Plínio Sgarbi
"Muitos pais não
percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas", disse Ziraldo na Bienal
Internacional do Livro de São Paulo.
Aos 80 anos e em sua 16ª
Bienal, o pai do Menino Maluquinho
não cessa de enfatizar a importância de feiras literárias e do próprio livro
para enfrentar o que ele considera em “emburrecimento” endêmico da sociedade.
A culpa delas serem idiotas é
de seus pais, tão ou mais idiotas que seus filhos, uma vez que o hábito da
leitura costuma brotar dentro da própria família, incentivado pelos pais.
Por serem censurados no
Pasquim na época, Ziraldo e Jaguar foram indenizados pelo bolsa-ditadura em R$
1 milhão e mais uma pensão mensal de R$ 4 mil.
Já foram pagos mais de R$ 3
bilhões de indenizações e pensões aos perseguidos pela ditadura, incluindo o
Lula que ficou um ou dois dias na cadeia, e hoje ganha por mês mais de R$ 5
mil.
Outrora defensor das causas
populares, Ziraldo poderia ter a dignidade de resistir à bolsa-ditadura, mas
preferiu mamar nas tetas gordas alimentadas pelo dinheiro público.
O Millôr Fernandes tem razão:
"Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?
O Bolsa Ditadura
transformou-se numa catedral de voracidade, privilégios e malandragens.
Mas, consta que 27% dos
brasileiros são analfabetos funcionais e que apenas 26% são alfabetizados plenos.
Isso seria consequência de um sistema medíocre de educação, e, pode ser que os
pais, na colocação de Ziraldo, também estão os leitores do Pasquim, que
escrachava com o regime militar. O semanário carioca vendia tanto que encheram
de dinheiro os bolsos dos seus donos, entre eles Ziraldo e Jaguar.
Como muito bem disse o
jornalista Alexandre Garcia em recente
artigo, o Pasquim surgiu em junho de 1969 – em pleno AI-5, portanto.
Gozava, criticava, ironizava o regime militar. E sobreviveu a ele. Mas fechou
em 1991, em pleno sistema democrático e civil. O que houve com o Pasquim parece
ter acontecido com outros setores da intelectualidade brasileira.
Naquela época brilhavam o
talento, a criatividade e a independência. E não foi só no Pasquim. Foi uma
época áurea da música popular. A partir de 1966, Caetano, Gil e Gal tocavam e
cantavam o Tropicalismo. A Bossa Nova cintilava com Tom, Vinicius, Sérgio
Mendes, João Gilberto; os festivais nos palcos das TVs, com auditórios lotados,
consagravam Ellis, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré, com A Banda, Ponteio, Margarida, Sabiá, Fio Maravilha. Nunca mais tivemos
aqueles talentos. Hoje são letras idiotizantes em músicas com um máximo de três
notas. E tudo aquilo a despeito da censura. O teatro foi o que mais sofreu com
a censura, mas se dirigia a um público de elite. Ainda assim teve peças como
Liberdade, Liberdade – que nos fazia sair do teatro com um desejo de Bastilha.
Aí, não há como não perguntar:
O que castrou a criação e o talento? Aparentemente a censura do governo militar
não conseguiu isso. Antes os estimulou pelo desafio. Depois a criação e o
talento estiolaram, como estiolou o Pasquim. Quando Geisel foi eleito pelo
Congresso, por 400 votos contra 76 de Ulysses e declarou que viria a abertura
democrática, de forma “lenta, gradual e segura”, parece ter plantado uma
paradoxal seta em direção à mediocrização lenta, gradual e segura.
Incompreensível que a
liberdade da democracia torne as mentes preguiçosas.
Texto: Plínio Sgarbi, 15-8-2012
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