João César das Neves
Qual é a causa desta atitude
infecto-contagiosa? Muitos dizem que é a má qualidade dos políticos. Esta tese
constitui aliás a explicação mais comum para a crise. Mas não faz sentido.
Primeiro porque os actuais dirigentes não são muito diferentes dos das épocas
de prosperidade. Obama não é pior que Kennedy, Sarkozy que Giscard, Passos que
Soares, até Berlusconi que Mussolini. Depois, porque, ao contrário de tempos
antigos, os responsáveis que temos foram escolhidos por nós. São consequência,
não causa.
A origem da desconfiança é o
esquecimento de um princípio muito simples, absolutamente evidente, que sempre
se ensinou às crianças, mas hoje foi invertido. Desde pequeno aprendi a enorme
dívida que tenho para com a sociedade onde vivo. Aquilo que ela me dá, a todos
os níveis, é muito mais do que consigo entender. A cultura, segurança,
alimentação, infraestruturas são apenas a parte visível. Sem ela, numa ilha
deserta, viveria na miséria, se sobrevivesse. Dessa verdade sai a exigência que
eu contribua o mais que possa para a comunidade, de forma a minimizar o meu
débito. É importante estudar, trabalhar, poupar e esforçar-se, não para ganhar
o que nunca posso merecer, mas para contribuir para o povo a quem devo tudo o
que sou.
É verdade que este princípio
foi abusado por alguns, usando-o em proveito próprio. Isso inverteu a atitude e
hoje os indivíduos sentem que é a sociedade que lhes deve algo. As pessoas têm
direito que a comunidade lhes dê emprego, casa, vida próspera. Se não dá, a
culpa é dela, não nossa. Caímos numa cultura de exigência, não de cidadania, de
reivindicação, não de produção e dedicação.
A última vez que esta pandemia
de incredulidade surgiu no mundo, após a gripe espanhola em 1918, gerou ditaduras
totalitárias que quase destruíram a humanidade.
Título e Texto: João César das
Neves, Destak, 21-11-2011
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