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PREPAREM-SE PARA O XISTO BETUMINOSO!
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Francisco Vianna
Na medida em que a exploração
do gás de xisto betuminoso se torna mais consistente nos EUA, o preço dessa
mercadoria lá já está a custar 20% do que é cobrado aqui no Brasil. Isso
reduziu a competitividade nacional e afastou investimentos de indústrias de
alto consumo energético, como a de vidro, de cerâmica e a petroquímica.
O Brasil começa a perder – ou
adiar – de forma crescente muitos bilhões de dólares em investimentos em função
da concorrência de mercado do gás de xisto americano com o gás natural
brasileiro, que em três anos passou a valer, o primeiro, algo em torno de 20%
do segundo. Com isso, as indústrias cujos custos operacionais dependem em até
35% do gás, como as fabricantes de cerâmica e vidro, petroquímica e química,
entre outras, perdem rapidamente competitividade, aumentam importações buscam
investir no exterior em função da queda de investimento externo no setor e no
país. Em função disso, até setores manufatureiros tradicionais, como o de
brinquedos, se ressentem desses efeitos.
O superintendente da
Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (ANFACER),
Antonio Carlos Kieling, explica que “uma fatia importante do setor está com
seus fornos desligados. Estamos perdendo competitividade da noite para o dia e
o risco é da produção nacional ser substituída pela importada".
Kieling disse também que “as
importações do setor explodiram num aumento de 9.000% em apenas sete anos,
chegando a movimentar 220 milhões de dólares ao ano, de forma crescente, uma
vez que 25% dos seus custos de produção vêm do consumo de gás”.
A perda de competitividade é
anunciada em vários setores, mas tange com mais vigor as indústrias químicas e
petroquímicas. Empresas como Braskem, Unigel e Dow Chemical figuram entre as
que decidiram congelar seus programados investimentos de bilhões de dólares no
Brasil, com parte desses recursos sendo direcionada para o parque industrial
americano e canadense.
Empresas transnacionais decidiram suspender os seus planos de expansão no Brasil desde há pouco mais de três anos. A AGC vidros, por exemplo, que investiu cerca de 400 milhões de dólares numa nova fábrica a ser inaugurada em Guaratinguetá (SP) neste ano para produção de vidro plano, espelhos e vidro automotivo, desistiu de dobrar a sua capacidade de produção com o investimento de mais 400 milhões de dólares, por tempo indeterminado. O CEO da AGC Vidros do Brasil, David Cappellino, disse que “a multinacional tem unidades nos Estados Unidos, nos Emirados Árabes, Arábia Saudita e no Egito, onde o preço do gás é 20% do cobrado no Brasil, e passaram a ganhar preferência na destinação de recursos de capital, e, com certeza, o preço do gás tornou a decisão de investir no Brasil muito mais difícil".
A CEBRACE, outra transnacional
do vidro, que tinha planejado investir até cerca de 500 milhões de dólares para
transformar o Brasil numa plataforma de exportação de vidros para a América
Latina, suspendeu novas decisões sobre tais investimentos no Brasil e teve sua
atenção voltada para países como a Argentina, o Chile, e a Colômbia. Da mesma
forma, a GUARDIAN, outra dessas transnacionais, passou a rever sua carteira de
investimentos, uma vez que, hoje, o setor já importa 35% do vidro plano, em
comparação com os 10% que importava em 2007.
Lucien Belmonte,
superintendente da associação setorial ABIVIDRO se declara progressivamente
preocupada com a situação desse setor industrial e vaticina: “Não havendo novos
investimentos de peso, o futuro depende de decisões a serem tomadas agora.
Quero ver como o setor vai estar lá para 2018". No grosso modo, poderá
haver uma perda de até US$ 3 bilhões na década pela redução de competitividade
acarretada pelo preço do gás, o que representa um processo importante de
desindustrialização do país. “Estamos em marcha à ré”, diz Belmonte.
Nos últimos cinco anos, são os
próprios americanos que têm nos avisado que devemos nos preparar para “a era
americana do xisto betuminoso”, que não apenas fará com que os EUA deixem de
importar combustíveis fósseis, mas se torne também exportadores da mercadoria. Como
sempre, foi a inovação tecnológica do “fracting” do xisto que está a produzir
toda essa reviravolta no mercado, uma vez que as jazidas naturais desse
material são muito mais abundantes nos países de grande extensão territorial,
como Canadá, EUA, Brasil, Rússia, China, do que as de petróleo líquido.
Neste curto espaço de tempo,
os EUA passaram da situação de ‘grande importador de gás’ para a de ‘potencial
exportador’, num quadro geoeconômico totalmente imprevisível até o final da
década passada. A enorme quantidade de gás disponibilizado no mercado fez com
que o gás americano caísse de 9 dólares, em 2008, para 1,82 dólares por milhão
de BTU (unidade térmica britânica, a referência para o mercado de gás) em abril
de 2012. Hoje, o preço do gás americano custa em torno de US$ 2,5 a US$ 3 por
milhão/BTUs. No Brasil o produto está cerca de cinco vezes mais caro e custa
entre US$ 12 e US$ 16 por milhão/BTUs. Na Europa, o preço se situa entre US$ 8
e US$ 10. Alguns agentes do próprio governo brasileiro reconhecem que “quem
compete no mercado internacional e tem sua produção no Brasil está a reclamar
de Brasília uma nova política para o setor".
Soma-se a esse efeito, mais
intenso para indústrias que usam o gás como matéria-prima, o pífio investimento
estatal em infraestrutura e está montado o ‘circo dos horrores’ para quem
fabrica fertilizantes, fornos e máquinas no país, tornando progressivamente
caros todos os insumos agropecuários e para a maior parte do parque industrial
brasileiro.
Não é apenas a mentalidade
socialista dos últimos governos tupiniquins, mas também a incompetência, que
estão a manter o país derrapando na incúria e na ineficiência de seus
pseudogestores. Como o quadro político brasileiro e a mentalidade que o
sustenta é a mesma vigente na maioria dos países sulamericanos que estão em
queda livre em direção ao caos, como Argentina, Bolívia, Equador, e Venezuela,
o horizonte brasileiro, dado ao seu tamanho e importância, está toldado de
pesadas nuvens escuras...
Título e Texto: Francisco Vianna, 13-05-2013
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