O Odeon sofre com a decadência do Centro da cidade. A bela fachada e a arquitetura rebuscada do seu interior contrastam com a sujeira das calçadas e a algazarra produzida pelos moradores de rua
Patricia Lima
O encerramento das exibições diárias de filmes no Cine Odeon, na Cinelândia, no Centro do Rio, deixou muitos amantes da 7ª arte sem mais um espaço para o deleite cultural. Quem não ficou ansioso para assistir a algum filme do Festival do Rio ou do Festival Varilux de Cinema Francês, no Odeon, não faz ideia da felicidade que era ter contato com produções de alto padrão e que não eram exibidas nos cinemas comerciais.
A Cinelândia e o Odeon, mais
do que uma praça e um cinema, formam um casal cultural e simbólico no
imaginário carioca. Falar em ambos, é falar também em política e arte, nas
telas e nas ruas.
Assim como Cinelândia, o Odeon
sofre com a decadência do Centro da cidade. A bela fachada e a arquitetura
rebuscada do seu interior contrastam com a sujeira das calçadas e a algazarra
produzida pelos moradores de rua, que tornam uma missão desagradável passar
pela frente do Odeon.
Inaugurado em 1926, o Odeon é
o mais antigo cinema da cidade ainda de pé. Pertencente à rede Kinoplex, desde
outubro de 2020, não conta com sessões diárias de filmes, apenas recebendo
grandes eventos, quando acontecem. Afora isso, o espaço fica fechado.
O encerramento das atividades do Odeon representa apenas mais um triste capítulo do esvaziamento cultural do Rio de Janeiro, que já perdeu a maior parte dos cinemas de rua, teve vários teatros fechados e, ainda tem que assistir à degradação das carcaças do Teatro Vila Lobos (Maravilhoso!) e do histórico Canecão.
Dois irmãos mais novos do
Odeon não suportaram as pressões das mais variadas mudanças que afetaram a
forma das pessoas se relacionaram com o conteúdo cinematográfico. Os
cinemas Roxy e Joia, ambos em Copacabana, também
não resistiram e foram tragados pela crise produzida pela fatídica pandemia de
Covid-19. É bom que se diga que esses cinemas eram as últimas salas
tradicionais em funcionamento no bairro, que já contou com vários cinemas de
rua, inclusive o inesquecível Rian.
Em entrevista ao jornal O
Dia, a gerente de Marketing do Kinoplex, Patricia Cotta,
apontou o esvaziamento do centro como o deflagrador do esvaziamento do Odeon.
Segundo Cotta, “o cinema já não apresentava um resultado positivo, mostrando-se
um espaço exclusivamente para eventos, quesito no qual ele funciona muito bem.”
Para Patrícia Cotta, o fato de
o Odeon não ter mais exibições diárias não representa uma perda cultural, uma
vez que os eventos, quando realizados, são abertos ao público. “O cinema não
foi fechado para o público. Muito pelo contrário. Mantivemos a operação para
preservar a cultura e apenas adaptamos o formato com eventos que, em sua
maioria, são abertos a todo o público,” ressaltou a gerente de Marketing do
Kinoplex.
Se passar em frente ao Odeon
de dia já uma aventura, à noite é um verdadeiro safari. Quem diria que a
‘Maratona Odeon’, que atraía os cinéfilos corujões e começava à meia-noite,
seria apenas mais uma lembrança, entre tantas que passaram a compor o imaginário
de perda cultural e saudade do carioca. Precisamos revitalizar culturalmente o
Rio. Chega de saudade!
Título e Texto: Patricia Lima,
Diário
do Rio, 8-4-2022
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