José Manuel
Ao que tudo indica, há algo de
estranho no fato de Pindorama ter patrocinando uma Copa Mundial de Futebol e
estar com uma Olimpíada logo a seguir pela frente, com um intervalo tão curto,
ou dois anos e três meses, e numa época em que o país não se encontra
economicamente estável o suficiente para os dois grandes eventos.
Só existem dois antecedentes
históricos recentes entre nações e em melhor situação que a nossa atual, que
tenham tido a coragem de realizar semelhante feito duplo, e de dimensões
mundiais, o México em 1968/1970, e a Alemanha 1972/1974.
A China, segundo maior PIB do
planeta, não se atreve a tal, pois seus compromissos sociais e morais, com o
desenvolvimento interno, não o permitem.
A realização de tão
importantes eventos como uma Copa ou uma Olimpíada sempre serão desejos pelo
qual nações queiram se projetar no cenário mundial. É normal e compreensível.
Tanto um como o outro, porém,
são espetáculos ao nível planetário e necessitam de um super gerenciamento,
principalmente estabilidade econômica, e que envolva não só o poder público,
assim como parcerias privadas, para que os sonhos não se transformem em
pesadelos, arrastando o país a um descontrole em suas contas públicas, por anos
a fio, reduzindo a capacidade dos investimentos futuros em áreas essenciais,
como saúde e educação, dentre outras.
A opção correta e tangível
passa pela escolha temporal de uma ou de outra e, caso haja a possibilidade
viável, estrutural e econômica para o patrocínio.
Portanto, com certeza existe
algo mais a ser pesquisado no submundo das articulações políticas para que os
dois fatos viessem a ocorrer praticamente juntos.
E com isso o pesadelo, que foi
o que exatamente ocorreu com a Copa-Fifa 2014 na extravagância de um gasto
avaliado para ficar no meio das várias versões, porque jamais saberemos a
realidade, em mais de trinta bilhões de reais.
A contrapartida negativa mais
visível dessa tragédia anunciada foi o resultado vergonhoso de um selecionado
pentacampeão, mas totalmente desestruturado à época e usado como coadjuvante em
show de multidões, obras super faturadas, arenas inacabadas, corrupção profunda
na administração em obras das empreiteiras hoje conhecidas policialmente e um
custo a longo prazo difícil de ser mensurado.
O país hoje está praticamente
parado, devido a políticas equivocadas ao longo de doze anos, sendo o evento
esportivo da Copa, somado ao patrocínio de uma Olimpíada o ápice de uma
irresponsabilidade que vai nos custar muito caro.
Vai nos custar a degradação de
setores essenciais, perda da capacidade produtiva, perda de empregos e
possivelmente uma crise política que parece estar em gestação.
Tudo previsível e anunciado a
tempo, mas aqui reside o xis da questão, porque setores da economia sabiam, a
imprensa especializada sabia, a própria administração central sabia de que
poderia vir a ser um tiro no pé, mas levaram adiante o projeto megalômano. Por
quê?
Hoje, pelas notícias diárias e
inacreditáveis dos milhões, bilhões desviados não só da Petrobras, mas também
de outros setores da administração pública a virem à tona, no que já é
considerado o maior escândalo de corrupção do planeta, tudo indica que havia a
necessidade de se construir um manto de invisibilidade, que desviasse a atenção
do que estava ocorrendo no submundo das instituições públicas.
E uma Copa do Mundo no país do
futebol, no país pentacampeão mundial, seria o "crème de la crème",
que possivelmente acobertaria tais atos.
Tanto presumivelmente como
estrategicamente, uma falha no esquema, caso ocorresse a qualquer momento,
ainda assim haveria um outro mega evento logo a seguir, para manter o status quo.
E acabou inesperadamente
ocorrendo com o Petrolão, mas o outro manto invisível e de igual intensidade se
aproxima e tem nome: Olimpíada-Rio 2016, que poderá tentar amenizar novamente
uma possível descoberta em escândalos futuros, se os houver.
A Olimpíada do Rio de Janeiro
já custa, em termos atuais, trinta e seis bilhões e setecentos milhões de reais,
nas notícias de setores especializados, superando com vantagem o custo da Copa do
mundo.
Os políticos rebatem os
questionamentos sobre as importâncias gastas, com a balela de que a recuperação
de áreas degradadas, usando Barcelona como exemplo, em nossa zona portuária,
melhoraria o sistema de transportes, mobilidade urbana e haveria melhoria de
qualidade para as populações mais diretamente atingidas.
Só que essas melhorias entram
na categoria do chamado ganho intangível, aquele que é visto e sentido pelas
pessoas, mas que é difícil de ser mensurado em retorno financeiro direto para o
caixa da organização, ou seja a cidade do Rio de Janeiro.
Mesmo que com boa vontade,
pudéssemos analisar pela ótica política, por que não foram feitas essas obras,
tão necessárias segundo eles, há mais tempo e com absoluta certeza do que se
estava fazendo? Precisava mesmo de uma Olimpíada para que isso pudesse ser
feito?
Por que levar a população do
Rio a um súbito desconforto brutal,com a retirada intempestiva da perimetral,
causando um caos no transporte público e no trânsito do centro da cidade?
Aqui, com a pressa e a falta
de controle que é marca registrada da administração pública em Pindorama,
novamente a bandalha se instalou com o desvio inexplicado até ao momento, de
vigas compostas de um metal raro e caro, especialmente produzidas para durar
400 anos.
Pela segunda vez, se comete o
mesmo absurdo, o primeiro na construção desse monstrengo chamado perimetral, e
o segundo agora, na derrubada do mesmo. Quem ganha e quem paga esses devaneios
com o dinheiro público?
Novamente a eterna dubiedade
antagônica, ou seja, o eterno desconhecido (eles) e a já certeza do conhecido (nós).
A exemplo do Pan, realizado em
2007, seu legado frustante em termos de obras de péssima qualidade e subutilizadas
por falta de planejamento adequado, o que é sobejamente conhecido, a Olimpíada
em 2016 caminha a passos largos para um novo vexame planetário como o dos 7 a 1
em 2014, pois estamos a pouco mais de um ano do evento, a despoluição da baía
de Guanabara, símbolo da cidade pela sua beleza natural, não sai do papel e a
captação dos esgotos jogados em suas águas, mal e mal chegam a 50% do
tecnicamente desejável.
Assim como os escândalos
presentes e futuros, tudo vem à tona, inclusive a matéria orgânica jogada nas
águas da baía, e que frequentemente boia, solitária, competindo junto aos remos
dos barcos single ou double skiff, acompanhando os cascos da
vela laser e optimist, ou seguindo fielmente as braçadas vigorosas dos
nadadores, enfim em todos os esportes aquáticos que se fizerem nesta baía
poluída e para a incredulidade dos atletas estrangeiros que nos visitarão
brevemente.
Tomara que eu esteja errado.
Título e Texto: José Manuel, do Rio a Niterói, de barca,
vendo o que boia na baía, 11-2-2015
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Infraestruturas
ResponderExcluirEu morava em frente ao autódromo do Rio, local onde construíram duas estruturas: o parque aquático e a arena multiesportiva.
Construiram também a… Vila Olímpica e o Estádio do Engenhão. Este, então, jamais entendi a construção naquele local, mas enfim…
Pois bem, foi tudo o que sobrou dos jogos Pan-Americanos de julho de 2007.
Antes dos jogos, o Rio de Janeiro iria ficar como Barcelona (como gostam de citar Barcelona!)… VLTs seriam implantados, discos-voadores fariam o transporte dos atletas, elevadores elevariam os cambistas, etc, etc…
Se apoderaram de uma faixa de trânsito, do aeroporto até ao autódromo, pintaram no chão “Reservado PAN 2007” e pronto! A população, que muito sofreu com os engarrafamentos, que se lixasse.
A arena, posteriormente, serviu para a realização de shows; quanto ao parque aquático, não sei se já descobriram alguma utilização (a serviço da população)…
Não ficou sequer uma linha de ônibus, nada!