Os portais, sites e blogs registram a
“forte reação” de José Dirceu ao pedido de condenação de 36 — e não de 37 — dos
40 inicialmente acusados de envolvimento com o mensalão — Silvio Pereira, o
“Silvinho Land Rover”, fez acordo com o Ministério Público para prestar
serviços à comunidade; José Janene morreu, e Roberto Gurgel diz não ter
encontrado provas contra Luiz Gushiken e Antonio Lamas. Manteve as acusações
contra os demais. Entre estes, encontram-se Dirceu, os deputados federais João
Paulo Cunha (PT) e Valdemar Costa Neto (PR), José Genoino, Roberto Jefferson,
Delúbio Soares e Marcos Valério.
Coube a Dirceu, que não exerce mandato
nenhum nem ocupa cargo público — não oficialmente ao menos — armar a reação à
acusação feita pelo procurador. A tese de fundo é aquela de todos conhecida,
orquestrada por Luiz Inácio Lula da Silva, sob o comando técnico de Franklin
Martins: o mensalão nunca existiu. Toda aquela lambança envolvendo, inclusive,
dinheiro público, era nada mais do que caixa dois de campanha. Não era! Mas
digamos que fosse. Para alimentar um caixa dois, é possível cometer os
seguintes crimes: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção
passiva, corrupção ativa etc. Fica parecendo, e isto é mesmo formidável, que a
admissão de irregularidades no financiamento de campanha anula automaticamente
os demais crimes. Se há safadeza com uma pletora de provas, esta safadeza é o
que se convencionou chamar de “mensalão”.
A defesa de Dirceu também se mostra
indignada porque Roberto Gurgel lembrou que ele continua a ser figura influente
no PT. Acha que isso não diz nada sobre o caso. Como não? Demonstra a ousadia
dessa gente. Aliás, do ponto de vista financeiro, o mensalão fez um bem imenso
ao Zé, que passou a ser “consultor de empresas privadas”, mas com trânsito
livre no PT e no Palácio do Planalto, onde, admitiu em entrevista, um
telefonema seu “é um telefonema!”. Reportagem de VEJA já demonstrou como um
cliente seu, Fernando Cavendish — da empreiteira Delta, aquela muito amiga de
Sérgio Cabral — viu abertas as portas no governo federal depois de ter
contratado os serviços do “consultor”. Em 2010, o “chefe de quadrilha”, segundo
a Procuradoria, cuidou das alianças do PT nos Estados.
Ao lembrar que Dirceu segue poderoso,
o procurador lembra, em suma, os efeitos deletérios da impunidade. E não só
ele! João Paulo Cunha (PT), acreditem!, é o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara. Valdemar Costa Neto, chefão do PR, tinha o
controle do Ministério dos Transportes e volta a ser estrela de um escândalo.
José Genoino é assessor do Ministério da Defesa; Delúbio voltou ao PT com pompa
e festa, abrigado por mais de 70% do Diretório Nacional.
É evidente que tudo isso escarnece das
leis, da moralidade pública, dos brasileiros, em suma. Não dá para, a cada
reportagem, lembrar a contribuição de cada um dos 36 acusados para a
sem-vergonhice. Os arquivos estão por aí. Uma coisa é inquestionável: poucos
crimes deixaram tantos rastros. As raras punições havidas foram políticas. Essa
gente tem é de responder criminalmente pela lambança.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo
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