirigentes dos grandes bancos entram em cena em mais um esforço para evitar
o pior. Numa carta dirigida aos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20),
executivos do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) defenderam um
afrouxamento da política de ajuste orçamentário imposta à Grécia e admitiram a
possibilidade de um "modesto apoio financeiro adicional". Divulgada
três dias antes da eleição, essa carta vale como um recado diplomático para os
cidadãos e para os políticos gregos: os credores privados da Grécia estão
dispostos a apoiar uma política mais branda e a entrar com mais dinheiro para
permitir um ajuste mais longo. Há no texto uma referência explícita à
"severa contração" já ocorrida na economia grega.
A carta foi divulgada pouco
antes, também, da reunião de cúpula do G-20, prevista para começar na
segunda-feira, em Los Cabos, no México. Os dirigentes do IIF pedem aos
governantes ação mais resoluta contra a crise europeia, sugerem investimento
direto do Mecanismo Europeu de Estabilização nos bancos espanhóis, para
recapitalização, e defendem a adoção de políticas mais favoráveis ao
crescimento em toda a região, sem abandono, é claro, dos esforços de arrumação
orçamentária e de reformas estruturais. Os credores privados passam a apoiar
explicitamente a combinação de ajuste e crescimento defendida pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI) e por vários chefes de governo europeus, como o
presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro italiano, Mario
Monti.
Os líderes do G-20 deverão
reunir-se com a atenção voltada para os resultados da eleição grega de amanhã e
para os rumos indicados pelos prováveis participantes da coalizão de governo.
Todos os dirigentes partidários têm-se declarado favoráveis à permanência do
país na zona do euro, mas as bandeiras da extrema esquerda têm sido
consideradas, até agora, dificilmente conciliáveis com esse objetivo.
A rejeição dos compromissos de
austeridade e reformas assumidos em troca da ajuda externa - o segundo pacote
envolve créditos de 130 bilhões - só pode resultar, segundo avaliação quase
unânime, num rompimento com a união monetária. A carta dos dirigentes do IIF é
um convite à conciliação. Para os bancos, a permanência da Grécia na zona do
euro representa bem mais que um seguro contra um calote completo, depois do
abatimento já negociado de mais de 50% da dívida.
Representa, principalmente, a
contenção do risco de contágio, temido também por vários governos, a começar
pelos de Portugal, Espanha e Itália.
Título e Texto: Editorial, Estado de S. Paulo, 16-06-2012
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