Peter Wilm Rosenfeld
Depois de duas semanas
fantásticas, foram encerrados os Jogos Olímpicos de 2012 e, com certeza, todos
os que foram a Londres assistir ao evento em qualquer uma de suas modalidades,
deixaram a capital da Inglaterra impressionados com o funcionamento de tudo.
Não me lembro de ter lido
qualquer notícia informando que algo não funcionou!
Sempre fico maravilhado como
um País, ou uma cidade, conseguem organizar eventos tão grandiosos sem que algo
atrase, sem que qualquer equipamento sofra uma pane!
Parece ser um milagre da
natureza, mas não, é resultado de um planejamento perfeito, sem que qualquer
pequena parte da enorme máquina humana sofra qualquer senão. Maravilha.
Há exatos sessenta anos (em
princípios de setembro de 1952, pois) cheguei a Londres para trabalhar na
filial londrina da empresa americana em que trabalhava no Brasil. Era verão e o
dia estava lindo. Bela recepção! E o hotel em que me hospedei ficava em frente
ao Marble Arch, local famoso porque, naquele canto do Hyde Park, chamado Hyde Park
Corner, à noite, sempre havia gente discursando, falando de qualquer assunto
menos, atentem bem, para criticar a casa real.
Após me instalar
temporariamente no hotel, resolvi sair a pé com a intenção de encontrar a rua
em que ficavam os escritórios da empresa (Marilebone Road).
A tarefa não era difícil, já que em todas as esquinas havia uma placa com o nome da rua e, principalmente, o ponto cardinal em que estava localizada.
A tarefa não era difícil, já que em todas as esquinas havia uma placa com o nome da rua e, principalmente, o ponto cardinal em que estava localizada.
Em Londres, quando se menciona
um endereço, sua localização em um dos quatro pontos cardinais é sempre
indicado.
Sem perguntar qualquer coisa a
outras pessoas, encontrei a rua e localizei o escritório (que, por sinal,
ficava a duas quadras e fazia esquina com a famosa Baker Street, de Sherlock
Holmes...).
Tente-se fazer isso em
qualquer cidade brasileira; jamais se chegará ao endereço desejado…
No dia seguinte tratei de
alugar um quarto (em uma daquelas quadras em que todas as casas são iguais) no
bairro de South Kensington, perto de uma estação do “tube”, como os londrinos
designavam o metrô.
Que beleza de funcionamento.
Aliás, o metrô londrino, um dos mais antigos do mundo, é até hoje um exemplo de
como as coisas podem funcionar bem.
Fiquei em Londres exatos seis
meses. Tive a oportunidade de, estando lá, viver os dias de “fog” piores de
todos os tempos. Na rua não se enxergava além de um ou dois palmos à frente. Em
residências que tinham corredores mais longos, praticamente não se via nada
estando em um de seus extremos. Nos cinemas era quase inviável assistir a um
filme, e não havia filmes coloridos. Era tudo de cor única!
Naqueles dias, os cegos
(perdão, agora tenho que me referir a “deficientes visuais”) foram de
extraordinário valor! Paravam na saída das estações de metro e quando sentiam
que alguém vinha vindo, ofereciam sua ajuda para conduzir o estranho a seu destino!
Sim, porque naquele nevoeiro os cegos “enxergavam” muito bem!
Descobri outra coisa, quase
sem querer. Sempre me perguntava por que as moças inglesas eram bonitas, muito
bonitas mesmo quando jovens, mas ao envelhecerem tinham uma pele horrivelmente
feia. Muito simples, meu caro Watson! No inverno, para proteger a pele, usavam
toda a sorte de produtos, cremes, etc. No escritório eu via como usavam tais
produtos. Mas, chegando a primavera/verão, a pele das moças não conseguia
recuperar tudo o que havia perdido com a agressão diária que sofria! Que
desgraça (repito, isso foi há exatos 60 anos!).
Quase esqueci de mencionar que
naquela época havia muitos comestíveis ainda racionados, devido à guerra. Carne
e chocolate entre eles. Mas aprendi a comer (e não desgostei) carne de cavalo,
que não era racionada.
Muitas e muitas vezes comi
excelentes filés feitos com tal carne.
Mas o mais popular prato era
(e parece continuar sendo) “fish and fries” (filé de peixe grelhado com batatas
fritas), vendido em todo e qualquer lugar (como aqui tínhamos cachorro quente!
agora sofrendo a concorrência dos “burgers” (hambúrguer, cheese burger – mais
conhecido como X-burger, etc...).
Não posso esquecer de me
referir a duas coisas, que só vi em Londres e que continuam praticamente iguais
até hoje: os ônibus de dois andares e os táxis.
Começando por esses últimos, além de acomodar até 5 passageiros com folga (dois sentados em assentos retrateis, de frente para os até três no banco propriamente dito), a bagagem vai na frente, ao lado do motorista, que é separado dos passageiros por um vidro. Característica única: o taxi tem que poder fazer uma volta em “U” em um raio não maior do que uns 2.1/2 metros. Além disso, todos os táxis são iguais, seja qual for o fabricante!
Os ônibus de dois andares
também são únicos. Alguns poucos têm o andar superior aberto, para acomodar
turistas. Mas os normais são fechados. No andar superior, só passageiros
sentados. No andar inferior, se bem me lembro, podem viajar dois ou três
pessoas de pé, no máximo.
Para finalizar, devo dizer que
os seis meses em que vivi e trabalhei em Londres foram (e ainda são)
inesquecíveis.
Ah, antes que me esqueça (e
não sei porque isso não foi adotado aqui): durante o período natalino, os
ingleses penduram ramos de uma flor chamada “mistle-toe” em qualquer portal ou
arco que encontrem. E a tradição manda que se uma dama cruza com um cavalheiro
debaixo do mistle-toe, pode dar-lhe um beijo na boca; claro que a moça não pode
recusar.
Há gente que fica parada bem
no portal para poder beijar todas! Não fui tão atrevido assim, mas sempre
estava próximo de um portal na festa de ano novo que passei na residência de
uma colega de trabalho…
Para terminar: depois de
passar alguns meses sem ver o sol, o avião que me levou de Londres para Zurich
decolou no pior dos nevoeiros; durante alguns minutos, não se via nada!
De repente, um céu glorioso,
azul, lindo.
Senti uma das melhores
sensações de minha vida!
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, 15-8-2012
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