quinta-feira, 19 de julho de 2012

Espanha tem lições a aprender com Portugal na gestão da crise

Jornal de Negócios
A Reuters falou com economistas e investidores e chegou à conclusão de que o Governo espanhol deveria aprender pelo menos uma lição com Vítor Gaspar e uma outra com Passos Coelho.
Passos e Rajoy, foto: Reuters
A centralidade e autoridade de que Vítor Gaspar dispõe no Governo português e o “mantra neoliberal” que consistentemente é entoado pelo primeiro-ministro são ensinamentos que Espanha devia retirar do vizinho mais pequeno, que já leva um ano de intervenção externa.
A conclusão é da Reuters, que ontem divulgou um longo texto de análise intitulado “Líder de Espanha podia aprender algumas lições de Portugal”, depois de constatar que nem a promessa europeia de ajuda à banca, nem o novo pacote de austeridade, deram alento aos investidores, que continuam a cobrar prémios de risco crescentes para financiar o Estado espanhol.
“O primeiro-ministro Mariano Rajoy poderia aprender algumas lições de comunicação de Portugal numa altura em que está a batalhar para restaurar a confiança nas finanças públicas de Madrid e evitar um resgate internacional”, escreve Reuters, ao fazer o paralelo entre a actuação dos dois Governos.
Enquanto Passos Coelho e os seus ministros adoptaram “um duro mantra neo-liberal”, Rajoy ensaiou um “discurso de desafio, nacionalista”, enviando mensagens “contraditórias” sobre o que era relevante para os mercados: a situação do défice; o que ia fazer com as regiões que não cumprem os limites de despesa; e o real estado da banca, em particular das antigas cajas.
“Mariano Rajoy fez coisas certas. Quando se olha para a substância, foi até longe nas reformas, mas é verdade que a comunicações nem sempre foi um sucesso” o que “teve consequências nos mercados”, diz Gilles Moec, economista no Deutsche Bank.

Portugal favorecido pela percepção de que há um rumo e uma só linha de comando

Passos Coelho, que alinha politicamente à direita com Rajoy, ganhou a reputação de seguir com “obediência rigorosa as dolorosas receitas impostas pela Alemanha”. Conjuntamente com Vítor Gaspar e outros ministros, essa mensagem tem sido levada aos mercados, por vezes em encontros “individuais com grandes investidores na Alemanha, China e Estados Unidos”, escreve a agência noticiosa que disputa com a Bloomberg a liderança mundial na informação económica.
A Reuters cita ainda um “senior buy-side”, um gestor de activos possivelmente de um grande fundo de investimento, que esteve com os dois Governos e não tem dúvida de que Portugal tem sido mais eficiente a passar a sua mensagem. "O Governo português tem sido melhor a comunicar a sua estratégia aos investidores de forma consistente e credível”. “Os responsáveis mais seniores são articulados e convincentes e parecem estar genuinamente comprometidos com a implementação do programa de reformas”, acrescenta.
Na comparação Madrid-Lisboa, a capital portuguesa leva ainda melhor nota dos investidores pela centralidade e autoridade incontestadas que percebem no ministro das Finanças, e no inteiro apoio que lhe é prestado pelo primeiro-ministro.
Já em Espanha, a linhas de responsabilidade são muito fragmentadas. Escreve a Reuters que os investidores não sabem a quem dar ouvidos, porque não se percebe bem onde começa e acaba o campo de actuação de Luis de Guindos, ministro das Finanças, e de Cristobal Monto, ministro do Orçamento. Ministros que ficaram com o ónus de explicar o rumo ziguezagueante de Rajoy, que começou por prometer disciplina orçamental, para depois flexibilixar unilateralmente a meta do défice, enquanto pedia, em vão, ao BCE para continuar a intervir no mercado de dívida para acalmar a subida das "yields".
Título e Texto: Jornal de Negócios, 19-7-2012, 13h31
 
Leia, na íntegra, a análise da Reuters que encontra no comportamento de Portugal soluções para alguns desafios espanhóis:
Tradução de Ana Pina para o Diário Económico

Um comentário:

  1. Será que vai sair nos telejornais noturnos?...
    Hum... só se for voando, well... ;)

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