domingo, 1 de janeiro de 2017

O homem que está a mais (3)

Carlos Abreu Amorim

Tem-se agravado, nos últimos meses, uma feroz campanha mediática que nos pretende convencer, à pressão, que Pedro Passos Coelho (PPC) não tem futuro político e que a sua presença na liderança do PSD empobrece as hipóteses de regresso ao poder da atual Oposição.


Tenho duas dificuldades iniciais com esta tese tão propalada:

1. Primeiro, nada disto é novo. Passos Coelho, dizia-se, restava sem futuro logo em 2010, quando chegou à liderança do PSD. Muitos dos inteligentes de serviço (ancorados em sondagens igualzinhas às de agora) juravam que PPC não conseguiria vencer o PS de Sócrates e que nunca seria primeiro-ministro.

Depois, em 2011, quando PPC, já primeiro-ministro, teve de aplicar aquilo que os socialistas haviam negociado com a Troika, os mesmos asseguravam que o seu Governo nunca chegaria ao fim da Legislatura. Mas chegou, a crise foi vencida e Portugal começou a crescer. Contudo, a berraria acentuou-se após António Costa ter esfaqueado Seguro: a partir daí, Costa foi ungido por tudo o que se crê ser pensante no nosso indigenato político como o vencedor antecipado das Legislativas de 2015. Recordo, divertido, ouvir gente muito diplomada a aconselhar-me no sentido de "se livrarem do Passos e entregarem o PSD a um novo líder antes das eleições para termos hipóteses de as vencer" - novamente, obedientes e venerandas, as infalíveis sondagens que por cá se vão gerando afiançavam a vitória sem rebuço do PS de Costa. Enganaram-se outra vez!

Agora, quando os ouço trautear exatamente a mesma melodia, quando vejo os mesmos a ensaiar novamente a certificação da história que já provou ser falsa, tantas vezes, não consigo deixar de me espantar com as doses assombrosas de fé que são necessárias para que esta gente continue a tentar conformar a realidade a lindas ideias de que julgam dispor...


2. O segundo grande óbice que tenho quanto à teoria que estão a tentar enfiar pelas goelas abaixo dos portugueses é que, quanto a mim, o grande objetivo estratégico do PS de Costa (e não só), hoje, consiste em provocar uma crise no PSD e afastar Passos Coelho da liderança - ao contrário daquilo que constantemente afirmam em público!

PPC já os derrotou por duas vezes quando os socialistas estavam convencidos da inevitabilidade da sua própria vitória.

Ao contrário da canzoada a soldo que quotidianamente exalta a Geringonça nos media, Costa e os seus sabem bem que quem os venceu por duas vezes pode muito bem voltar a fazê-lo uma terceira. Acresce que Passos Coelho não muda o discurso nem o estilo. Não diz agora o contrário daquilo que defendeu nos últimos anos. Permanece fiel ao que é e ao que acredita. Nada pode provocar maior terror aos que veem a política como uma sucessão de manobras e piruetas do que a consistência perene daqueles que sabem qual é o seu lugar e onde estão as suas prioridades e não aceitam trocá-las perante as campanhas das agências de comunicação e a espuma das sondagens dos dias. Um artista de circo político, como Costa, sabe bem que o seu contraste, Passos Coelho, pode não ser tão castiço nem vivaço no imediato mas que estará sempre lá, onde é preciso, na hora exata de vencer o voto popular e ser chamado às responsabilidades da governação.

Se e quando Costa pressentir que o PSD está realmente dividido (e estamos muito, muito, longe disso), não tenho dúvidas, será esse o momento que escolherá para provocar uma crise e pedir Legislativas antecipadas. Esse é o desígnio estratégico dos socialistas: usar o seu poder mediático e algumas eternas ambições pessoais para tentar provocar uma crise de liderança no PSD que possa catapultar Costa para uma maioria absoluta no curto prazo.

Ou seja, a teoria que reza o fim próximo de Passos Coelho é antiga, está em voga desde 2010 - e falhou sempre. Por outro lado, aqueles que exigem uma mudança de líder no PSD estão a cumprir, ponto por ponto, alguns sem o saberem, os ditames estratégicos de Costa que só espera por essa oportunidade para se solidificar no poder.

Não terão sucesso.
Texto: Carlos Abreu Amorim, Facebook, 1-1-2017

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