O Japão está em crise há
décadas. A Europa está em grave crise. Os Estados Unidos cada vez se parecem
mais com a Europa. Não seria exagero falar em uma grande crise das democracias
modernas. O que pode explicar tal fenômeno?
A esquerda vai apontar para os
bodes expiatórios de sempre: o capitalismo, o liberalismo, o individualismo. E
a esquerda vai errar o alvo, como sempre. Foi o capitalismo liberal com foco no
indivíduo que tirou milhões da miséria e permitiu uma vida mais confortável a
essa multidão. Quem está mais longe desse sistema, está em situação muito pior.
O que explica as crises atuais
então? Claro que um fenômeno complexo tem mais de uma causa. Mas eu arriscaria
uma resposta por meio de um antigo provérbio conhecido: avô rico, filho nobre,
neto pobre. Isso quer dizer, basicamente, que o próprio sucesso planta as
sementes do fracasso, só que de outra geração.
Somos os herdeiros de uma
geração mimada, que colheu os frutos do árduo trabalho de seus pais,
acostumados com vidas mais duras, com guerras, com diversas restrições. Essa
geração, principalmente na década de 1960 e 70, pensou que bastava demandar, e
todos os seus desejos seriam atendidos, sabe-se lá por quem.
Acostumados com o conforto
ocidental, essas pessoas passaram a crer que a opulência era o estado natural
da humanidade, e não a miséria. Em vez de pesquisar as causas da riqueza das
nações, como fez Adam Smith, eles acharam que bastava distribuir direitos e
jogar a conta para o governo.
O Estado se tornou, nas
palavras de Bastiat, “a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de
todos”. O conceito de escassez foi ignorado, e muitos passaram a acreditar na
ilusão de que basta um decreto estatal para se obter crescimento e progresso.
Vários olharam para esse deus da modernidade em busca de milagres.
Foi assim que a impressão de
moeda por bancos centrais passou a ser confundida com criação de riqueza. Ou
que gastos públicos passaram a ser sinônimo de estímulo ao PIB, colocando o
termo “austeridade” na lista dos inimigos mortais. O crédito sem lastro para
consumo passou a ser visto como altamente desejável, e a poupança individual
como algo prejudicial ao crescimento econômico.
Toda uma geração acreditou que
era possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo, esquecendo o alerta de Milton
Friedman, de que não existe almoço grátis. Esmolas estatais foram distribuídas
a vários grupos organizados, privilégios foram criados para várias “minorias” e
o endividamento público explodiu.
O Estado de bem-estar social
criou uma bomba relógio, mas ninguém quer pagar a fatura. Acredita-se que é
possível jogá-la indefinidamente para frente. Os banqueiros centrais vão criar
mais moeda ainda, os governos vão gastar mais e assumir novas dívidas, as
famílias vão manter o patamar de consumo e tomar mais crédito, e todos serão
felizes. E ai de quem alertar que isso não é possível: será um ultraconservador
reacionário e radical.
A postura infantil se alastrou
para outras áreas além da econômica. Os adultos agem como adolescentes e
delegam ao governo a função de cuidar de seus filhos e de si próprios. O
paternalismo estatal assume que indivíduos não são responsáveis, mas sim mentecaptos
indefesos que necessitam de tutela.
Intelectuais de esquerda
conseguiram convencer inúmeras pessoas de que elas não são responsáveis por
suas vidas, e sim marionetes sob o controle de forças maiores e
determinísticas. Roubou alguém? É vítima da sociedade desigual. É vagabundo?
Culpa do sistema. Matou uma pessoa? A arma é a culpada, e a solução é desarmar
os inocentes.
Notem que o mundo atual exime
de responsabilidade o indivíduo de quase todas as atrocidades por ele
cometidas. Sob a ditadura velada do politicamente correto, ninguém mais pode
dar nome aos bois e colocar os pingos nos is. Os eufemismos são a regra, e a
linguagem perdeu seu sentido. O criminoso vagabundo é a vítima, e sua vítima é
o verdadeiro culpado: quem mandou ter mais bens?
Portanto, engana-se quem pensa
que para sair dessa crise precisamos de mais do mesmo: mais crédito, mais
dívida pública, mais gastos de governo, mais impostos sobre os ricos e mais
impressão de moeda. Não! A receita proposta por Obama e companhia é o caminho
da desgraça. Ela representa estender artificialmente a “dolce vita” dos filhos
nobres (e mimados), como se o dia do pagamento nunca fosse chegar. Ele chega,
inexoravelmente.
Os netos pobres seremos nós,
ou nossos filhos, se essa trajetória não mudar logo. A crise não é apenas
econômica; ela é moral.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, 08-01-2013
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