Carlos Lúcio Gontijo
Não é fácil ser escritor ou
pequeno escriba independente, pois as pessoas que quase nada entendem do setor
literário cobram o mesmo sucesso junto à mídia obtido pelos autores que contam
com a chancela de grandes editoras e todos os tons de cinza, cabanas e
vastidões promocionais de que a maciça divulgação é capaz de realizar.
Autor independente não é mesmo
muito conhecido, mas nem por isso é menos importante, uma vez que consegue
formar um seleto grupo de admiradores e leitores, que por sua vez são
conduzidos à sensibilização para o hábito de leitura, tornando-se consumidores
dispostos a buscar os autores renomados. Ou seja, os escritores e poetas
independentes são indispensáveis à cadeia literária, ainda que distantes das
prateleiras iluminadas de majestosas livrarias, que são bastante escassas
Brasil afora, existindo muitas cidades que sequer as possuem.
Outro dia citamos o caso do
músico Gabriel Guedes, filho do importante compositor mineiro Beto Guedes, que
a um dia de show de lançamento de CD havia vendido tão-somente alguns ingressos
para uma casa de 800 lugares, em Belo Horizonte. Infelizmente, os compositores
brasileiros estão enfrentando o inarredável problema há muito experimentado
pelos artistas da arte da palavra escrita, que não contam com editoras, assim como
agora os músicos não dispõem de gravadoras.
Este ano completamos 35 anos
de atividade no mundo literário. Lançamos nosso primeiro livro (Ventre do
Mundo) em 1977 e ao longo de todo esse tempo publicamos 14 livros, o que
desaguará em 16, pois pretendemos lançar dois livros ainda neste ano. Isto
ocorrendo, estaremos apresentando uma média de pelo menos um livro a cada dois
anos, desde o lançamento do primeiro livro.
Os que se revestem de
autoridade nos pequenos municípios não se podem dar ao direito de desconhecer
os que fazem qualquer arte em sua cidade, pois o desapreço pela cultura não é
permitido a quem ocupa ou busca o exercício de cargo público. Não procurar
conhecer nem apoiar os valores intelectuais e artísticos da localidade em que
se vive é o mesmo que fazer um convite ao avanço da violência e das drogas,
pois a população precisa vivenciar a sensibilização que a poesia, a literatura,
as artes plásticas, o teatro, o artesanato, a música e a dança são capazes de
promover e incutir nas crianças, jovens e adultos.
Definitivamente, não contamos
com política cultural para valer no Brasil. O que temos é um arremedo de normas
que somente servem aos grandes nomes do mundo artístico, que encontram toda
facilidade para convencer as empresas mais pujantes a apoiarem seus projetos.
Assim é que a famigerada Lei Rouanet acolhe os artistas renomados nos grandes
centros comerciais e industriais, ao passo que nos pequenos municípios sequer
tem condições de existir, pois inexiste empresa disposta a investir em cultura.
Floresce em nós a permanente
consciência de que, sem humildade, não há como carregar o frágil andor da
poesia e da literatura, que sobrevive em meio a caudaloso mar de ignorância,
alimentado por falta de efetivo incentivo à leitura, que passa pela valorização,
em cada cidade, por menor que seja, de seus autores, que pela proximidade com a
comunidade poderiam desmitificar o exercício da arte da palavra, proporcionando
aos leitores a oportunidade de ler enredos que lhe dizem respeito e dentro de
seu linguajar. É preciso pensar com extrema responsabilidade didática nas
primeiras leituras. Não é mais possível aceitar a realidade que nos aponta para
o fato de que muitos jovens estão lendo o primeiro livro por ocasião da luta
por vaga em ensino universitário. Ou seja, muitos jovens estão concluindo o
ensino médio sem nunca ter lido um livro.
Então, fica aí o recado aos
senhores políticos, às autoridades constituídas e demais figuras de expressão
da sociedade brasileira: prestigiem os eventos culturais, compareçam a
lançamentos de livros e se façam presentes às manifestações folclóricas da
população, nem que seja por simples figuração, pois sua ausência é
injustificável e, mais que isso, imperdoável.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e
jornalista, Secretário Municipal de Cultura de Santo Antônio do Monte,
15-01-2013
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