Isabel Stilwell
Já não aguento virar as
páginas das revistas, ouvir os entrevistados na rádio e na televisão, a
repetirem variantes politicamente correctas do “Este Natal não há ofertas para
ninguém”, a que acrescentam a promessa de que lá por casa não haverá nem festa,
nem comida, nem os luxos do costume. Até há quem diga que já explicou às
crianças que este Natal, até o Pai Natal aderiu à troika, e os meninos depois
de bem catequizados prescindiram de todos os presentes, que serão traduzidos em
contribuições para instituições de solidariedade.
Não sei que natais tinham
estas pessoas, nem que presentes ofereciam uns aos outros, nomeadamente aos
filhos, para serem passíveis de tantos cortes e reduções, nem tão pouco o que
comiam, para que uma dieta no menu represente uma tão grande diferença no seu
orçamento. Suspeito antes que nervosamente confessam à comunicação social, e se
calhar uns aos outros, aquilo que acham que fica bem dizer numa época de crise,
ou seja, que mentem.
Espero bem que sim, porque já
basta o que basta, sem que passe a ideia de que temos de agir como se
estivéssemos num velório, e a alegria pagasse imposto. Gastar extravagâncias em
presentes de Natal, ou inundar as crianças com tantas coisas que elas já não
sabem para onde ser virar, acabando por não apreciar nada, é simplesmente falta
de senso, em clima de austeridade ou de prosperidade. A dificuldade está sempre
em acertar no presente com que o outro sonhou, e não em afogá-lo em embrulhos,
que só revelam que não o conhecemos de lado nenhum e por isso apostámos em tudo
ao mesmo tempo.

Por isso acho que devíamos
fazer um movimento em contra-corrente, pregar na lapela dos nossos casacos
crachás a dizer “Eu celebro o Natal”, “Eu dou presentes de Natal”, “Eu acredito
no Pai Natal”, e andar pelas ruas da cidade, na esperança de contagiar aqueles
que têm medo de ser felizes, ou de mostrar que o são. Ou seja, todos aqueles
para quem o Natal não é, afinal, nada.
Título e Texto: Isabel
Stilwell, Destak, 16-12-2011
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