sexta-feira, 1 de abril de 2022

Brados penetrantes de George Soros

Péricles Capanema 

Figura de posições controvertidas. De pais judeus, George Soros [foto] nasceu em Budapeste, 1930. Fugindo da perseguição nazista, a família homiziou-se na Inglaterra. De lá, em 1956, Soros emigrou para os Estados Unidos. Empregou-se no setor bancário e ali fundou em 1973 a Soros Fund Management, estabelecendo-se com rapidez como dos mais destros financistas de Wall Street. Ainda jovem, ficou bilionário. Vem praticando o que qualifica de filantropismo político, além de outras formas de filantropismo. Fundou as “Open Society Foundations” em 1993; são várias as fundações, com frequência uma em cada país, daí o plural (desde 1979 já agia como filantropo político). Canaliza para ela bilhões de dólares e custeia entidades que promovem a “sociedade livre”; à vera, com muita frequência as chamadas causas progressistas. Em 2017, doou 80% de seu patrimônio para a entidade por ele instituída mais de 32 bilhões de dólares no total, desde o início. Por suas atividades, é figura controvertida e muito combatida, tantas vezes com fundamentos sólidos. Ninguém, contudo, nega a George Soros inteligência privilegiada, autoridade e hábito dos assuntos internacionais. Escreveu recentemente, em 11 de março, artigo sobre a guerra da Ucrânia, que ontem me chegou às mãos: “Vladimir Putin and the Risk of World War III Vladimir Putin e o risco da 3ª Guerra Mundial. Na matéria manifesta Soros o desejo de que Putin e Xi Jinping sejam depostos para o bem da humanidade. Mas não é sobre isso que pretendo chamar a atenção. Chama atenção outra coisa, o contraste do estado de espírito, profundidade de observação e seriedade de análise de lá e o de cá. Para vantagem deles e tristeza nossa. 

Advertências que não se ouvem no Brasil e nem até aqui chegam. Convém, de passagem, antes de me reportar ao artigo acima referido, destacar recente pronunciamento de Soros na Hoover Institution, dos mais prestigiados think tanks norte-americanos, 31 de janeiro de 2022: “[Xi Jinping], em vez de deixar o setor privado prosperar, impôs seu próprio ‘sonho chinês’, que pode ser resumido em duas palavras: controle total. Xi Jinping   acredita piamente no comunismo. Mao Tsé-Tung e Lênin são seus ídolos. Na comemoração do 100º aniversário do Partido Comunista Chinês ele usava túnica Mao enquanto o resto vestia terno. Xi, inspirado em Lênin, tem controle total sobre os militares e domina as instituições de repressão e supervisão. Xi Jinping acredita que está pondo de pé sistema de governo superior à democracia liberal”. 

Circunspecção. Vale como advertência de “insider” de Wall Street, vale ainda mais como sintoma de opinião presente nos círculos frequentados por George Soros. Circunspecção, o olhar vigilante ao redor de si de setores expressivos na mais poderosa nação da Terra. 

A guerra só começou depois da luz verde chinesa. Agora, o artigo mencionado. Assim George Soros dá o pontapé inicial: “Depois de receber luz verde do presidente chinês XI Jinping, o presidente russo começou sua guerra”. O megacapitalista se dirige em especial aos colegas de Wall Street, acadêmicos e, em geral, figuras de expressão dos Estados Unidos. Garante com certeza, Putin só começou a guerra depois de receber luz verde do dirigente comunista chinês. Sem o “vá em frente” não teria havido guerra. 

A batuta chinesa. O que leva a supor que o desenvolvimento da guerra de alguma maneira obedece a conveniências políticas do Partido Comunista Chinês. Soros chama a atenção para este ponto: o foco dos analistas deve estar em Xi Jinping. De outra maneira, como a China estará colocada logo após o fim do tsunami provocado pela agressão russa. Circunspecção, de novo. 

Análise objetiva, fugir do escapismo. Permito-me chamar a atenção para recente post meu, 20 de março, em que expressava apreensão parecida: “Escapismo. Relaciono agora a matéria com a atualidade mundial. É normal, louvável, indispensável mesmo que, a propósito da agressão russa à Ucrânia, os olhares se voltem para a possibilidade da 3ª Guerra Mundial. Entre muitos males dantescos, poderia ser nuclear, acarretar morte de milhões, talvez bilhões de pessoas, representar o fim da era histórica em que nos encontramos. Contudo, postas as informações que me chegam, não é o mais provável. Vislumbram-se pistas de acomodação e acordo. O que, de momento, parece mais provável e está sendo colocado em segundo plano, pelo menos no material que conheço? Enfraquecida e mais isolada por causa da investida criminosa na Ucrânia, a Rússia está se afastando ainda mais da Europa e dos Estados Unidos e se aproximando aumento da dependência da China. O antigo Império do Meio joga parado, fortalece seu cacife e seu jogo. Cada vez mais se coloca em condição de grande “player”. Em tais circunstâncias, constitui escapismo não ficar o olhar em fatores de aumento e consolidação da área de influência chinesa. Ou sino-russa, para o caso, a mesma não faz diferença”. 

O que se lê e se ouve no Brasil. Apontei circunspecção acima. Mesmo em ambientes progressistas, vislumbram-se olhares apreensivos e lúcidos para aspectos fundamentais de perigos que rondam os Estados Unidos (e o Mundo Livre). 

Dessiso, leviandade, inconsequência. E mentiras a granel. Tratarei agora, para desgraça nossa, de dessiso, leviandade e inconsequência. O portal UOL, 27 de março, divulgou ampla matéria sobre tema candente no País, o preço da gasolina e do diesel. Título: “Refinaria privatizada tende a vender combustível mais caro, dizem analistas”. Afirma o texto, a gasolina e o diesel, vendidos pela refinaria de Mataripe, responsável por 14% do refino nacional, está quase 30% acima dos preços praticados pela Petrobras. E que será essa a tendência da privatização do setor, com a lógica do lucro imperando. Numerosas matérias tratam da “refinaria privatizada” e seus preços. 

Estatização selvagem. Só falta um detalhe: a refinaria de Mataripe (refinaria Randulpho Alves) não foi privatizada, houve ali à vera processo de estatização selvagem, retrocesso pavoroso. Ela pertencia antes a uma sociedade de economia mista (Petrobras), com maioria de capital privado, em torno de 65%, mas com controle estatal, pouco mais de 50% das ações ordinárias com direito a voto pertencem à União. Agora é propriedade de uma empresa inteiramente estatal, o Fundo Mubadala, por inteiro dependente do governo de Abu Dhabi. De forma enganosa a imprensa divulga quer ali houve um processo de privatização e desestatização. O que seria um bom avanço. Um segundo ponto, relacionado com o anterior. A CTG Brasil publicou material propagandístico de página inteira no “Estado de S. Paulo”, 29 de março último. Informa a propaganda da CTG: “Desde que iniciou atividades no Brasil em 2013, a empresa já investiu R$23 bilhões no País. A CTG Brasil é a segunda maior geradora privada de energia do País”. Existe um erro aqui? Sim, informou de forma a enganar. A CTG Brasil não é geradora privada, é estatal chinesa, dirigida pelo governo de Pequim se quisermos, longa manus do Partido Comunista Chinês. No citado diário, impulso de mesma direção, 28 de março, consta entrevista do CEO da empresa Azimut Brasil (gestora de ativos). Seu presidente Giuseppe Perrucci, aconselha os investidores brasileiros, na busca de estabilidade e rentabilidade, a investir nas empresas que compõem o índice de Xangai. Por dinheiro nas empresas com ações na bolsa chinesa. Das três empresas em que sugere aplicações, duas, PetroChina e China Life, são estatais. O conselho é esse, então: para obter segurança, estabilidade, rentabilidade, compre ações de estatais chinesas. 

Esfera de influência. Por que trago tais fatos à atenção do leitor? Para que não esqueçamos, o Brasil está realizando um perigoso deslizamento, afasta-se da área ocidental e se afunda no pântano chinês. Não é atitude de homens de bem circunspectos. Revela, no mínimo, falta de siso, leviandade, inconsequência. Rumo contrário ao que foi constato acima, vivo em setores dos Estados Unidos. É um bom exemplo, pode nos afastar de maus caminhos. Ainda há tempo para mudar o rumo. Cada vez mais, irá ficando mais difícil. 

Título e Texto: Péricles Capanema - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas”, 31-3-2022

2 comentários:

  1. Homiziar:
    furtar(-se) à vigilância ou à ação da justiça;
    furtar(-se) à vista; esconder(-se), encobrir(-se).

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