segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Carpideiras


Luisa Castel-Branco
Liga-se a televisão em qualquer canal, ou lê-se um jornal e deparamo-nos com um coro de carpideiras. Desde dignitários da Igreja Católica, a comentadores de todas as espécies, até passando por essa nova estirpe de politólogos, todos dizem o óbvio, e cada um tem mais certezas do que o outro sobre como gerir o país.
Os mesmos que acusam os políticos de tudo o que se possa imaginar, choram de seguida com a necessidade da classe política ter uma boa imagem junto do povo.
Trespassa em todos os comentários um desprezo profundo aos ricos, o que quer que seja que esta definição abrange, e podemos ouvir afirmações como: «São precisos muitos pobres para fazerem um rico» (Frei Fernando Ventura in SIC Noticias)!
Falam e falam e apelam ao povo para se manifestar, abençoam as greves que ai vêm e todos esperam um futuro de motins e desacatos sociais.
O impressionante é que parece não termos apreendido absolutamente nada com o exemplo da Grécia, a dita de quem andamos a fugir a comparações a sete pés!
Estes mesmos comentadores não alertaram os portugueses (salvo raras excepções) para o comportamento irresponsável para dizer o mínimo do Partido Socialista, esse sim, que nos colocou nesta situação.
Mas afinal o que é que querem? O país ficou sem dinheiro e hoje temos de viver da ajuda da Europa. Bons ou maus decisores, goste-se ou não, a verdade é que não temos condições para fazer mais nada senão aquilo que está acordado com a Troika.
Querem greves e motins? Depois queixem-se!
Título e Texto: Luisa Castel-Branco, Destak, 07-11-2011

Carpideiras, pormenor de uma pintura mural do Túmulo de Ramosé, XVIII dinastia. Têmpera sobre estuque.
"Carpideiras faziam parte de todos os enterros no Egipto, celebrados como devia ser. Choravam o morto e tentavam acordá-lo do sono da morte com altos gritos. Os cabelos estão soltos e os seios nus por cima de vestidos esfregados com cinza azul-acinzentada. As lágrimas rolam pelos rostos abaixo. Os braços erguidos são uma forma tradicional de simbolizar o luto e o desespero. O artista dispô-las como um grupo compacto com os corpos paralelos. As cabeças estão dispostas em três níveis. Conseguiu evitar a monotonia fazendo pequenas variações: uma fila de figuras de perfil muito juntas, uma delas a olhar para trás, e uma rapariga adolescente despida: a cena está pintada sobre um fundo branco e o artista não usou muita cor em toda ela. Os vestidos são azul-claros, o cabelo é preto, e os rostos amarelo-pálido.
Estas mulheres em pranto fazem parte de um cortejo fúnebre que decora uma das paredes do túmulo de Ramosé, um vizir do reinado do faraó Amen-hotep III."
Imagem: Cíntia Pontes, Porto, Portugal, no blogue “Um olhar sobre o mundo das Artes

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