E indiferente se o dr. Costa subjuga pessoas saudáveis pela força ou idiotas pelo engodo. O importante é perceber que todos, a não ser os perpetradores deste crime descomunal, caminham para a desgraça
Alberto Gonçalves
As fotografias dos Aliados –
e, entretanto, de outras avenidas igualmente sujas com a celebração do horror –
que correm por aí são elucidativas: à sombra dos penduricalhos, um cenário
quase deserto, vazio como o resto de Portugal, triste como o resto de Portugal.
A esperança não mora aqui. O bando que tomou conta disto também com o aval do
PCP não permite luxos desses. Dia após dia, somos bombardeados com golfadas de
propaganda, e propaganda tão sofisticada quanto os matarruanos que a produzem.
Na verdade, eles dizem o que lhes apetece, sem qualquer esforço de vincular à
realidade o que dizem. Na sexta-feira, o dr. Costa garantiu que em cinco anos
estaremos mais próximo da Alemanha, uma impossibilidade exceto se a Alemanha
sofrer uma catástrofe nuclear ou irromper no continente um abalo tectónico sem
precedentes.
Na Europa inteira, já poucas nações nos precedem em pobreza, e em 2026 é provável que nenhuma se encontra nessa humilhante situação. Se traduzirmos as intrujices do dr. Costa para língua de gente, “Alemanha” significa “Bulgária”. Ou “Albânia”. E isto sem ofensa para lugares que conheceram suficientemente o comunismo e a fome para não os transformar em desígnios nacionais. Suspeito que em Sófia e em Tirana a foice e o martelo não embelezam espaços públicos – ou privados, palpita-me. Se necessitam de referências, pensem em Caracas.
Claro que até um charlatão limitado como o dr. Costa seria capaz de mentir melhor. Mas para quê? A oposição, salvo fogachos inconsequentes, não existe. O Presidente da República é o que lá está. Os “media” arrastam-se vastamente condicionados pelos subsídios e pela ignorância. A população sobrevive paralisada por leis inconstitucionais e pelo medo. Na mesma entrevista, evidentemente ao “Público” (poderia ser ao “Expresso” ou à Sic, ao “DN” ou à “Visão”), o dr. Costa entra pela galhofa adentro e afirma que “Esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais”. É óbvio. E a Iª Guerra Mundial provou o carácter nocivo dos unicórnios cor-de-rosa. Chamem-me otimista: a minha primeira inclinação é não acreditar que haja um único indivíduo sem perturbações mentais graves capaz de levar a sério a frase do primeiro-ministro.
E se houver? Tanto faz. No
fundo é indiferente decidir se o dr. Costa subjuga pessoas saudáveis pela força
ou idiotas pelo engodo. O importante é perceber que todos, a não ser os
perpetradores deste crime descomunal, caminham para a desgraça certa. A noite
que desceu sobre nós em 2015 escureceu absoluta e definitivamente em 2020,
quando a pretexto da Covid o PS e seus comparsas concluíram a conquista do
Estado e aceleraram a conquista do país em peso. Olhar em volta é concluir que
não sobra nada, nem saúde, nem economia, nem liberdade, daquela liberdade
essencial que nos distingue dos bichos.
Os portugueses, hoje,
assemelham-se a uma plateia entorpecida pela tradição, vigiada pela polícia e
literalmente amordaçada pelas máscaras da praxe, a contemplar em silêncio
reverente as festanças dos senhores que mandam. Os senhores que mandam riem
enquanto atropelam direitos, apuram o saque fiscal, ocupam sem moderação cada
posto de poder, desviam fortunas em “investimentos” para consolo pessoal,
salivam a antecipar a “bazuca”, a “vitamina” e “aquilo de que nós gostamos”. Os
senhores que mandam riem de nós.
Não admira. Para gente sem
escrúpulos, decência ou hábitos de trabalho, prosperar à revelia, ou à custa,
da infelicidade alheia deve constituir um gozo peculiar. E o gozo aumenta à
medida que essa gente constata a simplicidade do processo: é facílimo oprimir
uma sociedade facilmente resignada à opressão. O chavão do “povo que não se
governa nem se deixa governar” é dos maiores disparates que alguém proferiu.
Uma pequena parte do povo governa-se na perfeição, a parte restante é mansa
como cordeirinhos.
Na dita entrevista ao
“Público”, o dr. Costa reflete acerca da “extrema-direita”: “Pensávamos que
estávamos [sic] imunes ao populismo e já não estamos”. Mais uma volta, mais uma
viagem, mais um deliberado tiro ao lado. O populismo, se quiserem chamar-lhe
assim, entrou cá dentro e alastrou-se feito metástase. Sem surpresas, veio da
extrema-esquerda, por especial deferência do dr. Costa. O horror da foice e do
martelo não mancha só os Aliados.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
6-3-2021
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