Carina Bratt
O CAMINHO ESTAVA BEM ALI, lindo, florido, encantador e convidativo diante de meus olhos, quase me atropelando os sapatos. Cega, como se de repente tivesse perdido a visão, parecia presa ao chão bruto. Distanciada da realidade, eu não enxergava um palmo adiante do nariz. O coração acelerado, dava a impressão de que, a qualquer momento, sairia boca afora. Sem falar na tremedeira repentina, por todo o corpo. Bem sabia, bastava seguir em frente. Um passo apenas. Um simples passo e pronto. Como se no bater de uma varinha de condão, eu me visse livre dos meus medos e dissabores.
Enquanto isso, o Anjinho do Bem, me dizia pressuroso, ao pé do ouvido:
— Moça, em frente. Qual seu medo? Estou aqui lhe guardando, lhe protegendo, velando pela sua vida’.
De contrapeso, o Anjinho Malvado, filho de uma boa mãe, do outro lado, seguia sorridente, me instigando, me colocando dúvidas:
— Cuidado, garota, se você der um passo, será a sua ruina. E então... o que decide?
Apavorada, engastada (1), confusa, transtornada, continuava feito uma debiloide, os pensamentos a mil: ‘E agora, vou ou fico? Fico, ou vou?
Sigo adiante ou permaneço como uma potranca empacada diante de uma charrete com um cocheiro lindo e um alazão à minha espera? ’. A dúvida é uma dor forte e ingrata que só faz aumentar o desconforto da alma. Entre pavor e assombramento, fraqueza e desânimo, estuporação (2) e perplexidade, pouco ar para respirar um oxigênio salvador, acorrentada no abissal (3) dos sentimentos, a dúvida dificultosa e controversa, massacrava. Não me deixava pensar numa saída confortável:
— Vou ou fico? Ficou ou vou...
O Anjinho Ordinário, botando pilha, seguia persistente acrescentando lenha tenra para aumentar o fogo:
— Vai, merda... seja homem igual a sua mãe...
Acabei criando uma floresta maior que a da Amazônia em derredor de mim e, por conta, me perdi no meio dela. Nesse combate, peleja daqui, digladia dali, rivaliza acolá, o tempo se tornando escasso para meu desassossego, como um pescador em seu barco, perdido em alto mar tentando fugir de ondas enormes insistindo em levá-lo de encontro à morte diante de rochedos de rostos tenebrosos criei coragem. Decidi ouvir os conselhos do Anjinho do Bem. O outro que fosse para os quintos. Do nada, o meu receio que aflorara, se dissipou. A minha frente, surgiu um novo panorama aberto num quadro de graciosidade e louçania (4).
Me senti liberta, solta, alforriada e suavizada de empecilhos e atravancos, embargos e estorvos. O caminho da Felicidade plena estava bem ali, magnânimo e gentil, dadivoso e munificente (5), só esperando que eu desse o primeiro passo e sentisse cada pedacinho desenhado pelo Criador de Tudo. Às vezes, na nossa vida cotidiana, devemos deixar de lado os momentos ruins e embelecar (6) o que se nos apresenta de fisionomia inativa e estagnada. Nem sempre o esquisito é pernicioso, tampouco o esdrúxulo alienígena e chocante. Dentro dos caminhos que se fecham à nossa visão do amanhã (sejam eles bons ou maus), não traduzem necessariamente um futuro causticante e fastidioso.
Precisamos ter em mente que o Pai Maior nos observa minuto a minuto, segundo a segundo. Tudo por Ele é visto e revisto com tênue e grácil olhar de bondade e delicadeza, numa engenhosidade quase impalpável. Tenha em mente que o Anjinho do Bem não dorme. Por mais que o Anjinho Nefando lhe perturbe a tranquilidade, ou tente lhe tirar dos trilhos, não perca a Paz interior, o discernimento, o bom senso. O caminho da prosperidade é como uma luz muito forte. Por vezes, nos deixa sem ver nada; noutras a luz majestosa dança na pureza; como se dos vitrais do seu ‘eu’ interior brotasse um gênio de Deus.
Minhas queridas amigas e leitoras da ‘Grande Família Cão Que Fuma’, fiquem atentas. Por certo, esse Encantado que menciono aqui, cada uma de nós carrega dentro do coração. Lembrem sempre que ele, o Gênio, ao bater com a varinha de condão na relva das terras brutas das nossas vidas, elas se transformarão num espetaculoso porvir jamais sonhado ou imaginado. Busquem dentro do ego, sempre, as Forças propulsoras que nos mantém vivas. Nunca se olvidem que tudo, à nossa volta, se metamorfoseia, com um simples gesto de um ‘PASSO À FRENTE’. ‘UM PASSO, APENAS...’ e a Gloria da FELICIDADE se fará pujante e levará para longe aquelas sombras negras que nos tiravam a tranquilidade e o viço de sermos literalmente mulheres RADIOSAS e AFORNUNADAS.
Notas de rodapé:
1) Engastada – Aquilo que se engastou ou se encaixou. Coisa que se amoldou à outra.
2) Estuporação – Grande espanto ou sobressalto.
3) Abissal – Buraco sem fundo, coisa aterradora.
4) Louçania – Elegância, graciosidade e muito esbelto.
5) Munificente – Pessoa de gestos nobres e caridosos.
6 ) Embelecar – Maquiar com artifícios, ou iludir.
Título e Texto: Carina Bratt. De Vila Velha, no Espírito Santo. 11-9-2022
Tudo
Nada
Assunto mais sério que guri cagado
Tudo é questão de não deixar passar os bons momentos
Escarcéu de uma louca quase à deriva de si mesma
Às vezes, quando não existo no meu mundo...
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