Eduardo Nogueira
Sinceramente, não sei quem
queira ser ministro... só um louco está disponível para abandonar uma carreira
profissional de sucesso e assumir um cargo de tal exigência, em que a
possibilidade de sair pela porta pequena é mais que certa. Alguém que vá, hoje,
para cargo ministerial tem como certo a perda de privacidade, o direito a ser
insultado pelas manifs convocadas pela CGTP e a garantia de ter que abandonar o
cargo assim que um funcionário manhoso de um partido da oposição lhe estender
uma casca de banana para ele escorregar aos olhos da opinião pública, sendo
rotulado de incompetente para o resto da vida e alvo de troça por conhecidos e
desconhecidos.
Já tenho criticado aqui
duramente o Ministro Nuno Crato (da Educação): cede sempre à pressão dos
sindicatos, contrata professores a metro, independentemente de saber se eles
ainda vão ser necessários (face à demografia) dentro de três a cinco anos…
podia continuar, não sou um apreciador do homem.
Mas pergunto: é o ministro que
insere os dados na plataforma? É o ministro que elabora uma fórmula de cálculo
mal pensada?
"Demita-se o
ministro", é o que se pede. Então, e os funcionários incompetentes que
estiveram na origem do erro? Continuam no ministério, para poder boicotar um
próximo ministro? Eu sei que há uma coisa que se chama responsabilidade
política, mas se um funcionário de limpeza urbana não varrer um poio, pedimos a
demissão do presidente da câmara? Haja tino.
O mesmo se aplica ao
Ministério da Justiça e ao Citius. A ministra Paula Teixeira da Cruz é técnica
de informática? Tem habilitação em gestão de redes e sistemas informáticos? Os
técnicos (in)competentes dizem-lhe que a reforma pode avançar porque o Citius
está preparado. O que é que ela devia fazer? Desconfiar? Pois, se calhar, devia
ter desconfiado... mas foi na conversa dos técnicos e, agora, é a cabeça dela
que pedem. Onde estão os homens do Citius, quando é que eles dão a cara? Ou os
funcionários só dão a cara quando a coisa corre bem?
Mas não é só em Portugal! Aqui
ao lado, em Espanha, é igual: uma enfermeira foi contagiada
pelo Ébola
e a reacção imediata de médicos e enfermeiros (que se licenciam para não correr
riscos na tentativa de salvar vidas alheias) é pedir a demissão da ministra.
Mas o cão da enfermeira não pode ser abatido...
É isto o que temos... vivemos
tempos difíceis, andamos sem paciência, estamos todos pelos cabelos com tudo e
mais alguma coisa. A Comunicação Social vive do sensacionalismo e não se
preocupa em informar seriamente. Qual será o primeiro canal de televisão a
entrevistar o "homem do citius"? Qual será o primeiro jornal a
publicar uma entrevista com o "homem da fórmula mal feita da 5 de
Outubro"?
E o problema é que deixámos de
pensar pela nossa própria cabeça e vamos atrás da primeira palavra ou mote de
revolta ou indignação sem sequer questionar se isso é mesmo assim e se não
haverá, porventura, outra abordagem... tenho dito!
Título e Texto: Eduardo Nogueira,
7-10-2014
Comentário de Rui Mendes Ferreira:
Eduardo Nogueira, concordo em
absoluto com o seu texto.
Adiciono até mais alguma
informação no caso da enfermeira espanhola que ficou infectada com o vírus
Ébola. Ela foi a única que teve que tratar por duas vezes dois doentes
diferentes infectados pelo vírus, naquele mesmo hospital. E a razão disso
reside no facto de ela não fazer parte dos quadros da Função Pública espanhola.
É uma enfermeira contratada. E tudo isso porque todo o pessoal que faz parte do
quadro daquele hospital público é parte integrante do funcionalismo público
espanhol, em ambos os casos meteram todos “baixa médica” com todas e mais
algumas desculpas inventadas à última da hora, para que nenhum deles tivesse
que estar a tratar nenhum dos infectados pelo vírus Ébola.
E a desgraça da enfermeira
contratada é que em ambos os casos foi a única a tratar dos infectados.
Tudo indica pois que o
contágio à dita enfermeira, tenha acontecido por falta de apoio a esta, por
parte da restante equipa que, sendo funcionários públicos, fugiram às suas
responsabilidades profissionais. Deviam ser todos despedidos os que se
ausentaram das suas funções. Sintomático, do funcionalismo público espanhol,
que em nada difere do nosso.
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