Ao defender a ação no Jacarezinho e apostar
na pauta da Segurança, o governador Claudio Castro pode ter pavimentado o
caminho para sua reeleição
Governador Claudio Castro, foto Philippe Lima/Governo do RJ |
Quintino Gomes Freire
Há um erro grande de alguns políticos
e de boa parte da imprensa do Rio de Janeiro em achar que a população veria com
maus olhos as operações de segurança do governo, as incursões em favelas e
mesmo as operações de ordem urbana por parte da Prefeitura. O carioca se sente
inseguro, o fluminense não gosta de desordem, por mais que façam uma tentativa
de desenhá-los como exatamente o oposto. Quem mora sob o domínio de traficantes
e milicianos não está nada feliz.
Foi justamente o fato de
tantos políticos viverem em bolhas, distantes do grosso de uma população
majoritariamente conservadora, que fez com que Jair Bolsonaro fosse
tão bem votado no estado em 2018, e ainda elegesse a reboque um desconhecido
juiz, Wilson Witzel (PSC). Ambos defendiam uma pauta de
conflito, de defesa da polícia e de combate ao tráfico. Enquanto esta questão
era levada para debates acadêmicos por parte dos outros candidatos, que se
mostraram tímidos quando o assunto era segurança.
Na verdade, a situação do Rio
é tal que o político que tiver um plano de combate ao poder paralelo do tráfico
e milícias, mostrando que agirá duramente contra as organizações, tem grandes
chances de ser eleito, bastando ter projetos “medianos” para as outras áreas.
Não por acaso, ambos foram bem
votados em áreas dominadas pela milícia e narcotraficantes, de tão cansadas que
as pessoas estão de viver sob a mira do fuzil. E não ajuda nada quando após
uma operação como a do Jacarezinho, mostram na TV a mãe de bandidos gritando pedindo
Justiça. Para a maior parte da população, os bandidos mortos é que foram a
verdadeira Justiça. As pessoas que vivem em áreas conflagradas não aguentam
mais suas filhas sendo obrigadas a sair e se relacionar com
traficantes; as senhoras não aguentam mais ter gente separando drogas e
embalando cocaína na cozinha das suas casas, e nem os moradores adoram ver
pessoas guardando armas debaixo das camas onde dormem.
Essas pessoas que vivem em áreas conflagradas, se comportam em público como querem os “donos da favela”. Depois das incursões policiais, se jogam no chão, queimam pneus, gritam que morreram trabalhadores. O script é seguido à risca. Mas na hora que estão dentro da cabine de votação, o número que digitam muitas vezes é o do candidato que promete acabar com tudo aquilo, inclusive à custa de incursões policiais. Aquele momento de cara-a-cara com a urna eleitoral é um momento pessoal; ali é o local onde ‘falam a verdade’, muito mais do que quando são entrevistados pela TV Local, mostrando a cara. Isso aí é que quem está na bolha da intelectualidade de esquerda não percebe.
No Semana no Rio da última
semana, Felipe Lucena e eu debatemos esta questão, de forma acalorada; um
debate em que ele insiste que houve chacina, enquanto demonstro que houve
operação policial. Vocês podem assistir abaixo:
Não resta dúvidas que a
solução para a violência passa por um combate efetivo ao tráfico de armas e não
só de drogas. Mas as pessoas têm consciência de que a solução total do problema
não pode começar sem vitórias em batalhas iniciais. A legalização das drogas é
uma das hipóteses possíveis para tornar inútil e imprestável o comércio dos
traficantes: como diz o presidente do DIÁRIO DO RIO, meu amigo
Claudio André, ao criar-se uma DrograBras para distribuir as
drogas a quem é usuário, o traficante perderia sua utilidade. Mas há diversas
outras possibilidades para diminuir o poder paralelo dos traficantes. Nenhuma
delas passa por deixá-los quietos onde estão. Até porque se não
tiverem drogas para vender, buscarão outro tipo de vida fácil e curta: precisam
ostentar suas correntes de ouro ridículas e seus tênis novos e coloridos.
E sabendo disso tudo, o
governador Claudio Castro (PSC) acabou cometendo um grande
acerto ao defender publicamente a operação policial no Jacarezinho. Ao
contrário que fica no imaginário de quem é contra e vive em sua própria bolha,
ele não falou apenas ao eleitor bolsonarista, que chega a importantes, mas
insuficientes 20% da população. Castro falou com boa parte da
população que vive em locais com tiroteios diários, como é o caso da Praça
Seca, onde nasci e vivi por mais de 30 anos. Não tomem o grito da moradora na
frente das câmeras pelo que pensa quietinho em casa – ou sozinho em
frente à urna – quem vive há anos sob o domínio de malfeitores.
O ódio ao poder
paralelo dos bandidos desprezíveis que dominam as favelas – sejam
traficantes ou milicianos – é um sentimento comum à absoluta maioria dos
fluminenses. E pouco importa se são de esquerda, direita ou de centro. Eles
querem o fim da atuação destes que são o câncer da sociedade. Isso se depreende
também dos milhares de e-mails, comentários e mensagens que recebemos quando
publicamos o último editorial em que defendemos a operação. O político que
souber usar isto de forma equilibrada, sem gritar por “tiro na cabecinha“,
tem uma chance enorme de tomar de assalto o Palácio das Laranjeiras no próximo
pleito. Ou manter-se nele.
Castro também deu apoio aos
policiais: seu secretário da Polícia Civil, Allan Turnowski, fez um
belo discurso no funeral do policial que morreu durante a operação, o
inspetor André Leonardo de Mello Frias. Uma presença que vai ser
lembrada por muito tempo pela corporação. O tratou como um herói que caiu
combatendo um inimigo que não quis fugir, pois tinha preparado aquele
território durante um ano inteiro, instalando casamatas e barreiras, e outras
instalações semimilitares, aproveitando a proibição de incursões policiais pelo
STF.
Enquanto isso a esquerda e
parte da imprensa meteram, uma vez mais, os pés pelas mãos. Chamaram de chacina
o que foi claramente um combate policial. Como bem disse Turnowski,
os traficantes que normalmente fogem, fincaram o pé e não quiseram deixar o
Jacarezinho. Uma jornalista chegou a dizer na TV que não faria sentido morrer
apenas um policial e tantos traficantes, como se o policial não fosse um profissional
treinado para este tipo de combate, enquanto o bandido não passa de
um fanfarrão que acha que basta ter uma arma e um cordão de
ouro da grossura de uma corrente de bicicleta para se tornar uma espécie de
Rambo tupiniquim. Isto sem contar que o Policial conhece a operação de antemão
e em detalhe, enquanto o bandido, no máximo, tem uma vaga ideia de como a
polícia atuará durante o combate. Nunca ouviram falar em treinamento,
efeito-surpresa?
Começaram até a divulgar uma
tosca fake news de que a Polícia Civil teria entrado na área apenas para
liberar o espaço para a milícia. Uma loucura tão absurda que
até me fez ser chamado de porta-voz de miliciano ao escrever um editorial
explicando, detalhando e apoiando a operação. Isso como se polícia e milícia
fossem a mesma coisa, da mesma forma que favelado e traficante são coisas
completamente diferentes.
Castro, que tinha apenas 5% de
avaliações ótimo+bom e aparecia em 6º numa importante mas ainda
preliminar pesquisa para governador do Rio, certamente verá crescer sua popularidade. Enquanto
isso, a previsível e cansativa posição da esquerda pode diminuir as chances de
Freixo para governador do Rio; ninguém quer, no momento, na
liderança do Executivo, alguém que não pareça querer lutar e bater de frente
contra o crime organizado. Ou mesmo alguém que pareça achar que apenas a
milícia merece ser combatida. Se a milícia é um câncer, o tráfico também o é.
São organizações assassinas, desprezíveis e inimigas do Rio de Janeiro. Pouco
importa se temos mais traficantes do que milicianos, ou vice-versa.
Em breve, Castro deverá
apresentar o projeto Rio+Seguro, uma evolução do Segurança
Presente. Enquanto o programa Presente é focado nas áreas mais comerciais dos
bairros, o Rio+Seguro deve trazer de volta o velho sistema Cosme e Damião (quem
é mais velho se lembra da dupla de policiais que andava pelas ruas do bairro),
com policiamento mais ostensivo por bairros do estado. Algo melhor que a UPP,
que acabou sendo um cobertor muito curto, depois de ser transformado em um
projeto eleitoreiro, e crescer em velocidade muito maior do que o treinamento
de policiais e o investimento em segurança. Afinal, não adianta conquistar e
dominar, se não for possível manter.
O novo projeto deve começar
por Copacabana, com tolerância zero à criminalidade e, se der certo, Claudio
Castro começará a pavimentar seu caminho para uma reeleição, que hoje ainda
parece meio distante. Só que após ver sua atuação na operação do Jacarezinho,
passa a ser possível.
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário do Rio, 9-5-2021
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