André Macedo
Germán Efromovich deve estar
arrependido de ter borregado a tentativa de compra da TAP há dois anos. Na
altura, não apresentou as garantias financeiras, o passo que faltava para
fechar o negócio. Quis deixar no Estado português o risco da dívida - mil
milhões de euros. Efromovich foi fiel à imagem de negociante que procura tirar
vantagem de tudo o que pode, mas que também por isso deita tudo a perder mesmo
quando tem a meta à vista. O escorpião é sempre um escorpião, até quando parece
ter asas. Para Portugal, este erro de cálculo do empresário multinacional
revelou-se uma sorte do destino.
A proposta de David Neeleman -
com o apoio de Humberto Pedrosa, dono da Barraqueiro -, que ganhou ontem a
reprivatização de 61% da companhia aérea, é não só mais sólida no Excel como
tem por trás um grau de credibilidade estratégica muito superior. Neeleman
fundou a Jetblue, nos Estados Unidos, uma empresa capaz de conciliar preços
competitivos e qualidade de serviço, sem comprometer a solidez financeira da
empresa. Mesmo nos anos mais duros da aviação comercial resistiu aos ventos
fortes e soube adaptar-se depressa à turbulência do mercado com ganhos de eficiência.
No Brasil, fundou a Azul com o
mesmo sentido de negócio: atenção ao cliente (conforto, preço) e proximidade
com os trabalhadores, distribuindo proveitos sempre que houve lucros. Não é
retórica, são escolhas que revelam uma cultura de empresa superior numa
indústria dada a conflitos laborais mais pontuais do que as partidas e chegadas
dos aviões.
Para o governo, a operação
também se traduz num êxito sem mas e
sem ses. Foi conseguida no limite
temporal, em fim de mandato, com riscos políticos evidentes e com a constante
tentação de voltar a desistir perante tantos obstáculos, incluindo providências
cautelares com tanto de oportunístico como de inconsequente.
O sucesso deve-se em grande
medida ao secretário de Estado Sérgio Monteiro, que conduziu o processo sempre
pela mão, mas também ao apoio incondicional do primeiro-ministro e a Fernando
Pinto, CEO da TAP. Foi ele quem estabeleceu o primeiro contacto com Neeleman.
Há dois anos, tentou vender-lhe a operação (deficitária) da VEM, no Brasil, já
que a Azul começava a precisar de manutenção mais pesada. Trouxe-o depois a
Lisboa, onde o entusiasmou com a TAP, e o resto é história: dinheiro na mesa,
compromissos industriais para dez anos, uma nova TAP no horizonte com o centro
de negócios em Portugal e o obrigatório hub em Lisboa.
Menos portuguesa, sim, embora
com o empresário Humberto Pedrosa a bordo, mas com outra saúde financeira, mais
flexibilidade e, talvez, mais futuro. O nacionalismo económico é relevante em
algumas áreas da economia, mas na aviação comercial já há muito se tornou
obsoleto perante tantas necessidades financeiras. Para os Emirados Árabes
Unidos, uma companhia aérea é mais um brinquedo - um brinquedo sério -, para o
Estado português seria mais uma conta a pagar no orçamento através dos impostos.
Defendido o hub contratualmente, o resto será a economia a funcionar.
P.S.: A oposição que peça
todos os esclarecimentos, tem esse direito, mas as ameaças são prematuras e
carecem de fundamento.
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