Senhor Editor,
Envio um novo texto, que apesar de ser sobre um assunto local, penso
ser de utilidade pública e útil em qualquer cidade do país, para que analise
sua possibilidade de publicação.
Obrigado.
João Bosco Leal
Ontem um incêndio no nono
andar de um edifício na cidade de Campo Grande, MS, provocou a morte, por
intoxicação, de um jovem de 24 anos que inalou muita fumaça tentando descer as
escadas do prédio.
Querendo entender melhor o
assunto, me dirigi a uma das sedes do Corpo de Bombeiros para conhecer seus
equipamentos e conversei, por telefone, com o Coronel responsável geral dos
bombeiros, que educadamente me deu uma verdadeira aula sobre ações preventivas
e de segurança contra incêndio, mostrando inclusive que essa tragédia poderia
ter sido evitada se os moradores tivessem mais orientações de como proceder
nessa situação.
Todo projeto, para receber o
alvará de construção, precisa seguir uma série de orientações técnicas
fornecidas pelos bombeiros, como a distribuição de hidrantes, as mangueiras que
disponibilizem água, iluminação de emergência e uma escada chamada
“enclausurada”, onde não entre fogo ou fumaça, por possuir as portas
resistentes ao fogo e as janelas de iluminação vedadas e trancadas.
O prédio onde ocorreu a
tragédia havia passado por uma vistoria do Corpo de Bombeiros quinze dias antes
e nenhuma irregularidade foi encontrada. Os 3.000 litros de água utilizados
para apagar o incêndio foram provenientes da caixa existente na cobertura do
prédio, o que, conforme o Coronel, agilizou e facilitou o trabalho dos
bombeiros. Mas, então, como explicar uma morte?
Por falta de informação, no
andar onde ocorreu o incêndio, objetos foram colocados de forma a manter aberta
a porta contra incêndio que dava acesso às escadas, o que provocou a rápida
propagação da fumaça pela escadaria, exatamente aquela que deveria possibilitar
a saída das pessoas em segurança, forçando os bombeiros a quebrar os vidros das
janelas para dar vazão à fumaça.
A quantidade de fuligem
depositada no chão das escadarias, mostrada em fotos divulgadas pela imprensa,
é de impressionar o mais leigo dos seres nesse assunto, mas certamente
suficiente para intoxicar e matar não só o jovem que faleceu, mas todos os que
por ela tentaram descer.
Essa desinformação da
população é de responsabilidade do poder público, que deveria proporcionar a
todo morador de prédios esse tipo de orientação, talvez até obrigatória, com
simulações, como as oferecidas em diversos países do mundo contra incêndios e
terremotos, que aqui é gratuitamente oferecida pelos bombeiros.
Apesar de o Coronel haver me
explicado que ações preventivas são as mais importantes contra incêndios,
buscando mais informações, acabei sabendo, e ele me confirmou, que Mato Grosso
do Sul possui um único veículo equipado com uma auto-escada mecânica. Isso
mesmo, o único não só na capital, mas em todo o estado.
É um veículo de 1974, com 37
anos, que possui uma escada com capacidade de alongamento de 30 metros, o
suficiente para atingir a altura aproximada de um apartamento no 9º andar de um
edifício – exatamente onde ocorreu este incêndio -, desde que o caminhão que a
sustente esteja na base do prédio.
Com o se explica o fato de uma
capital, com mais de setecentos mil habitantes e centenas de prédios com
alturas diversas acima dos 50 metros, só possuir um caminhão com escadas
mecânicas e assim mesmo com capacidade máxima de 30 metros? Com as escadas
tomadas pela fumaça, penso que uma das possibilidades talvez fosse a retirada
de pessoas mais próximas do fogo por elas, mas como, se elas não atingem altura
suficiente?
Alvarás de construção de
prédios são liberados quase que semanalmente, tamanho o progresso da cidade,
mas nenhuma exigência de orientação aos seus futuros moradores é feita.
Independentemente de quem seria a responsabilidade, penso que o Prefeito
Municipal da Capital de Mato Grosso do Sul deve imediatas explicações à
sociedade sobre sua insegurança em casos de incêndio, ou vamos esperar uma
tragédia ainda maior para orientar melhor a população e fornecer mais
equipamentos aos bombeiros?
O Ministério Público precisa se manifestar imediatamente, exigindo
explicações dos diversos órgãos do Poder Executivo e, se necessário, denunciando
criminalmente os responsáveis.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal
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