sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

«Eu vou oferecer presentes de Natal!»


Isabel Stilwell
Já não aguento virar as páginas das revistas, ouvir os entrevistados na rádio e na televisão, a repetirem variantes politicamente correctas do “Este Natal não há ofertas para ninguém”, a que acrescentam a promessa de que lá por casa não haverá nem festa, nem comida, nem os luxos do costume. Até há quem diga que já explicou às crianças que este Natal, até o Pai Natal aderiu à troika, e os meninos depois de bem catequizados prescindiram de todos os presentes, que serão traduzidos em contribuições para instituições de solidariedade.

Não sei que natais tinham estas pessoas, nem que presentes ofereciam uns aos outros, nomeadamente aos filhos, para serem passíveis de tantos cortes e reduções, nem tão pouco o que comiam, para que uma dieta no menu represente uma tão grande diferença no seu orçamento. Suspeito antes que nervosamente confessam à comunicação social, e se calhar uns aos outros, aquilo que acham que fica bem dizer numa época de crise, ou seja, que mentem.

Espero bem que sim, porque já basta o que basta, sem que passe a ideia de que temos de agir como se estivéssemos num velório, e a alegria pagasse imposto. Gastar extravagâncias em presentes de Natal, ou inundar as crianças com tantas coisas que elas já não sabem para onde ser virar, acabando por não apreciar nada, é simplesmente falta de senso, em clima de austeridade ou de prosperidade. A dificuldade está sempre em acertar no presente com que o outro sonhou, e não em afogá-lo em embrulhos, que só revelam que não o conhecemos de lado nenhum e por isso apostámos em tudo ao mesmo tempo.

Quanto ao bacalhau, as filhoses ou as rabanadas, são tradições de um tempo em que Portugal e os portugueses eram muito mais pobres do que aquilo que são hoje. Da mesma forma que viver a celebração do nascimento de um menino-Deus que nasce num estábulo, é adorado por pastores, e vem dizer ao mundo que reis são aqueles que servem (e não os que são servidos), sem pensar nos mais pobres e nos mais frágeis, é um absurdo total.
Por isso acho que devíamos fazer um movimento em contra-corrente, pregar na lapela dos nossos casacos crachás a dizer “Eu celebro o Natal”, “Eu dou presentes de Natal”, “Eu acredito no Pai Natal”, e andar pelas ruas da cidade, na esperança de contagiar aqueles que têm medo de ser felizes, ou de mostrar que o são. Ou seja, todos aqueles para quem o Natal não é, afinal, nada.
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak, 16-12-2011
Edição: JP

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