quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

[Diário de uma caminhada] O senso comum africano: o legado colonial português (2)


Gabriel Mithá Ribeiro

«Antigamente nós não éramos assim. O próprio colono mudou-nos. Construções, esta língua que estamos a falar para nos entendermos, por exemplo. Aprendemos essa linguagem. Posso dizer que o colono civilizou-nos. Trouxe escola, trouxe educação. Hoje em dia temos fábricas. (…) Embora tenham trazido progressos, no lado negativo posso dizer que desses progressos havia poucos benefícios para nós. O benefício maior era para o lado deles. Eles ensinaram-nos as coisas, demonstraram as coisas, como se faziam, mas os benefícios eram para o lado deles. Eu posso dar um exemplo daqui. Ensinaram-nos a explorar as minas, mas os lucros iam para o lado deles. Os moçambicanos trabalhavam, mas não ganhavam nada. Escravatura: também levavam pessoas para lá [Portugal e outros países coloniais]. (…) Se valeu a pena ser colonizado? Valeu, valeu. Pelo menos temos uma linguagem oficial e outra coisa foi o progresso. As coisas negativas eram próprias desse tempo. Isso não foi só no nosso país. Se não houvesse colonização não estaríamos desta maneira [desenvolvidos].» 

Registro de trabalho de campo – Moçambicano, negro, 30 anos, Cidade de Tete/Moçambique, 29-7-2004.

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA!, 30-12-2020

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«Colonialismo»: a lavagem cerebral soviética
O senso comum africano: o legado colonial português (1)
O tumor maligno entre Poder e Povo. Três teses. Tese Três
O tumor maligno entre Poder e Povo. Três teses. Tese Dois
O tumor maligno entre Poder e Povo. Três teses. Tese Um

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