Gabriel Mithá Ribeiro
Nos textos que publico e intervenções que faço
tenho a preocupação insistir no fundamental, no que determina o resto. É o caso
da particularidade que nos define enquanto espécie humana, o pensamento. Quando
procuramos captá-lo, compreendê-lo, interpretá-lo, valorizá-lo preservamos o
hábito saudável de ver a árvore, mas
revelamos enormes dificuldades em abandonar o erro crasso de não vermos a floresta. Daí em diante a compreensão do
mundo fica turva, até o óbvio fica difícil de enxergar.
A árvore
é o pensamento individual. É o pensamento do intelectual, do filósofo, do
escritor, do ensaísta, do romancista, do poeta, por aí adiante. São aqueles
indivíduos, alguns notáveis, que traduzem o seu
pensamento em livros e escritos. É para esses que tendemos a reservar a
categoria de pensador. A floresta é outra coisa, é o nosso lado
cego, abandonado, é o pensamento social ou pensamento coletivo. A floresta é o pensamento de senso comum
que as sociedades produzem à medida que os indivíduos se relacionam uns com os
outros nas ruas, cafés, zonas de residência, locais de trabalho, transportes,
convívios, redes sociais, por aí adiante.
Porque essa é a natureza humana, a árvore e muito mais floresta do pensamento nunca são estáticas no tempo e no espaço,
estão em reinvenção permanente. Por essa e por todas as razões, na sua eterna
caminhada o ser humano necessita de liberdade para se ir adaptando com
sabedoria ao mundo.
Sociedades que são sociedades renovam-se pensando
por si mesmas sem pedir licença a quem quer que seja, muito menos a umas
quantas figuras intelectuais ou políticas, tanto pior quando a sua
credibilidade é duvidosa. Perceber e respeitar as sociedades é, acima de tudo,
tratá-las como sujeitos coletivos que
pensam, atitude reveladora de uma forma superior de inteligência que alguns
indivíduos possuem por intuição ou por via da reflexão, do estudo, da
meditação. É uma das qualidades de André Ventura.
Por defeito congénito ou teimosia, os seus adversários acantonados na comunicação social, nos partidos políticos do regime, nos meios académicos, intelectuais e artísticos para parecerem muitos, mas que representam quase nada no universo coletivo pensante, manifestam ufanamente possuir uma dimensão fundamental da sua inteligência castrada, justamente a que lhes permitiria compreenderem o mundo além do seu umbigo, o sentido da realidade vivida pelas pessoas comuns tal como se manifesta nos seus quotidianos. Enquanto uns aprendem a corrigir-se, outros julgam disfarçar o seu estado de inteligência seriamente danificada insistindo em acusar quem a possui integral e saudável de populista de extrema-direita, o que agrava o seu narcisismo patológico herdeiro direto da castração mental imposta pelos soviéticos.
Só quem tem em conta a árvore e a floresta é que
consegue aproximar-se e identificar-se com noções equilibradas e tão completas
quanto possível do que é a complexidade do pensamento humano. Na prática, só
dessa forma é possível respeitar a plenitude do ser humano, aquilo a que
estamos moral e civicamente obrigados.
Quem apenas enxerga uma das metades da condição
humana – a biológica ou a mental; a afetiva-emotiva ou a racional; a teórica ou
a prática; a especulativa ou a empírica; o coração ou a cabeça; a tradição ou a
modernidade; a individual ou a coletiva –, o mesmo que dizer que quem só
enxerga a árvore e não enxerga a floresta ou, enxergando ambas, despreza
uma das dimensões para sobrevalorizar a contrária acabará por interpretar erradamente
o mundo. Essa é a génese dos fenómenos de alienação social que são, antes de
mais, fenómenos de alienação mental socialmente disseminados por quem controla
os meios para o fazer.
Desde o século XX, a novidade foi a da alienação
social passar a ser imposta pela casta minúscula referida (académicos,
intelectuais, jornalistas, autodenominados agentes da cultura como músicos,
atores, artistas plásticos, entre outros) que substituiu, com grande eficácia,
a fontes populares ou religiosas de alienação social dos séculos precedentes.
Aos olhos de tal casta, ai do desalinhado que ouse comprovar e defender
publicamente que a floresta existe,
que as sociedades pensam, sentem e têm o direito de se manifestar e decidir por
si mesmas sem a tutela de uns quantos iluminados, sem a tutela de uma casta
autoconvencida que é dona exclusiva do pensamento e sentimento humanos ou, pelo
menos, que é dona do pensamento e
sentimento corretos. Esse desalinhado será estigmatizado como perigosíssimo
populista de extrema-direita. Felizmente que o senso comum não é ignorante nem
intelectualmente estúpido, e não é por acaso que as suas tradições e crenças
não morrem, antes podem melhorar com a passagem das gerações.
Caro Leitor, espero que entenda o valor moral,
intelectual e cívico de André Ventura e o quanto lhe devemos e deveremos. Votar
na sua candidatura presidencial, apelar ao voto nela, combater quem a combate é
o mínimo que a minha consciência e inteligência exigem. Não só pelas razões
abstratas referidas, mas também por razões concretas, por vivermos num país no
qual a dignidade existencial e as condições de vida dos portugueses comuns têm
sido gravemente incompreendidas, ignoradas, humilhadas, ostensivamente
prejudicadas por todo um regime, a Terceira República.
O destino decidiu, finalmente, colocar-lhe um
travão através de uma força messiânica
que está acima do carisma, este a
autoridade natural da capacidade de liderar, aquela uma qualidade humana ainda
mais rara. Todavia, força messiânica
não significa necessariamente enviado de
Deus, apenas alguém cujas convicções íntimas instigam transformações de uma
sociedade inteira, acima de tudo por razões morais para pôr cobro a um pântano
existencial nascido do desrespeito pela plenitude da condição humana. André
Ventura é essa força, a força fundadora da Quarta República.
De resto, até nos elogios um medíocre é medíocre,
por isso não poupe nuns e noutros quando lhe parecer justo perante evidências
irrefutáveis e persistentes. Pouco mais de um ano de André Ventura contra os quarenta
e seis anos do regime chegam e sobram.
Sobretudo a partir das eleições presidenciais de
24 de janeiro, que 2021 marque decisivamente a continuação da Caminhada da Restauração do Amor-Próprio e
da Esperança dos Portugueses e de Portugal!
Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA!, 31-12-2020
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