Reinaldo Azevedo
Entrei na página do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo para ver se havia lá ao
menos uma moção de repúdio à fala de Jilmar Tatto, secretário de Transportes da
Prefeitura de São Paulo e deputado licenciado do PT. Por quê? Antes do início
de uma entrevista coletiva nesta terça, ao ver repórteres da Folha e do
Estadão, Tatto ironizou: “Ué, Folha e Estadão ainda mandam repórteres para a
pauta? Vocês não foram demitidos?” Achou que o gracejo era pouco e sugeriu que,
caso perdessem o emprego, que o procurassem. A dupla riu amarelo. Se os dois
veículos noticiaram a coisa, não achei. Adiante.
Não! O sindicato não publicou
uma linha a respeito. Calou-se com a covardia habitual quando o assunto é
prejudicial à reputação dos companheiros. No congresso do PT, Lula já havia
feito pouco caso das empresas de jornalismo e dos próprios jornalistas. Ao
defender a doação de pessoas físicas ao partido, disparou: “Se nós não doarmos,
quem vai doar? Os tucanos? Os jornalistas, que ganham pouco e estão perdendo o
emprego?”.
Ah, sim: entro na página no
sindicato e vejo lá uma manifestação marcada contra demissões, tudo vazado
naquela linguagem de baixo jacobinismo, que exaspera os moral e eticamente
civilizados. Ok, acho razoável que se proteste e coisa e tal, mas qual é o
pressuposto? Que as empresas demitem por gosto? Que o fazem por prazer? Com o
simples intuito de lucrar mais? Os companheiros sindicalistas ainda não
aprenderam que as empresas estão lucrando mais é quando contratam em massa, não
quando demitem? Não! Eles não aprenderam porque, para tanto, é preciso ao menos
ser jornalista e saber fazer conta. Gente que vive pendurada em aparelho sindical
não tem tempo para a economia e para a matemática. Ademais, sabem como é, eles
são todos socialistas, né?
O silêncio evidencia o mal que
faz um sindicato estar aparelhado por um partido. À medida que um mesmo ente
manda no país, na cidade e na entidade sindical, todos se subordinarão a esse
ente de razão: o PT passa a ser mais importante do que o Brasil, a cidade ou a
categoria profissional. Tudo será feito em benefício dessa máquina. Todos aos
atos serão avaliados como úteis ou prejudiciais apenas na medida em que servem
ou que não servem ao partido.
Tivessem tais agressões saído
da boca de políticos ditos “conservadores” ou “de direita”, a gritaria seria
imensa. Como, afinal, se trata dos companheiros Lula e Tatto, é claro que nada
foi por mal. Vai ver eles estavam até tentando defender os jornalistas — a seu
modo, claro!
As escolhas econômicas do
partido de Lula e Tatto desempregam hoje milhões de trabalhadores. A GM, por
exemplo, paralisou a sua produção. A Fiat pôs nesta quarta em férias coletivas
12 mil trabalhadores da fábrica de Betim, em Minas Gerais. A recessão está
parando o país, como é visível. Lula e Tatto acham graça quando isso afeta os
jornalistas porque já não os consideram bons companheiros — aqueles bons
companheiros que ajudaram, no passado, a fazer a fama e, se me permitem, a
fortuna dos atuais petistas.
E há uma razão adicional para
o sindicato não dizer nada: a exemplo dos petistas, a turma também não gosta
das empresas de comunicação e da imprensa independente.
Não é que eu os respeitasse
muito antes. Mas respeito ainda menos agora. Detesto gente covarde.
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