Péricles Capanema
Figura de posições controvertidas. De pais judeus, George Soros [foto] nasceu em Budapeste, 1930. Fugindo da perseguição nazista, a família homiziou-se na Inglaterra. De lá, em 1956, Soros emigrou para os Estados Unidos. Empregou-se no setor bancário e ali fundou em 1973 a Soros Fund Management, estabelecendo-se com rapidez como dos mais destros financistas de Wall Street. Ainda jovem, ficou bilionário. Vem praticando o que qualifica de filantropismo político, além de outras formas de filantropismo. Fundou as “Open Society Foundations” em 1993; são várias as fundações, com frequência uma em cada país, daí o plural (desde 1979 já agia como filantropo político). Canaliza para ela bilhões de dólares e custeia entidades que promovem a “sociedade livre”; à vera, com muita frequência as chamadas causas progressistas. Em 2017, doou 80% de seu patrimônio para a entidade por ele instituída ▬ mais de 32 bilhões de dólares no total, desde o início. Por suas atividades, é figura controvertida e muito combatida, tantas vezes com fundamentos sólidos. Ninguém, contudo, nega a George Soros inteligência privilegiada, autoridade e hábito dos assuntos internacionais. Escreveu recentemente, em 11 de março, artigo sobre a guerra da Ucrânia, que ontem me chegou às mãos: “Vladimir Putin and the Risk of World War III” ▬ Vladimir Putin e o risco da 3ª Guerra Mundial. Na matéria manifesta Soros o desejo de que Putin e Xi Jinping sejam depostos para o bem da humanidade. Mas não é sobre isso que pretendo chamar a atenção. Chama atenção outra coisa, o contraste do estado de espírito, profundidade de observação e seriedade de análise de lá e o de cá. Para vantagem deles e tristeza nossa.
Advertências que não se
ouvem no Brasil e nem até aqui chegam. Convém, de passagem, antes de me
reportar ao artigo acima referido, destacar recente pronunciamento de Soros
na Hoover Institution, dos mais prestigiados think tanks norte-americanos,
31 de janeiro de 2022: “[Xi Jinping], em vez de deixar o setor privado
prosperar, impôs seu próprio ‘sonho chinês’, que pode ser resumido em duas palavras:
controle total. Xi Jinping acredita piamente no comunismo. Mao
Tsé-Tung e Lênin são seus ídolos. Na comemoração do 100º aniversário do Partido
Comunista Chinês ele usava túnica Mao enquanto o resto vestia terno. Xi,
inspirado em Lênin, tem controle total sobre os militares e domina as
instituições de repressão e supervisão. Xi Jinping acredita que está pondo de
pé sistema de governo superior à democracia liberal”.
Circunspecção. Vale como advertência de “insider” de Wall Street, vale ainda mais como sintoma de opinião presente nos círculos frequentados por George Soros. Circunspecção, o olhar vigilante ao redor de si de setores expressivos na mais poderosa nação da Terra.
A guerra só começou depois
da luz verde chinesa. Agora, o artigo mencionado. Assim George Soros dá o
pontapé inicial: “Depois de receber luz verde do presidente chinês XI Jinping,
o presidente russo começou sua guerra”. O megacapitalista se dirige em especial
aos colegas de Wall Street, acadêmicos e, em geral, figuras de expressão dos
Estados Unidos. Garante com certeza, Putin só começou a guerra depois de
receber luz verde do dirigente comunista chinês. Sem o “vá em frente” não teria
havido guerra.
A batuta chinesa. O que leva a supor que o desenvolvimento da guerra de alguma maneira obedece a conveniências políticas do Partido Comunista Chinês. Soros chama a atenção para este ponto: o foco dos analistas deve estar em Xi Jinping. De outra maneira, como a China estará colocada logo após o fim do tsunami provocado pela agressão russa. Circunspecção, de novo.
Análise objetiva, fugir do
escapismo. Permito-me chamar a atenção para recente post meu, 20 de março,
em que expressava apreensão parecida: “Escapismo. Relaciono agora a
matéria com a atualidade mundial. É normal, louvável, indispensável mesmo que,
a propósito da agressão russa à Ucrânia, os olhares se voltem para a
possibilidade da 3ª Guerra Mundial. Entre muitos males dantescos, poderia ser
nuclear, acarretar morte de milhões, talvez bilhões de pessoas, representar o
fim da era histórica em que nos encontramos. Contudo, postas as informações que
me chegam, não é o mais provável. Vislumbram-se pistas de acomodação e acordo.
O que, de momento, parece mais provável e está sendo colocado em segundo plano,
pelo menos no material que conheço? Enfraquecida e mais isolada por causa da
investida criminosa na Ucrânia, a Rússia está se afastando ainda mais da Europa
e dos Estados Unidos e se aproximando ▬
aumento da dependência ▬ da China. O antigo Império
do Meio joga parado, fortalece seu cacife e seu jogo. Cada vez mais se coloca
em condição de grande “player”. Em tais circunstâncias, constitui escapismo não
ficar o olhar em fatores de aumento e consolidação da área de influência
chinesa. Ou sino-russa, para o caso, a mesma não faz diferença”.
O que se lê e se ouve no
Brasil. Apontei circunspecção acima. Mesmo em ambientes progressistas,
vislumbram-se olhares apreensivos e lúcidos para aspectos fundamentais de
perigos que rondam os Estados Unidos (e o Mundo Livre).
Dessiso, leviandade,
inconsequência. E mentiras a granel. Tratarei agora, para desgraça nossa,
de dessiso, leviandade e inconsequência. O portal UOL, 27 de março, divulgou
ampla matéria sobre tema candente no País, o preço da gasolina e do diesel.
Título: “Refinaria privatizada tende a vender combustível mais caro, dizem
analistas”. Afirma o texto, a gasolina e o diesel, vendidos pela refinaria de
Mataripe, responsável por 14% do refino nacional, está quase 30% acima dos
preços praticados pela Petrobras. E que será essa a tendência da privatização
do setor, com a lógica do lucro imperando. Numerosas matérias tratam da
“refinaria privatizada” e seus preços.
Estatização selvagem.
Só falta um detalhe: a refinaria de Mataripe (refinaria Randulpho Alves) não
foi privatizada, houve ali à vera processo de estatização selvagem, retrocesso
pavoroso. Ela pertencia antes a uma sociedade de economia mista (Petrobras),
com maioria de capital privado, em torno de 65%, mas com controle estatal,
pouco mais de 50% das ações ordinárias com direito a voto pertencem à União.
Agora é propriedade de uma empresa inteiramente estatal, o Fundo Mubadala, por
inteiro dependente do governo de Abu Dhabi. De forma enganosa a imprensa
divulga quer ali houve um processo de privatização e desestatização. O que
seria um bom avanço. Um segundo ponto, relacionado com o anterior. A CTG Brasil
publicou material propagandístico de página inteira no “Estado de S. Paulo”, 29
de março último. Informa a propaganda da CTG: “Desde que iniciou atividades no
Brasil em 2013, a empresa já investiu R$23 bilhões no País. A CTG Brasil é a
segunda maior geradora privada de energia do País”. Existe um erro aqui? Sim,
informou de forma a enganar. A CTG Brasil não é geradora privada, é estatal
chinesa, dirigida pelo governo de Pequim ▬
se quisermos, “longa manus” do Partido Comunista Chinês.
No citado diário, impulso de mesma direção, 28 de março, consta
entrevista do CEO da empresa Azimut Brasil (gestora de ativos). Seu presidente
Giuseppe Perrucci, aconselha os investidores brasileiros, na busca de
estabilidade e rentabilidade, a investir nas empresas que compõem o índice de
Xangai. Por dinheiro nas empresas com ações na bolsa chinesa. Das três empresas
em que sugere aplicações, duas, PetroChina e China Life, são estatais. O
conselho é esse, então: para obter segurança, estabilidade, rentabilidade,
compre ações de estatais chinesas.
Esfera de influência.
Por que trago tais fatos à atenção do leitor? Para que não esqueçamos, o Brasil
está realizando um perigoso deslizamento, afasta-se da área ocidental e se
afunda no pântano chinês. Não é atitude de homens de bem circunspectos. Revela,
no mínimo, falta de siso, leviandade, inconsequência. Rumo contrário ao que foi
constato acima, vivo em setores dos Estados Unidos. É um bom exemplo, pode nos
afastar de maus caminhos. Ainda há tempo para mudar o rumo. Cada vez mais, irá
ficando mais difícil.
Título e Texto: Péricles
Capanema - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do
livro “Horizontes de Minas”, 31-3-2022
Homizou-se...???
ResponderExcluirHomiziar:
ResponderExcluirfurtar(-se) à vigilância ou à ação da justiça;
furtar(-se) à vista; esconder(-se), encobrir(-se).